quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Setembro


Com Setembro terminaram as férias, acabou o Verão, começou mais um ano de trabalho, regressou o Outono, famílias reencontraram-se para o ritual das vindimas, a campanha eleitoral e o circo das arruadas não deixaram saudades, as eleições legislativas não troxeram nada de novo, a ânsia por novas músicas, livros e filmes ressurgiu, antigos alunos foram reencontrados, deram-se a conhecer novos rostos que parecem transportar no rosto marcas de eterna juventude, o drama de ter que (mais uma vez) reconstruir o GAEDE, os sábados de manhã voltaram a ser ocupados com os jogos de futebol do Tomás...

Com o Outono um novo ciclo começa. Ou como diz o outro, é preciso mudar para que tudo fique na mesma.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mickey Rourke (1) - "Killshot": Elmore Leonard por John Madden


Porque ele é o maior actor americano vivo, qualquer filme com Mickey Rourke terá aqui, em O Subjectivo Objectivo, o seu nome no título.

Vem isto a propósito de "Killshot", a última fita com Rourke como protagonista a ter estreado nas salas de cinema do nosso país, e recentemente lançado no mercado de DVD.

A película foi construída a partir de um romance de Elmore Leonard e traz a assinatura de John Madden, autor de "A Paixão de Shakespeare". Trata-se de um interessante thriller negro sobre Blackbird, um assassino da máfia (Mickey Rourke num espantoso exercício de underacting) à beira da reforma que, ao conhecer um jovem delinquente extremamente impulsivo, decide participar num assalto a um poderoso empresário do ramo imobiliário. Só que o roubo corre mal e Blackbird é visto em flagrante delito por uma mulher, pelo que o assassino tem agora que eliminar a testemunha.

Depois de alguns tiros ao lado ("O Bandolim do Capitão Corelli", por exemplo), John Madden realiza aqui o seu melhor trabalho, conseguindo criar uma película de acção a todos os níveis exemplar. Com um ritmo de montagem impressionante e excelentes actores (não só Rourke, mas também Thomas Jane e, sobretudo, a lindíssima Diane Lane), "Killshot" é uma brilhante lição de economia narrativa, que recupera o fulgor narrativo dos westerns urbanos de Walter Hill (autor de "Um Rosto Sem Passado", filme clássico de 1989 protagonizado por Mickey Rourke).

Trailer de "Killshot", de John Madden


domingo, 27 de setembro de 2009

Estado da Nação (8) - sem comentários


"O grau de gatunagem nacional continua intocado e, apesar da crise, de facto, a nacional roubalheira subiu em termos homólogos quando comparada com trimestres passados."
Mário Crespo, Jornal de Notícias

Estado da Nação (7) - com comentários


O número de desempregados sem qualquer subsídio de desemprego está a crescer ao dobro da subida do desemprego. Com base nos dados do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, o número de desempregados em busca de novo emprego que não recebem subsídio aumentou 53 por cento. Em Maio deste ano, o desemprego registado cresceu na ordem dos 27,6 por cento face ao período homólogo de 2008.

É preciso mais razões para votar?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Assalto ao Metro 123", de Tony Scott


Em Agosto postei aqui um texto crítico sobre o último filme de Michael Mann - "Inimigos Públicos" -, comparando o seu trabalho de câmara a grandes estilistas do cinema contemporâneo, entre eles Tony Scott, cineasta cujo mais recente opus estreou há algumas semanas nas salas de cinema - precisamente, "Assalto ao Metro 123".

Trata-se da quarta colaboração entre Denzel Washington e Tony Scott, depois de "Maré Vermelha" (1995), "Homem em Fúria" (2004) e "Dejá Vù" (2006), e reafirma o realizador inglês como um dos mais importantes cineastas no activo, capaz de transformar um filme de acção num intenso drama humano de cortar a respiração. No filme em análise, para além da excelente interpretação de Washington, é de destacar a performance electrizante de John Travolta (já há muito que não o víamos assim), que enche o ecrã em todas as cenas em que entra.

Walter Graber (Denzel Washington) é um operador das estações de metro nova-iorquinas que se vê a braços com um pequeno exército de assassinos, liderados por um misterioso homem que diz chamar-se Ryder (John Travolta), que assalta o metro 123 e exige um enorme resgate em troca da vida dos passageiros, garantindo que estes serão exterminados à medida que o tempo passe até que o grupo de raptores receba o dinheiro. Garber revela a Ryder que é só um funcionário sem capacidades de negociação, mas a relação entre ambos torna-se vital para o desenvolvimento da história, tanto para Garber, que tenta desmontar o plano terrorista, como para Ryder, que joga com o passado obscuro daquele enquanto mantém o cerco subterrâneo.

É uma história convencional (na verdade, o filme é um remake de uma película de 1974), mas a garra feérica e a realização nervosa de Scott elevam-na a uma experiência de suspense e inquietação exemplares. Não repetindo a montagem servida a ácidos de "A Fúria da Último Escuteiro" e "Homem em Fúria", mas com uma narrativa igualmente sólida, e sem o labirinto de imagens de "Fome de Viver" e "Déja Vù", este é um filme assente em bases clássicas, quer pela sua estrutura e desenvolvimento como na própria mise-en-scène, aqui mais depurada e compacta se comparada com as obras anteriores do veterano cineasta (o primeiro filme, "Fome de Viver", remonta a 1983). No entanto, o ritmo é vertiginoso e Scott capta como ninguém o realismo caótico de uma situação de extremos na sobrepovoada Nova Iorque, sem esquecer o muito competente e seguro laço estabelecido entre os protagonistas, que agarra o espectador com determinação do primeiro ao último plano, permitindo sustentar outras personagens tão bem conseguidas como Camonetti (John Turturro) e o mayor (James Gandolfini num interessante retrato sobre as relações entre a política e os media).

De uma modernidade espantosa, o filme é imperdível e afirma, definitivamente, Tony Scott como um dos poucos autores de cinema de acção verdadeiramente interessantes.

Trailer de "Assalto ao Metro 123", de Tony Scott

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Para compreender a crise...


...recomenda-se a leitura de "A Crise Ninja e outros mistérios da economia actual explicados de forma simples e optimista", escrito por Leopoldo Abadia. Segue-se um excerto:

"Em 2001, quando as taxas de juro nos Estados Unidos desceram muito, o mercado imobiliário animou-se e o sector bancário desanimou-se. Então, apareceram nos bancos outros tipos de clientes: os ninjas. Ou seja, pessoas que, por definição, não podiam pagar os empréstimos que contraíam. O resultado é terem dado tantos créditos a tantos ninjas que se acabou o dinheiro."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Estado da Nação (6) - com comentários


Para que não haja desculpas para não votar nas eleições legislativas de 27 de Setembro, recomendo a leitura e análise do artigo de Catarina Sousa publicado nas páginas 18-21 da edição nº 515 da revista Focus. O texto inclui um quadro comparativo das principais ideias de cada partido, da direita à esquerda, para governar. Esclarecedor!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um livro


Guillaume Musso é um jovem escritor de origem francesa, nascido em 1974, que descobriu precocemente a paixão pela literatura (aos dez anos de idade decidiu que queria ser escritor). Inspirado por Nova Iorque, cidade que situa a acção da maioria dos seus livros e onde viveu aos dezanove anos, alcançou enorme êxito crítico e comercial com a sua primeira obra - "E Depois..." -, já adaptada ao cinema e traduzida para doze línguas.

"Estarás Aí?" é o seu terceiro livro (o anterior foi "Salva-me") e retoma os temas das obras anteriores, a saber: a felicidade, a liberdade, o determinismo, o destino e as infinitas possibilidades que se nos deparam ao longo da vida. Todos estes ingredientes suspensos na ténue linha que separa a vida da morte.

O romance conta a história de Elliot, médico de 60 anos apaixonado pela sua profissão, a quem foi diagnosticado um cancro no pulmão. Elliot sempre se sentiu culpado pelo desaparecimento de Ilena, a mulher que amava e que morreu tragicamente há 30 anos. Um dia, na sequência de circunstâncias extraordinárias, volta atrás no tempo e encontra-se com o jovem que fora 30 anos antes, encontrando aí uma oportunidade para regressar ao instante em que uma escolha da sua parte poderá salvar Ilena e, desse modo, modificar o seu próprio destino.

Muitas questões são lançadas, de um modo simples, ao longo da presente obra, agarrando o leitor da primeira à última página. Guillaume Musso é, na verdade, um interessante e hábil criador de histórias que, mediante um estilo directo e cinematográfico, coloca os afectos como essência da vida, marca da nossa efémera e (im)possível procura de eternidade.

"Estarás Aí?" é também uma lição de economia narrativa e uma boa forma de apreciar o início do Outono lendo bons livros.

sábado, 19 de setembro de 2009

"A Esperança Está Onde Menos Se Espera", de Joaquim Leitão


Em 1986, quando ir de autocarro de Leça da Palmeira ao Porto era fazer uma grande viagem, fui ao saudoso Charlot no shopping center Brasília ver o primeiro filme de um novo cineasta português. Eu tinha apenas 14 anos, mas a paixão pelo cinema e pelos seus autores já despontava com uma intensidade mais emotiva que racional. O filme chamava-se "Duma Vez Por Todas" e trazia a assinatura de Joaquim Leitão. O pequeno trailer que passava nos intervalos para publicidade na televisão levavam-me a crer que estávamos perante algo de muito diferente no cinema português. Além disso, o anti-herói do filme era protagonizado por um jovem músico que, com a sua banda pop, Heróis do Mar, tinha sido responsável por uma das maiores revoluções na música portuguesa. Os ingredientes tornavam, portanto, a película apetecível. E, na verdade, a obra encheu-me as medidas, correspondendo a tudo o que um adolescente cinéfilo esperava de um bom filme: uma história voyeurista em tons noir (está lá a loira fatal e tudo), uma interpretação electrizante de Pedro Ayres de Magalhães (infelizmente, sem consequências em filmes posteriores), uma boa banda sonora e uma montagem feérica. A partir de então, Joaquim Leitão seria um nome a seguir com muita atenção.

O resto, já todos sabemos: apesar de assinar grandes sucessos como "Adão e Eva" e "Tentação", bem como uma mão cheia de obras menores ("Uma Vida Normal", por exemplo), o cineasta nunca mais conseguiu repetir o fulgor do primeiro opus.

Mais de 20 anos depois, Joaquim Leitão volta a assinar um filme relevante, demonstrando toda a sua capacidade para saber contar uma boa história por imagens. "A Esperança Está Onde Menos Se Espera" é um conto moral acerca de um promissor treinador de futebol (Virgílio Castelo num registo sóbrio e minimal), cujos sólidos princípios morais colidem com o universo relativista e corrupto de managers e dirigentes desportivos. Desempregado, não consegue voltar à ribalta e a sua família não está interessada em adaptar-se à situação de despromoção social (a mulher fica privada das suas férias no Algarve, o filho de 15 anos é forçado a abandonar o colégio privado e a inscrever-se numa escola pública). Abandonado pela mulher, fica a viver com o filho, Lourenço, de quem se tenta reaproximar e transmitir os valores éticos que sempre nortearam a sua conduta. Por outro lado, Lourenço, após a dificuldade inicial em se adaptar ao ambiente da nova escola, acaba por fazer novos amigos, habitantes de um bairro social que lhe dão a conhecer uma outra realidade, bem distante daquela onde ele cresceu. Aquilo a que assistimos a seguir é a progressiva reaproximação afectiva entre pai e filho, culminando numa redenção mútua.

Joaquim Leitão é um daqueles cineastas que, na minha opinião, procura fazer um cinema português verdadeiramente alternativo ao pretender, sobretudo, contar uma boa história capaz de comunicar com todos os públicos e criar um filme que concilie a arte com o comércio. Haverá, com certeza, muitos detractores que classificarão o filme como um mero produto comercial. Mas convém não esquecer que o cinema é uma arte muito dispendiosa, que exige elevados esforços de produção e o cinema português só sobreviverá, num mercado tão pequeno quanto o nosso, se conseguir esse equilíbrio - entre a arte e o público consumidor de filmes - com dignidade. Joaquim Leitão é, definitivamente, o exemplo maior de um artesão competente que não se envergonha de tentar fazer bons filmes para todos os públicos.

"A Esperança Está Onde Menos Se Espera" não chega a ser uma obra-prima, nem pretende sê-lo, mas cumpre aquilo a que se propõe, conseguindo prender o espectador do primeiro ao último plano. Pelo meio há também cenas verdadeiramente comoventes, destacando-se a química entre os dois actores principais - Virgílio Castelo e Carlos Nunes. Um última nota para um actor, com provas dadas em muitas peças de teatro, que neste filme consegue, no papel do taxista que se recusa a conduzir o par romântico à Cova da Moura, demonstrar que não há papéis pequenos para grandes actores. Chama-se Jorge Loureiro e é meu amigo de infância.

Trailer de "A Esperança Está Onde Menos Se Espera", de Joaquim Leitão

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Estado da Nação (5) - sem comentários


"Temos justiça a sério quando é para investigar o pilha-galinhas e uma justiça a brincar quando se trata de pessoas de uma determinada condição social e económica."
Rui Rangel, na apresentação de Justiça e Sociedade

Estado da Nação (4) - humor involuntário (?)


"Receio que o facilitismo e o excesso de publicidade do corpo feminino possam matar o desejo sexual... E não sei se isso não estará na base da explosão da homossexualidade."
Almeida Santos, Sol

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Fronteira(s)" - terror em estado puro


Hesitei no título desta crónica: na sequência de outros posts que aqui registei, pensei em chamar-lhe "(re)visões sobre a 2ª Guerra Mundial". No entanto, dado o género que o filme quer assumir, optei pelo presente título.

Em 2007, um bando de ladrões aproveita-se dos tumultos que assolam as ruas de Paris para fazer um assalto. Durante a fuga, e com a polícia no seu encalço, o grupo divide-se e alguns dos seus membros refugiam-se num motel barato, situado num local isolado perto da fronteira, sem saberem que se tornaram hóspedes de uma família de canibais neo-nazis, ansiosos por uma nova ordem mundial. O teste de sobrevivência dos landrões começa e, sujeitos a todos os tipos de mutilação e tortura, vão aprender a revalorizar a democracia.

Xavier Gens, o autor de "Fronteira(s)", contextualiza a acção do filme nas eleições presidenciais francesas, colocando em confronto a ala conservadora e a extrema-direita, facto que concede à película caução social e política. Além disso, o vilão da história (conhecido como o pai) é um ex-oficial nazi que, aparentemente, vive em França sob disfarce. No entanto, sendo este um filme de excessos, violento e visceral, o essencial a reter é aquilo a que se propõe, a saber: ser uma obra de terror em estado puro, que assusta e provoca o espectador, pretendendo transpor o(s) limite(s) (ou fronteiras) do pudor de quem a ela assiste.

Trailer de "Fronteira(s)", de Xavier Gens




terça-feira, 15 de setembro de 2009

Felicidade e Hedonismo


Este texto anda actualmente a passear na net. Vamos ajudar a divulgá-lo.

A epidemia global está a alastrar a um ritmo vertiginoso. A OMB (Organização Mundial do Bem-Estar), prevê que biliões de pessoas serão infectadas no prazo de dez anos.

Os sintomas desta doença terrível:

1 - Tendência para ser guiado pela intuição pessoal em vez de agir sob a pressão dos medos, das premissas e condicionamentos do passado.

2 - Total falta de interesse em julgar os outros, julgar-se e interessar-se em tudo o que leva ao conflito.

3 - Perda total da capacidade de preocupar-se (este é um dos sintomas mais graves).

4 - Prazer constante em apreciar as coisas e as pessoas tal como elas são, causando a extinção do hábito de querer mudar os outros.

5 - Desejo intenso de se transformar positivamente para gerir constantemente os seus pensamentos, emoções, corpo, a sua vida e o seu ambiente físico de modo a desenvolver o seu potencial para a saúde, a criatividade e amor.

6 - Repetidos ataques de sorriso, aquele sorriso que diz "obrigado" e dá um sentido de unidade e harmonia com todas as coisas vivas.

7 - Abertura constantemente crescente ao espírito de infância, à simplicidade, ao riso e à alegria.

8 - Momentos cada vez mais frequentes de comunicação consciente com a alma, não-dual... Ser, o que dá uma agradável sensação de plenitude e felicidade.

9 - Prazer em comportar-se como curandeiro que traz alegria e luz, em vez de críticas ou indiferença.

10 - Capacidade para viver sozinho, em casais, em família e sociedade na fluidez e igualdade, sem se comportar como vítimas, mauzões ou salvadores.

11 - Sentimento de se sentir responsável e orgulhoso em oferecer ao mundo os sonhos de um futuro abundante, harmonioso e pacífico.

12 - Aceitação completa de sua presença na Terra e de escolher a cada momento, a beleza, a bondade, a verdade e a vida.

Se você quiser viver com medo, dependência, conflito, doença e conformismo, procure evitar contacto com pessoas com esses sintomas.

Esta doença é extremamente contagiosa !

Se, pelo contrário, você já tem os sintomas, saiba que sua condição é provavelmente irreversível.

O tratamento médico pode eliminar alguns sintomas temporariamente, mas não consegue resistir ao inevitável progresso da doença.

Nenhuma vacina anti-felicidade existe !

Como esta doença da felicidade causa uma perda do medo de morrer, que é um dos pilares centrais das crenças da sociedade materialista moderna, agitações sociais podem ocorrer, tais como greves do espírito guerreiro e da necessidade de ter razão, união de pessoas felizes para cantar, dançar e celebrar a vida, círculos de partilha e de cura, ataques de riso e celebração emocional e colectiva.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Estado do Mundo (5) - com comentários


Para compreender melhor as complexas relações ocidente-oriente e evitar estereótipos, recomenda-se a leitura da interessante entrevista a Xinran Xue, publicada na Focus nº 512.

Xinran Xue foi apresentadora de um programa de rádio (Palavras na Brisa Nocturna), onde ouvia histórias de mulheres chinesas abafadas por décadas de totalitarismo comunista, e é autora do bestseller "As Boas Mulheres da China". Actualmente é colunista do "The Guardian" e dirige uma ONG para adopção de meninas chinesas.

"Acho que a China, hoje, é como um quadro de Picasso: tem nariz, olhos, boca, mas está tudo fora do seu devido lugar." (excerto da entrevista a Xinran Xue)

Xinran: Superpower China Built by Unseen Hands
3:35

domingo, 13 de setembro de 2009

Revisitar "Gloria" (?)


Erick Zonca, realizador premiado logo com a sua primeira obra - "A Vida Sonhada dos Anjos", filme de 1998, ganhou três César e dois prémios de interpretação no Festival de Cannes -, regressou ao grande ecrã, após uma longa ausência, com "Julia - Uma Vida de Sombras".

Este último filme narra a história de Julia (uma interpretação intensa, emotiva e visceral de Tilda Swinton), uma alcoólica desleixada e emocionalmente desorganizada, que acorda constantemente em casas de estranhos sem se lembrar da noite anterior. O seu comportamento irresponsável leva-a a perder o emprego e as suas poupanças. Obrigada a frequentar uma reunião de alcoólicos anónimos, conhece Elena (Kate del Castillo, que aqui se revela actriz plena de recursos dramáticos e expressivos), a qual pede a sua colaboração num plano macabro que poderá resolver os problemas de ambas: raptar o filho de Elena, que vive com um avô abastado, e pedir um resgate de dois milhões de dólares.

O filme segue ao ritmo do desequilíbrio e instabilidade emocional de Julia, tornando-se previsível a aproximação afectiva da protagonista ao rapaz de oito anos. Mas há uma espécie de odor a falhanço que transparece na película e nos faz sentir que aquele não era bem o rumo que a história deveria seguir. De facto, Tilda Swinton bem se esforça por carregar o filme aos ombros (e, na verdade, carrega...), mas existem demasiadas situações que tornam a obra pouco convincente. Por exemplo, o rapaz é tão mal-tratado e, estranhamente, nunca está muito assustado; por outro lado, Julia é excessivamente instável e trapalhona para nos fazer acreditar que se deixaria transformar pelo afecto à criança, daí a sua redenção final ser pouco credível.

Resta salientar que o presente filme parece uma variação (não assumida) de "Gloria", obra-prima de John Cassavetes, que em 1980 deu a Gena Rowlands uma nomeação ao Oscar de melhor actriz.

Trailer de "Julia - Uma Vida de Sombras", de Erick Zonca



sábado, 12 de setembro de 2009

Banda sonora para o Verão (8)


Um dos melhores álbuns lançados na estação estival foi "Monuments and Melodies", dos Incubus. Trata-se de uma colectânea para (re)descobrir uma das melhores bandas rock das duas últimas décadas. Está lá tudo: "Black Heart Inertia", "Drive", "Anna Molly", "Wish You Were Here", "Nice To Know You", "Neither Of Us Can See", entre muitos outros monumentos e melodias. Uma obra-prima!
"Anna Molly" - Incubus

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de Setembro - o início do "ground zero"


Em 11 de Setembro de 2001 perderam-se três mil vidas no ataque ao World Trade Center, em Nova Iorque. Nessa altura, a política externa dos EUA, liderada por George W. Bush, pagou bem caro o unilateralismo americano com um atentado terrorista consumado, pela primeira vez na História, em território norte-americano através da Al-Qaeda. As imagens da implosão e desmoronamento das torres gémeas feriram o orgulho de uma nação que se achava militarmente invulnerável. Além disso, a acção terrorista revelou a fragilidade das estruturas de segurança do mundo ocidental. Mas mais importante ainda, foi a realidade ter superado a ficção através de um acto irracional que abalou uma civilização - a ocidental - responsável pelo mais belo texto alguma vez escrito: a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Não o esqueçamos para que, tal como o Holocausto, nunca mais se repitam estas tragédias provocadas por decisão humana.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Estado da Nação (3) - com comentários


Excelente artigo publicado na Focus (nº 511) intitulado "Bebés Precisam-se". Trata-se de um estudo detalhado, profundo e rigoroso sobre o (de)crescimento da população portuguesa, concluindo-se que ela está a "envelhecer perigosamente", criando um cenário que "levanta problemas de sustentabilidade ao país e impactos na demografia".

O texto vem assinado por Ana Nunes e é de um enorme interesse sociológico para percebermos o Portugal de hoje e lançar algumas (sinistras) previsões para o futuro.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estado do Mundo (4) - sem comentários


A Coreia do Norte reiterou a sua recusa em regressar à mesa das negociações sobre a sua desnuclearização, sugerindo "uma forma de diálogo específico", que, curiosamente, não especificou.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bicicleta Eléctrica - uma boa notícia


Li na revista Focus (nº 511) que "as biciletas eléctricas são a última moda no Japão, um país conhecido desde sempre pelo uso das bicicletas, como um transporte rotineiro, por ser rápido e saudável, quer para a pessoa quer para o ambiente".

A tecnologia agora introduzida naquele meio de transporte possibilita aos japoneses a oportunidade de pedalarem pouco e poluírem menos, visto que as novas biciletas são amigas do ambiente.

"Em apenas oito anos, as vendas deste meio de transporte aumentaram para o dobro, até alcançarem 315 mil unidades no ano de 2008."

Quando será que o ocidente decidirá seguir este exemplo de responsabilidade ecológica vindo do oriente? Será uma questão de "cultura civilizacional" ou de sobreposição de interesses económicos?

domingo, 6 de setembro de 2009

"Caos Calmo" - reinventar a vida


O grande cinema europeu já foi sinónimo de cinema italiano: Fellini, Antonioni, Scola, De Sica, Rosselini, Pasolini e Visconti foram - e continuam a ser - nomes maiores do cinema mundial e permanecerão na história como referências incontornáveis sempre que se fale em cinema de autor. Essa era dos estúdios da cinecitá, em Roma, começou a declinar no fim da década de 70, culminando na elegia fílmica "Cinema Paraíso", de Giuseppe Tornatore.

Nos últimos 20 anos, Nanni Moretti tem-se afirmado como nome maior do cinema italiano contemporâneo, quer como actor e realizador, bem como argumentista. Em "Caos Calmo", de Antonello Grimaldi, Moretti surge como actor principal (e que interpretação, senhores!) e co-argumentista.

No mesmo dia em que salva uma mulher na praia, um empresário bem-sucedido fica súbitamente viúvo e a braços com os cuidados da sua pequena filha. No primeiro dia de aulas de mais um ano lectivo, ao deixar a filha na escola diz-lhe que ficará ali, à porta, à sua espera. E assim faz: deixa de ir ao local de trabalho e passa a tratar dos seus negócios num banco de jardim, em frente à escola da filha. A sua estranha permanência nesse local chama a atenção dos que se cruzam com ele, suscitando perplexidade, mas também carinho, amizade, confiança e compaixão naqueles que tomam conhecimento da sua invulgar opção.

O filme entranha-se no espectador logo nos primeiros minutos, mantendo-nos presos à singular condição do personagem interpretado por Moretti. No fim, ilumina-nos com o seu optimismo. "Caos Calmo" é uma película encantadora, plena de personagens de carne e osso, com uma realização subtil de Antonello Grimaldi, que merece ficar na história do cinema como um dos melhores melodramas da presente década.

Trailer de "Caos Calmo", de Antonello Grimaldi


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Três Livros (3): "Firmin", de Sam Savage - fábula existencialista


Pequena digressão biográfica acerca de Sam Savage: Natural da Carolina do Sul, formou-se em Filosofia na Universidade de Yale, onde chegou a leccionar por um breve período de tempo. Decidiu abandonar a docência para se dedicar a outras actividades, a saber: mecânico de bicicletas, carpinteiro, pescador e impressor tipográfico. Foi já com 65 anos de idade que Savage se estreou como escritor, precisamente com "Firmin", obra que aqui se analisa.

Firmin é um rato nascido nos anos 60 do século XX na cave de uma velha livraria de Boston, aprendendo desde cedo a - literalmente - devorar livros e a distinguir-lhes o sabor. Torna-se, assim, um rato culto e humanizado, características que o distinguem da sua família e que o conduzirão à solidão. Vendo a sua imagem reflectida num espelho, Firmin percepciona a sua própria tragédia: ser uma alma sensível, inteligente, poética e delicada presa num corpo de ratazana.

Disfarçado de conto infanto-juvenil, "Firmin" é um romance adulto acerca da condição humana, assumindo-se também como reflexão em torno do modo como a literatura ocidental tratou o tema. De uma imensa riqueza alegórica, a obra de Sam Savage equilibra humor e uma certa angústia existencialista, humanismo redentor e pessimismo, fábula e literatura sci-fi. Um livro leve mas profundo, que, em tom elegíaco, exalta a grande literatura clássica ocidental e despede-se de um tempo (os anos 60 do século passado) e de um bairro (Scollay Square) que não mais voltarão a existir.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Três Livros (2): "Lua Nova" - "Romeu e Julieta" revisitado


"Lua Nova" é o segundo livro da tetralogia "Luz e Escuridão", saída da pena criativa de Stephenie Meyer. Já aqui tínhamos escrito sobre "Crepúsculo", a primeira parte da saga vampiresca adaptada com sucesso ao cinema por Catherine Hardwicke. Comparando as duas obras, chegamos à conclusão que a que agora se analisa resulta numa continuação expectável da primeira parte: o romance entre Edward e Bella começa a ganhar contornos cada vez mais trágicos (aliás, a referência inicial a "Romeu e Julieta", de William Shakespeare, não é fortuita, reforçando antes a dimensão trágica - o amor impossível - dos heróis desta história), levando até a uma forçada e prolongada separação entre os dois. A partir daqui, a autora conduz-nos pelo sofrimento apaixonado de Bella que, estranhamente, descobre uma maneira de se (re)aproximar de Edward, a saber: desafiar o perigo. A protagonista procura também na amizade com Jacob uma compensação para a ausência do seu ex-namorado, relação que a conduzirá a revelações surpreendentes.

Em relação a "Crepúsculo", "Lua Nova" ganha em ritmo e tensão dramática, mas perde no campeonato do suspense, sobretudo no que concerne à previsibilidade das acções de Jacob, pois já todos sabemos, desde o primeiro livro, que ele é lobisomem. No entanto, Stephenie Meyer continua a criar as suas imagens recorrendo a palavras escolhidas com delicadeza, pelo que os contornos míticos e poéticos da relação central da obra mantêm a força do livro anterior. Neste aspecto, o capítulo vinte - Volterra - é exemplar: construído a um ritmo feérico e vertiginoso, alcança uma intensidade e negrume raros na literatura fantástica contemporânea.

"Lua Nova" é uma obra a ler sem preconceitos, colocando apenas duas condições ao leitor interessado: espírito ecléctico e leitura prévia de "Crepúsculo". Para os fãs desta série de culto - que já há muito leram o livro - resta esperar pelo filme, que desta vez traz a assinatura de Chris Weitz.

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...