E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar.
É (mais) uma história de amor platónico, que, neste caso, decorre na década de 60 em Hong Kong, narrando a relação de amizade e amor entre um jornalista (uma vez mais, Tony Leung, justamente premiado com a Palma de Ouro para Melhor Ator no Festival de Cannes) e uma secretária (interpretada pela lindíssima e etérea Maggie Cheung). O facto de serem casados (embora infelizes) e as amarras das convenções sociais, leva-os a nunca concretizarem o desejo que sentem e a genuína atração que os aproxima.
Trata-se de um filme belíssimo, deslumbrante de cor e planos-sequência de cortar a respiração. E aquele final, meu Deus! É a mais sublime poesia de amor transfigurada em filme e um dos melhores de sempre, o que não é pouco.
História de amor entre dois homens, mas que Wong Kar Wai filma livre de qualquer preocupação panfletária ou ideológica, como se se tratasse da mais banal paixão de amor heterossexual. É uma história de amor, ponto.
Com Felizes Juntos, Wong Kar Wai saiu, pela primeira vez, do seu território geográfico, colocando grande parte da ação na Argentina. No entanto, desenganem-se aqueles que julgam que essa mudança acarretou igualmente uma transformação estética no seu modo de olhar os espaços (interiores e exteriores). Antes pelo contrário, Felizes Juntos desenvolve e apura o estilo de construção fílmica que o realizador de Hong Kong irá, definitivamente, materializar na obra seguinte (Disponível Para Amar).
A título de exemplo, veja-se a forma como Wong Kar Wai filma as cataratas de Iguaçu: com a mesma asfixia e similar sensação de vertigem com que, nas películas anteriores, captava o elã da grande cidade. E, depois, há o espetáculo da entrega total de dois atores extraordinários: Tony Leung e Leslie Cheung.
Anjos Caídospodia bem ser uma sequela de Chungking Express. Entenda-se: como deixei explícito na recensão anterior, Chungking Express está muito bem assim. Todavia, também se persegue em Anjos Caídos uma estrutura díptica, embora, neste caso, as duas histórias decorram em simultâneo. Em boa verdade, o guião deste filme fazia parte da obra realizada em 1994.
São dois contos desencantados de amor platónico: duas histórias de (des)encontros, por vezes trágicos, à semelhança das duas primeiras obras de Wong Kar Wai, que aqui desenvolve a sua estética única (câmara sôfrega, ritmo frenético, humor agridoce, jukeboxes a acentuar os estados de alma dos protagonistas, a passagem do tempo assinalada em relógios públicos, a urbe claustrofóbica, a prevalência da noite na vida dos personagens).
As cenas em que uma das personagens deambula de mota, à noite, pela cidade são antológicas. E aquele final, embalado pela canção Only You, dos Flying Pickets, é inesquecível.
Em 1994, após o desgaste provocado pela atribulada produção do épico de artes marciais As Cinzas do Tempo, Wong Kar Wai assina a sua primeira obra-prima: Chungking Express. Neste filme, o cineasta de Hong Kong apura a escrita e o sentido estético conduzindo-nos por duas histórias de dois polícias que, em momentos diferentes, frequentam o mesmo snack-bar e desabafam desgostos amorosos com o proprietário do estabelecimento. São duas pequenas histórias de amor que, na sua aparente simplicidade, se nos afiguram hoje como um retrato urbano-depressivo da última década do século XX.
Passa-se quase tudo em cenários noturnos e a um ritmo feérico e vertiginoso, embora a segunda história seja mais luminosa e divertida do que a primeira (mais negra e pessimista). Trata-se de um jogo de luz e sombras (não necessariamente por esta ordem) que revela um amor incondicional pelas personagens, mesmo quando elas caminham, de modo ambíguo, entre o bem e o mal. Mas o amor maior de Wong Kar Wai é, em boa verdade, o cinema na sua procura permanente em fazer algo de novo da sétima arte, seja na escolha do melhor enquadramento, seja na precisão do trabalho de montagem.
Como é que um filme pode ser, ao mesmo tempo, tão claustrofóbico e tão (desesperadamente) romântico? Chungking Express mostra-nos essa possibilidade. Que fique claro, sobretudo para quem contactar com esta obra magnífica pela primeira vez: o que se passou aqui foi uma autêntica revolução estética, uma nova nouvelle vague, desta vez em Hong Kong e com um nome que viria a tornar-se incontornável: Wong Kar Wai. Um artista enorme!
Hong Kong, 1960. Um homem entra num café, compra
uma bebida fresca e propõe à empregada tornarem-se “amigos de um minuto”. Ela
acaba por se apaixonar perdidamente por ele; um amor não correspondido porque aquele
homem, além de se envolver com outra mulher, decide partir para as Filipinas a fim
de conhecer a sua mãe biológica.
Esta história cruza-se com outra: a de um
polícia que sonha ser marinheiro. Mas, como sempre, o cinema de Wong Kar Wai
vale pelo todo, pelo que o espectador deve disponibilizar-se para entrar nos
seus filmes como se desembocasse numa outra realidade: a das histórias que só
ganham beleza sob o olhar do cineasta de Hong Kong.
Dias Selvagens é uma obra mais difícil do que a anterior (Ao Sabor da Ambição),
mas também mais minuciosa e precisa, preparando o caminho para o rigor formal
de Disponível Para Amar. Os movimentos de câmara são sempre
surpreendentes e necessários para o pathos narrativo; os planos fixos
são, só por si, obras de arte. Um filme que arrisca permanentemente, mas que
constitui um salto em frente no amadurecimento do cinema de Wong Kar Wai.
No plano de abertura de Ao Sabor da Ambição
(no original, As Tears Go By), primeira obra de Wong Kar Wai, vemos, no
lado esquerdo, uma cidade, à noite, iluminada artificialmente (os néons que se
revelarão tão característicos do cinema urbano do realizador de Hong Kong) e o
trânsito quase claustrofóbico, e, no lado direito, um conjunto
geométrico de ecrãs de televisão que mostram um céu carregado de nuvens. Num só
plano, nos primeiros segundos, estão lançados os traços modelares dos
filmes de Wong Kar Wai: a precisão matemática de uma estética que não é mero
adorno, mas antes complemento emocional de histórias de amor febril em paisagens urbanas asfixiantes.
Logo no seu primeiro opus (sim, a música ocupa
um lugar central na filmografia deste cineasta), Kar Wai mostra vontade em
fazer um cinema simultaneamente cerebral e instintivo, delirantemente romântico
e arrebatadamente trágico, revelando uma paixão pela composição de imagens e
pelo poder sedutor do cinema.
Convém também notar que Ao Sabor da Ambição não deixa de ser um filme ingénuo na crença de
que o espectador se deixará levar por esta variação de Os Cavaleiros do
Asfalto, de Martin Scorsese, tal como o autor do argumento (o próprio Wong
Kar Wai), mas, embora ainda não esteja à altura de obras posteriores, como Chungking
Express, é, ainda assim, tão encantador hoje como em 1988.
Numa altura em que tantos, nos meios de comunicação social, nas escolas e universidades, e até a maioria dos governantes (tanto à esquerda como à direita), exaltam as vantagens e virtudes da meritocracia, Michael J. Sandel convida-nos a pensar seriamente sobre se deve ser esse o caminho a seguir no contexto das democracias modernas.
Em A Tirania do Mérito, Sandel advoga outra forma de pensar o sucesso, mais atenta ao papel da sorte, mais de acordo com a ética da humildade e preocupada com o bem comum. Como ponto de partida, o filósofo norte-americano desconstrói e confronta alguns dos discursos políticos e filosóficos de referência dos últimos cem anos, mostrando como a insistência na justeza da meritocracia conduziu as democracias ocidentais, já em pleno século XXI, para o ressurgimento de partidos populistas, que mais não são do que a resposta à arrogância dos discursos liberais e libertistas que criaram a ilusão de que, uma vez garantida a igualdade de oportunidades (como se tal fosse possível!), qualquer indivíduo pode ascender socialmente, e fomentaram a crescente vaga de ressentimento em todos aqueles (sobretudo, os mais pobres) que foram deixados para trás pela globalização e pela ditadura dos mercados. Temos, portanto, que repensar o bem comum e o valor social do trabalho.
A Quetzal tem-nos oferecido o privilégio de ter fácil acesso à obra literária da dramaturga e atriz francesa Yasmina Reza. A leitura de Felizes os Felizes, já há alguns anos, deixou-me a memória de algumas horas comoventes (no seu realismo tão próximo das vivências do leitor) e bem divertidas (no seu humor tão direto quanto subtil).
O Meu Irmão Serge é a obra mais recente de Yasmina Reza publicada em Portugal. O livro acompanha a relação entre três irmãos oriundos de uma família judaica - os Poppers -, todos já na meia-idade, que, por influência da jovem filha de um deles, decidem visitar o campo de concentração de Auschwitz. Serge, personagem truculenta, impulsiva e incorrigível, é o irmão mais velho, mulherengo e hipocondríaco; Nana é a irmã do meio, outrora vista como a mais inteligente da família e, previsivelmente, destinada a um futuro glorioso, mas que acaba condicionada pelo casamento com um esquerdista espanhol, trabalhador precário e sem recursos financeiros; Jean, o irmão mais novo, é o narrador, aquele a quem os irmãos mais velhos nunca prestaram particular atenção, embora seja ele a cola que une e religa os irmãos.
Sempre com apontamentos humorísticos (até porque Reza lembra o leitor do facto de a vida ser demasiado breve para se levar demasiado a sério) - de resto, tal como acontece em Felizes os Felizes e Babilónia, obras precedentes de Yasmina Reza -, a história dos Poppers funciona como um espelho da condição humana: como lidamos com as relações familiares, o envelhecimento, a memória do passado (e até com a própria memória histórica) e a morte.
Para quem não conhece a autora, garanto que a descoberta vale bem a pena.
Na semana em que iremos passar à hora de inverno, e em pleno mês de outubro, nada como escutarmos um disco pensado, precisamente, como banda sonora para o outono. Trata-se de música de câmara com harmonias eletrónicas que traduzem a imagética desta estação do ano em paisagens sonoras executadas com a mestria própria de dois compositores gigantes, oriundos do rock progressivo e da música clássica. October Is Marigold deve ser fruído do princípio ao fim.
Banda com quase quatro décadas de percurso artístico e criativo, os a-ha ficaram, irreversivelmente, marcados pelo hit Take On Me, canção que, em boa verdade, abria um álbum - Hunting High and Low (1985), de seu nome - que estava cheio de melodias pop bem urdidas e quase todas mais interessantes do que aquele single.
Uma dezena de álbuns de originais depois, o grupo norueguês continua em boa forma, tendo lançado esta semana um disco orquestral, pleno de canções compostas com o cuidado e o rigor próprios da maturidade que os quarenta anos de experiência musical tornam possível. Convém sublinhar que True North (assim se chama o LP) é um disco pop, sim, mas contra a corrente, avesso a modas ou a sonoridades mais modernas, optando por harmonias intemporais, muito graças à colaboração com a Orquestra Filarmónica do Árctico.
Carta de amor à natureza, True North é uma obra maior do que a soma das suas partes. Um dos discos do ano - vale a pena ouvi-lo do princípio ao fim.
Para
muitos, Annie Ernaux talvez seja maior descoberta literária de 2022. No entanto,
apesar da postura discreta, a escritora já há muito que é, sobretudo em França,
um nome prestigiado das letras. A sua obra é pioneira num registo que vem sendo
designado como autoficção, embora na entrevista que deu ao Expresso
(publicada na edição do último fim de semana) a autora considere mais ajustado
o termo cru e direto ao osso – biografia.
Um
dos seus livros mais conhecidos é, precisamente, Uma Paixão Simples (editada em Portugal pela Livros do Brasil),
que, em 2020, foi adaptado ao grande ecrã por Danielle Arbid, tendo obtido a
honra de integrar a seleção oficial de Festival de Cannes desse ano.
Se
quisermos identificar um bom exemplo de narrativas que, em mãos capazes,
funcionam da melhor forma em livro mas não em cinema, Uma Paixão Simples
será uma escolha adequada.
Conta
a história de uma professora universitária que se envolve romanticamente com um
enigmático diplomata russo (e, já agora, fervoroso admirador de Putin).
Imagino
que um mestre como Wong Kar Wai faria de tal material narrativo (que, como o
título indica, é bem simples) um grande melodrama, mas não é o cineasta de
Hong Kong quem quer. Por isso, enquanto cinéfilos, ficaremos infinitamente
melhor servidos revendo a obra seminal de Kar Wai, Disponível Para Amar.
Uma
nota positiva para o bom trabalho dos atores e para a excelente banda sonora. Contudo,
estes são pormenores que não bastam para salvar o filme do imenso vazio a que
se entrega.
Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e da Habitação (e putativo futuro primeiro-ministro), atribuiu dinheiros públicos a uma empresa da sua família.
Manuel Pizarro, ministro da Saúde, é casado com a bastonária da Ordem dos Nutricionistas e, até há uns dias, detinha uma empresa na área da Saúde.
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, concedeu milhares de euros em fundos europeus a duas empresas do marido.
É a maioria socialista a reforçar que este é mesmo o País rosa.
Adaptação
do romance (inspirado na vida de Marilyn Monroe) de Joyce Carrol Oates com o
mesmo título, Blonde é, por enquanto, o acontecimento cinematográfico do
ano. É verdade que o filme de Andrew Dominik, estreado no Festival de Cinema de
Veneza de 2022, foi produzido (e diretamente disponibilizado) pela plataforma
Netflix, quando merecia visionamento no grande ecrã, mas é de Cinema que
estamos a falar.
O
filme não pretende ser um biopic, embora os espetadores mais incautos
possam vê-lo enquanto tal. É antes uma adaptação tão fiel quanto possível de um
romance com o epíteto de inadaptável.
Blonde é uma obra barroca, grandiloquente - mesmo
quando assume laivos de filme de câmara (e com uma Marilyn onírica e não poucas
vezes mostrada em surdina) -, psicanalítica e esteticamente ousada. É de
destacar também a admirável (e impressiva) entrega da atriz Ana de Armas
ao papel da mítica diva do cinema, assumindo-se de corpo e alma como Marilyn
Monroe.
Ao
invés de ter a pretensão de ser a biografia realista e fiel aos factos,
Dominik opta pela encenação do arquétipo, começando pelo pesadelo (quase
lynchiano) de uma infância trágica, passando pela representação da ingénua
Norma Jean (nome verdadeiro da atriz mais icónica de Hollywood) no inferno
machista dos castings nos grandes estúdios até à sua transfiguração na persona
modelar e que acaba por se tornar (pelo menos, para a Norma representada em Blonde)
um fardo insuportavelmente artificial. Domink reconstrói – e aí sim, de modo
claramente mimético – algumas das fotografias mais célebres da atriz e cenas
arquetípicas de alguns clássicos do cinema com Marilyn.
Convém
não ir ao engano: Blonde não é para todos, e aqueles que procurarem no
filme mais uma biografia realista ou um melodrama a glorificar a atriz, desengane-se.
O filme transcende deliberadamente as convenções formais das fitas sobre uma
figura histórica, tomando Marilyn (ou, se quisermos, a persona da atriz)
como ponto de partida para uma reflexão sobre a Sétima Arte, no
período do star system de Hollywood, como criadora de personas
descartáveis e fabricante de sonhos tornados pesadelos freudianos.
William
Tell é um ex-militar com grande talento para o jogo de cartas, a que se dedica
obsessivamente, de modo a manter o passado convenientemente recalcado. Em boa
verdade, este jogador profissional, metódico e ritualista (cobre com lençóis
brancos todos os móveis dos quartos de hotel onde fica hospedado) esteve muitos
anos preso devido à cumplicidade nos crimes cometidos na prisão de Abu Ghraib
durante a Segunda Guerra do Golfo. No entanto, as memórias desses anos
ressurgem quando assiste a uma palestra de um antigo oficial responsável por
treinar militares em técnicas de tortura.
Com
The Card Counter regressámos ao cinema de autor daquele que é,
porventura, a par de Woody Allen, um dos mais coerentes e intransigentes
cineastas norte-americanos. Uma vez mais, Schrader cria uma obra pessoal,
marcada por personagens trágicas em busca de redenção. Ora, para um
intelectual tão marcado pela teologia cristã como Schrader só o sacrifício
possibilita a redenção. Por isso, desde o argumento de Taxi Driver que
este autor parece estar (quase) sempre a contar a mesma história – mas fá-lo
sempre com ousadia e inconformismo.
William
Tell (meticulosamente interpretado por Oscar Isaac) não é um sucedâneo de
Travis Bickle (o icónico personagem imortalizado por Robert De Niro em Taxi
Driver), embora com ele estabeleça pontos de contacto, senão vejamos: (i)
são os dois ex-veteranos de duas guerras que, em tempos diferentes, mancharam a
reputação libertária do exército norte-americano; (ii) sentem-se acossados pela
participação numa guerra cujo propósito não compreenderam; (iii) vivem como
presbíteros mundanos em busca da virtude. Todavia, William Tell, na sua
aparente lucidez, está mais próximo de Ernest Toller, personagem central de No
Coração da Escuridão, filme anterior de Schrader. Mas é tão-só isso: a
(aparente) lucidez e – diria até – a formação intelectual de William Tell e
Ernest Toller (Travis Bickle era demasiado autocentrado e indiferente à cultura
académica). Porque, de resto, a loucura e a violência sacrificial mantêm-se à
flor da pele.
A
propósito dos contos de Silvina Ocampo, Jorge Luís Borges fez notar que, neles,
há uma particularidade difícil de compreender, a saber: “o seu estranho amor
por uma certa crueldade inocente ou oblíqua”. O incontornável autor argentino
atribuía essa singularidade “ao interesse, o interesse atónito que o mal
inspira numa alma nobre”.
Na
verdade, tal como nos contos de Borges, tudo coabita no universo elegíaco de
Silvina Ocampo: vidas enredadas na ficção, traições ardentes e vinganças
geladas, espelhos ou sonhos que refletem fantasmas de carne e osso; o quotidiano
banal que se faz mágico, fruto de agoiros e presságios, ora bons ora maus. A unir
a maioria dos contos de Os Dias da Noite (editado em Portugal pela
Livraria Snob) está sempre a infância, essa etapa dada ao fantástico, mas que
Ocampo também vê como propensa para a crueldade. A infância como a fina fissura
entre inocência e perversão.
A
Fúria e outros contos e Os Dias da
Noite constituem-se como leituras urgentes de uma escritora a
(re)descobrir.
Escritora
dotada de uma imaginação prodigiosa e de uma técnica narrativa singular,
Silvina Ocampo é usualmente apontada como uma destacada rebelde das letras
argentinas. Foi companheira de Adolfo Bioy Casares e amiga íntima de Jorge Luís
Borges.
A
Fúria e outros contos é, talvez, a sua
obra-prima. Neste livro, editado em Portugal pela Antígona,
reúnem-se trinta e quatro contos com narrativas plenas de notas de insólito,
humor, drama, fantasia e terror, que reclamam leitura ávida e apuram o bom
gosto literário.
O Prémio Nobel da Paz de 2022 foi atribuído ao ativista bielorusso Ales Bialiatski e a duas organizações de direitos humanos - a russa Memorial e a ucraniana Center for Civil Liberties. O comunicado divulgado pelo Comité Nobel Norueguês sublinha que os vencedores "representam a sociedade civil nos seus países de origem".
Não deixa de ser um sinal dos tempos deveras preocupante o diminuto destaque que esta notícia mereceu nos principais órgãos de comunicação.
O Prémio Nobel da Literatura deste ano foi entregue à escritora francesa Annie Ernaux, "pela coragem e acuidade clínica com que ela põe a descoberto as raízes, alienações e constrangimentos coletivos da memória pessoal".
Quanto a mim, irei começar, em breve, a ler a obra "O Acontecimento", editada, este ano, em Portugal pela editora Livros do Brasil.
"O meu marido perdeu uma fortuna. Do ponto de vista económico, a minha passagem pelo Governo foi uma tragédia (...). Um ministro não ganha para o que faz. Há uma exposição pública tremenda que afeta o próprio e as famílias."
Francisca Van Dunem, Ex-ministra da Justiça, Expresso, 7 de outubro de 2022