domingo, 31 de julho de 2016

A propósito do terrorismo...

...convém lembrar a sabedoria de Santo Agostinho:

"De tanto ver, acaba-se por tudo suportar, de tanto suportar acaba-se por tudo tolerar, de tanto tolerar acaba-se por tudo aceitar, de tudo aceitar acaba-se por tudo aprovar..."

quinta-feira, 21 de julho de 2016

[estio]

cálido verão
deixa-se levar
pelas margens
de uma solidão
encantada
com a possibilidade
de existir
sem contrário,
qual profilaxia da vontade.

"ousa saber!" - diria Kant
no verão frio de Königsberg
agasalhado em diurnas leituras,
porventura, já avassalado pela gota,
único atraso numa vida pontual.

desejo essa assiduidade
ambiciono tal solarenga presença
desolada
com a possibilidade
(feita certeza)
de o impulso
ser contrário à moral
efeito secundário
da estival atração
que se transfigura
por entre as margens
da idade madura.

domingo, 17 de julho de 2016

"No Coração do Mar" - "Moby Dick" por um artesão

Herman Melville (1819-1891) é, para muitos, o grande romancista épico norte-americano, sendo Moby Dick o exemplo maior da sua perícia como escritor. Ron Howard é um artesão do cinema, com uma carreira que, há semelhança de cineastas da primeira metade do século XX, será, no futuro, seguramente revalorizado e a sua filmografia objeto de revisão e reavaliação.

No Coração do Mar é, precisamente, a reconstituição da tragédia do navio Essex, que terá estado na génese do romance Moby Dick. É um filme sobre a caça à baleia, versando sobre a relação entre o homem e a natureza, num tour de force sem ousadias estilísticas, direto ao osso, portanto.

Foi um objeto ignorado na última cerimónia dos Óscares, dada a sua natureza artisticamente despretensiosa, filmada com o rigor de um artesão. Será, com certeza, daqui a 20 anos um clássico da sétima arte. Não é uma obra-prima, na medida em que há personagens secundários que não são suficientemente explorados, mas não era essa também uma característica de obras de realizadores como William Dieterle ou William A. Wellman?

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Somos Campeões Europeus de Futebol

Diga-se o que se disser, só uma coisa é certa: a Seleção Portuguesa foi a justíssima vencedora do Euro 2016. É a prova de que com garra, união, solidariedade, motivação, resiliência e espírito de sacrifício é possível tornar (pelo menos, alguns) sonhos (mesmo os mais difíceis!) realidade. Parabéns, Portugal!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Michael Cimino (1939-2016) - teremos sempre "O Ano do Dragão"

No já longínquo ano de 1985, entrei numa (agora defunta) sala de cinema (o saudoso Chaplin, em Leça da Palmeira), acompanhado pelo meu irmão, para ver O Ano do Dragão, a primeira obra de Michael Cimino após o gigantesco fiasco de As Portas do Céu (1980).

Para além da realização vertiginosa de Cimino, O Ano do Dragão confirmava Mickey Rourke como o ator mais interessante da década de 80, entregando-se de corpo e alma a uma interpretação eletrizante. Naquela altura, corria o rumor de que ele seria o próximo 007. Era isso mesmo, um rumor, nada mais. Rourke não tinha paciência para Hollywood e gostava pouco de realizadores, tendo posteriormente rejeitado papéis em filmes que poderiam ter dado um rumo diferente à sua carreira e à sua tumultuosa vida pessoal. No entanto, Cimino era um dos poucos eleitos e viria a trabalhar com ele, cinco anos depois, no thriller visceral "A Noite do Desespero". A aura de cineasta maldito talvez tenha contribuído para a química e a comunicação entre o realizador e o ator.

O Ano do Dragão era uma espécie de regresso às personagens de O Caçador (Cimino, 1978). Nele, Mickey Rourke é Stanley White, veterano da guerra do Vietname, agora chefe da polícia de Chinatown determinado a combater a máfia chinesa que domina o tráfico de droga naquele bairro nova-iorquino. White é arrogante, racista e tendencialmente niilista, o que contribuiu muito para as acusações movidas por grande parte da crítica de que o argumento de Oliver Stone seria profundamente racista e Cimino um republicano xenófobo a ajustar contas com o passado (nomeadamente, a derrota humilhante sofrida pelos EUA no Vitename). Visão redutora, e até deturpada, acerca de um filme em torno de um anti-herói incorruptível, determinado a fazer justiça, qual xerife de um western clássico (com John Ford à cabeça). Em boa verdade, Rourke provava que podia ser um ator maior que a vida, uma interessante combinação entre John Wayne e Marlon Brando (de resto, chegou a ser caracterizado por boa parte da imprensa como "o novo Marlon Brando"). Arriscaria mesmo considerar O Ano do Dragão como o maior filme policial da década de 80.

Michael Cimino lega-nos uma obra pequena em número - assinou apenas 7 películas -, mas fica a sensação de que, independentemente das vicissitudes da sua carreira (e foram muitas!), realizou os filmes com total liberdade artística, deixando uma marca pessoal indelével em todos. Talvez tenha chegado a altura dos historiadores e críticos de cinema reavaliarem parte da sua obra cinematográfica (a começar precisamente por O Ano do Dragão) e não celebrar apenas O Caçador e As Portas do Céu. Cimino foi mais do que estes dois filmes, talvez o maior discípulo de Orson Welles - na visão, no solipsismo e (por que não?) na megalomania. Ou, como ele gostaria de ser recordado: "Cimino - um cineasta individualista".


terça-feira, 5 de julho de 2016

Estado do Mundo (33) - "Elegy For The Artic"

Ludovico Einaudi estreou uma nova música, Elegy For The Artic", enquanto flutuava em cima de um icebergue improvisado e, à sua frente, um glaciar derretia. O espetáculo foi integrado numa campanha da Greenpeace, com o objetivo de chamar a atenção do mundo para o recuo da superfície gelada do oceano Ártico, cada vez mais vulnerável devido à pesca e à exploração de petróleo.


sábado, 2 de julho de 2016

Legendar o silêncio icónico (30) - Christo a caminhar sobre as águas até 3 de julho


The Floating Piers é uma instalação do artista búlgaro Christo, constituída por 200 mil cubos flutuantes, que, ao longo de 3 quilómetros sobre o Lago Iseo, liga a cidade de Sulzano à ilha Monte Isola (no norte de Itália). Este pontão flutuante pode ser percorrido até amanhã, dia 3 de julho.

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...