domingo, 28 de abril de 2013

"Bang, Bang! Estás Morto" - dias 2, 3 e 4 de maio, 21h45, Rivoli (Porto)


Um adolescente problemático comete um massacre na sua escola, vitimizando cinco amigos. Quando é preso, dá por si a ouvir as vozes das suas vítimas, que o atormentam, levando-o a um estado de paranoia e loucura. Como vai ele calar as vozes de quem já não tem nada a perder?

Tendo como ponto de partida os massacres perpetrados nas escolas de Columbine e Newport, “Bang, Bang! Estás Morto” é uma peça que aborda o universo da escola contemporânea e mergulha sem medo na análise de conflitos da adolescência, na relação entre pais e filhos, professores e alunos, no bullying, nas ilusões de grandeza, na atração pela violência, na sociedade de consumo e na era da imagem, nos jogos de vídeo, na esquizofrenia própria das sociedades urbanas dominadas pela ausência de diálogo, pelo vazio axiológico e pela cultura do ruído. Trata-se de um espetáculo de elevado interesse pedagógico ao suscitar a reflexão em torno de uma questão fundamental: como é possível sociedades democráticas e esclarecidas produzirem monstros como Anders Breivik?

Esta é a sinopse da nova peça do GAEDE, grupo de teatro que dirijo há já 8 anos. Como sempre, é um trabalho construído com muito carinho e entrega e que, espero, consiga comunicar com o público e lançar questões acerca de um tema tão atual e urgente. Não se pense que em "Bang, Bang! Estás Morto" embarcamos na obsessão da comunicação social em conhecer os motivos por detrás do terrorismo ou dos assassinos em série - esses são atos injustificáveis perpetrados por bestas com rosto humano -; antes pelo contrário, interessa-nos abordar o ponto de vista das vítimas - essas que, de rosto invisível, já não podem reclamar o seu direito à vida, à vida que estupidamente lhes foi roubada. Venham ao Teatro celebrar a Vida!



terça-feira, 16 de abril de 2013

Banda sonora para a Primavera (19) - Nektar, o regresso aos clássicos

Os Nektar são uma das mais amadas bandas de culto da história do rock progressivo. Com uma carreira algo errante, mas que já ultrapassa quatro décadas de edição discográfica, lançaram no final do ano passado um álbum de versões de clássicos do rock como "Sirius" (The Alan Parsons Project), "Wish You Were Here" (Pink Floyd), "Blinded By The Light" (Bruce Springsteen), "Old Man" (Neil Young), "2,000 Light Years From Home" (The Rolling Stones), "I'm Not In Love" (10 CC) e ""Africa" (Toto). Apesar de aparentemente as presentes releituras de tão grandes canções não acrescentarem muito às versões originais, trata-se - por isso mesmo - de uma humilde homenagem prestada por uma enorme banda a não menos importantes músicos seus contemporâneos. Pela mão dos Nektar, as canções ganham uma roupagem talvez mais orgânica e sem artifícios, e o álbum, "A Spoonful Of Time", consegue ser viciante. Há vários dias que não sai da minha aparelhagem. É, por isso, um disco fundamental.




sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Notas de amor" - objeto delicado de Sarah Polley

Depois de abordar a doença de Alzheimer em "Longe Dela", Sarah Polley analisa agora a força do casamento, testando a persistência de Margot (Michelle Williams, confirmando por que é a atriz mais complexa da sua geração) enquanto esposa de Lou (um discreto Seth Rogen) mas dividida pela atração pelo vizinho Daniel (Luke Kirby, sempre no tom certo).

Que desta sinopse não fique a ideia de que estamos perante mais um objeto anódino com uma história já vista e revista. Bem pelo contrário, "Notas de Amor" é uma obra subtil e delicada, que revela em cada plano uma crença inabalável nas suas personagens e, sobretudo, um amor infinito pelo poder do cinema enquanto arte popular capaz de continuamente reformular as suas matrizes - no presente caso, o melodrama. Em boa verdade, Sarah Polley consegue evitar os clichés do género, filmando um drama poético com estrofes de humor e erotismo, mas sempre verdadeiro e comovente. Para a posteridade ficarão duas cenas sublimes: a primeira, num carrossel com os amantes ao som de "Video killed the radio star" dos Buggles; a segunda, com as personagens anteriores a dançar ao som de "Take this waltz". 


sexta-feira, 5 de abril de 2013

A misteriosa gaveta de Nuno Crato - pouco antes da demissão de Miguel Relvas


Pode parecer embirração ou configurar perseguição. Pode, acima de tudo, revelar que os meus horizontes são muito limitados. Então, quando as calotes polares derretem, quando a República Centro-Africana se agita, quando o Papa Francisco surpreende o mundo, quando chove há tantos meses sem parar, eu não tenho mais nada para perguntar?
Quando o país aguarda em transe uma decisão do Tribunal Constitucional, quando os portugueses se preparam para assistir à moção de censura do PS, quando Gaspar faz as contas a mais uma execução orçamental, é só mesmo esta a pergunta que me resta?
Sim, com Sócrates ao alcance, com Marques Mendes como alvo, com Marcelo na mira e com tantos políticos comentadores como assunto, é esta pergunta que me resta?
Confesso que o tema é pequenino, próprio do meu mundo e das minhas curtas deambulações. Mas pronto, aqui vai: que raio é que está a fazer há dois meses na gaveta de Nuno Crato o relatório final sobre as curiosas equivalências de Miguel Relvas?
Eu sei que o ministro da Educação tem que educar a pátria, salvar as crianças da ignorância e transformar os nossos petizes em alemães. Sei que os quer a fazer contas de cabeça e a escolher a profissão aos doze anos. Mas no meio de tanta coisa importante, será que o ministro se importa de abrir a gaveta da secretária e mostrar ao mundo o relatório sobre o seu colega que esconde há dois meses?
Eu sei que é pedir pouco, mas hoje deu-me para isto. Amanhã já penso em coisas importantes.
 Ricardo Costa, in Expresso

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Banda sonora para a Primavera (18) - The Strokes

O som único dos The Strokes já é clássico. "Is This It", o primeiro disco da banda, já tem mais de uma década. Entretanto, surgiram várias bandas de covers de Strokes; existe já um disco de tributo e até uma t-shirt usada dos tempos de "Room On Fire" na subcategoria vintage do eBay (à venda por uma pequena fortuna). O grupo acaba de lançar "Comedown Machine", um álbum com 11 canções espontâneas mas cuidadas, concebidas com a competência dos grandes compositores de rock. De qualquer forma, o destaque vai naturalmente para a terceira faixa do disco, "One Way Trigger", uma canção-ovni, objeto superlativo mas tão estranho que figurará em qualquer antologia pop do século XXI. Aleluia!


Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...