terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CALE-se 5

CALE-se é um Festival Internacional de Teatro, de carácter competitivo, que já vai na sua quinta edição. Decorre aos sábados, até 19 de Março, com os espectáculos sempre a iniciar às 22 horas na Associação Recreativa de Canidelo (Vila Nova de Gaia). O CALE-se visa a participação de grupos de teatro não profissionais, numa estrutura de nove espectáculos a concurso, que vão disputar os "Prémios CALE".


O arranque do CALE-se 5 foi já no dia 15 de Janeiro, com a apresentação da comédia "A Vingança de Antero", de Luísa Costa Gomes, a cargo do ULTIMAcTO, companhia teatral de Tomar. No dia 12 de Março o GAEDE terá a honra de participar no CALE-se com a peça "Civilização", escrita e encenada por mim.

Refira-se ainda que o grande Vítor de Sousa foi o actor escolhido para patrono da edição de 2011, responsável por um humilde e sincero discurso de agradecimento à homenagem prestada pelos organizadores deste festival de teatro.

Há, portanto, boas razões para acompanharmos atentamente o CALE-se 5.

domingo, 23 de janeiro de 2011

"Hereafter - Outra Vida" (3) - o amor é mais forte que a morte

A morte é um tema recorrente na extensa filmografia de Eastwood como realizador. Desde o cantor country de "A Última Canção", passando pelo precocemente envelhecido Charlie Parker de "Bird - O Fim do Sonho", até ao confronto do caçador com a presa em "Caçador Branco, Coração Negro", não esquecendo a omnipresença da morte no vingador de "Imperdoável" e nos amantes adúlteros de "As Pontes de Maddison County", o enigma de sempre da humanidade tem sido o objecto de reflexão das películas daquele mestre. Mesmo no thriller "Dívida de Sangue" ou nos dramas "Mystic River", "A Troca" e "Gran Torino" a luta do amor contra a morte (no sentido, de ela ser o pretexto para o esquecimento daqueles que amamos) é o tema central das narrativas e a força motriz dos seus anti-heróis. 

Na verdade, poucos são os realizadores cuja obra é protagonizada por heróis trágicos. Luz-sombra, felicidade-tristeza, saúde-doença, paz-guerra, amor-morte constituem a essência dos filmes, certamente eternos e nunca datados, de um film-maker singular, que tem em "Hereafter" uma das suas obras maiores. 

sábado, 22 de janeiro de 2011

"Hereafter - Outra Vida" (2) - a aceitação da morte

"Hereafter" centra-se nas vidas de três personagens interligadas pela morte: uma jornalista francesa que quase morreu no tsunami no Índico, em 2004; uma criança londrina cujo irmão gémeo morreu atropelado; um operário norte-americano que já trabalhou como vidente. Cada um busca incessantemente a verdade, tocados pelo mistério do que vem depois da morte e as suas vidas acabam inevitavelmente por se intersectar.

Não se julgue que Eastwood dê ênfase a qualquer forma de exploração gratuita do tema vida depois da morte, tão caro a Hollywood, em geral, e ao cinema fantástico, em particular. Muitos foram os cineastas que procuraram abordar o tema, caindo nos rodriguinhos e floreados do costume, para impressionar almas demasiado simples e o medo inconsciente da morte. Não, não vemos aqui as habituais visões new age pseudo-espiritualistas do além, pelo que o filme dificilmente agradará aos leitores de Paulo Coelho. "Hereafter", pelo contrário, reflecte sobre: i) a possibilidade de alguma forma de vida se perpetuar após a morte; ii) a procura individual de um sentido para a vida; iii) a fragilidade da vida; iv) a imprevisibilidade da morte; v) a aceitação da morte enquanto forma sábia de encarar a vida; vi) o amor como única possibilidade redentora.

Construir um filme assim com uma tema tão caro a tantos realizadores, tão desaconselhável em quem quer empreender a aventura da Sétima Arte, só foi possível graças à mão artística de Clint Eastwood, talvez o maior cineasta vivo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

"Hereafter - Outra Vida" (1) - obra-prima do mestre Clint Eastwood

Clint Eastwood é, para muitos, o último representante do cinema clássico americano. No entanto, se Hawks, Ford, Siegel ou Leone (apesar deste último ser europeu) se podem considerar legítimos inspiradores (mestres) de Eastwood, a obra do realizador de "Hereafter" é resultado de um labor singular, cujo sentido de mise en scène não encontra paralelo em qualquer outro cineasta, muito menos se esgota em analogias com a matriz fundacional de Hollywood. Além disso, Eastwood tem construído uma carreira atrás das câmaras que pode e deve ser analisada à luz de um cinema de autor. Sim, há os filmes de Eastwood e há os outros de artesãos menores.

Veja-se "Bird - O Fim do Sonho", "Caçador Branco, Coração Negro", "Imperdoável", "Um Mundo Perfeito", "As Pontes de Maddison County", "Gran Torino", "Invictus" e a película que agora estreia, "Hereafter", e perceba-se o monumento que good old Clint está a edificar com mestria, sensibilidade e sabedoria.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Banda sonora para o Inverno (12)

Poeta, novelista, místico à procura de Deus, compositor de primeira água, romântico inveterado, Leonard Cohen é tudo isto e muito mais, não se esgotando ou sobrevalorizando numa ou noutra actividade artística. Tem uma longa, apesar de intermitente, carreira musical e acaba de lançar um novo registo de live songs. Trata-se de "Songs From The Road" e - sobretudo para quem já está farto de discos ao vivo do mestre - acreditem, é mesmo um grande disco, superior ao anterior "Live In London". "Suzanne", "Bird On a Wire", "Avalanche" ou "Lover, Lover, Lover" têm aqui as gravações mais inspiradas e sublimes de que há memória na obra do cantautor. Vale a pena comprar o álbum, até porque  continua muitos furos acima da maioria das canções de qualquer artista folk, pop ou rock gravadas nos últimos 20, 30 anos. É ouvir para crer. Ainda que sem qualquer tema inédito, "Songs From The Road" é uma obra-prima.

"Lover, Lover, Lover" - Leonard Cohen

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Eleições (muito pouco) Presidenciais

Os cinco candidatos que representam a esquerda falam do BPN, da compra e venda - legítima - de umas acções no início da década passada e polemizam acerca do carácter do candidato da direita (por acaso, também legítimo Presidente da República). É nisto que se converteu a esquerda portuguesa: desorientada e sem manifestar qualquer ideal ou projecto para o país, dedica-se a tentar destruir qualquer vontade que pretenda fazer de Portugal um país melhor e mais desenvolvido. Veremos que consequências tal atitude terá no resultado eleitoral de Domingo.

domingo, 16 de janeiro de 2011

"Tron: O Legado" - distopias digitais

"Tron: O Legado" recupera um filme de culto do início da década de 80, dando-lhe continuidade e, sobretudo, a energia do 3D que a película bem merecia. Joseph Kosinski assina, desta vez, a realização e fá-lo com uma energia e profundidade visual impressionantes.

Jeff Bridges desdobra-se em dois papéis, o de Flynn (agora envelhecido e assumindo uma sabedoria mística própria da idade, mas também resultante do fracasso da sua tentativa em criar uma utopia digital) e de Clu (o seu eternamente jovem e maléfico avatar). A fita procura reflectir acerca da dicotomia real/virtual, fazendo a apologia do primeiro pólo e salientando o perigo do universo digital enquanto paraíso artificial hipervalorizado. No fundo, podemos ver "Tron: O Legado" como um filme cuja problemática merece ser analisada em complemento com "Avatar" (2009), de James Cameron. Sem ter o imediatismo popular do maior êxito de bilheteira de sempre, "Tron: O Legado" é um poderoso exercício de estilo, assente em coordenadas aparentemente clássicas, mas que legam para o futuro um ensaio incontornável acerca do século XXI.

Refira-se, contudo, que o filme está ainda muito presente na minha memória, exigindo talvez mais algum tempo para que a razão reflicta acerca da experiência visual em que a obra de Kosinski, essencialmente, consiste.

Trailer de "Tron: O Legado", de Joseph Kosinski

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ministério da "Inducasão" (8)

De acordo com a edição do Jornal de Notícias de ontem, "todos os projectos desenvolvidos nas escolas - do desporto escolar aos clubes, planos de acção e tutorias - podem desaparecer. A suspensão consta da proposta de despacho de organização do ano lectivo que o Ministério da Educação enviou a associações e sindicatos.

"Qualquer atribuição de horas a agrupamentos ou escolas não agrupadas para dinamização de projectos, ainda que aprovados por serviços do Ministério da Educação, extingue-se com a entrada em vigor do presente despacho, carecendo de nova autorização do membro do Governo responsável pela área da Educação", lê-se na proposta de despacho de organização do ano lectivo (2011/2012) que o ME enviou a sindicatos e associações.

Mesmo sem a intenção declarada de suspensão, o diploma reduz "brutalmente" (alegam os professores) o crédito de horas das escolas e a redução da componente lectiva dos docentes pelo exercício de muitos cargos intermédios, o que já inviabiliza, por si, a continuidade dos projectos, garantem ao JN dirigentes sindicais e de associações de directores.
Se a proposta de despacho for aprovada em Conselho de Ministros sem alterações, a partir de Setembro, garantem directores e dirigentes sindicais ao JN, as escolas tornam-se estruturas "ingovernáveis" e regidas estritamente "por uma visão economicista em vez de pedagógica".
O Conselho de Escolas - órgão consultivo do ME - aprovou um parecer contra a proposta, por unanimidade. Os directores defendem que a proposta do Governo "desrespeita" princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo, ao impedir as escolas, por redução de recursos humanos e dos créditos horários, de assegurarem projectos e apoios aos alunos.
"As propostas ora apresentadas comprometem o apoio educativo, a escola a tempo inteiro, as actividades (aulas) de substituição, o desporto escolar, o desenvolvimento de projectos educativos, o cumprimento das Metas de Aprendizagem, os objectivos a atingir até 2015 e, ainda, dificultam sobremaneira a gestão e administração da Escola Pública" - lê-se no parecer, aprovado dia 7."

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"A Mãe" - a música celestial de Rodrigo Leão

"A Mãe", último disco de originais de Rodrigo Leão & Cinema Ensemble é uma verdadeira obra-prima de um autor singular, que tem construído autênticas bandas sonoras povoadas de cinefilia e abstraccionismo. "A Mãe" reúne um conjunto de canções e instrumentais belíssimos compostos com uma sensibilidade intemporal. "Vida Tão Estranha", "This Light Holds So Many Colours", "Cathy" e "Sleepless Heart" são quatro dos temas que, há medida que se vão ouvindo uma e outra vez, dão asas à imaginação do ouvinte e elevam a alma. São trabalhos como este que nos permitem perceber quão perfeita foi a obra de Deus ao criar o Homem: dotar-nos de sentidos capazes de apreciar a Beleza e fazer Arte.


"Cathy" - Rodrigo Leão & Cinema Ensemble (voz de Neil Hannon)
 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

" A Mãe" - disco de Rodrigo Leão

A reputada revista francesa Les Inrockuptibles colocou o último disco de originais de Rodrigo Leão, "A Mãe", no quinto lugar da lista dos vinte melhores álbuns de 2010 na categoria World/Jazz. Motivo mais que justificado para, amanhã, repor o texto crítico que aqui postei em Agosto de 2009, a propósito do mesmo CD.

domingo, 9 de janeiro de 2011

"Harry Potter e os Talismãs da Morte" (1ª parte) - um filme com direcção de fotografia de Eduardo Serra

Já todos conhecem o aprendiz de feiticeiro, Harry Potter. É uma saga que já vendeu milhões de livros e foi (é) blockbuster cinematográfico, esgotando bilheteiras um pouco por todo o mundo. A primeira parte do último capítulo do atribulado percurso de Potter em direcção à adultez, traz a assinatura de David Yates nos comandos da adaptação da obra de J. K. Rowling. Mas o que mais se destaca, pelo menos aos olhos do cinéfilo português, é a fabulosa direcção de fotografia a cargo de Eduardo Serra. 

Se atentarmos à carreira deste singular artesão, verificamos a importância da dimensão cromática, dos jogos de luz e sombras, enfim, um lado plástico único que caracteriza e distingue as películas em que Serra colabora. Vejamos dois exemplos: "What Dreams May Come" (1998), de Vincent Ward (neste filme, o céu e o inferno são telas em movimento); "O Protegido" (2000), de M. Night, Shyamalan (no melhor filme deste cineasta, o chiaroscuro eleva o thriller americano a um patamar estético irreplicável). 

Escusado será aqui concentrarmo-nos na análise do mais recente filme de David Yates, já que nada acrescentaria ao que o espectador já sabe da épica saga infanto-juvenil. Refira-se, no entanto, que é um filme que assegura cerca de 150 minutos bem passados em família, aproximando, finalmente, o espírito das aventuras de Harry Potter à trilogia "O Senhor dos Anéis". Quero com isto dizer que "Harry Potter e os Talismãs da Morte" é uma obra mais adulta que as anteriores, facto que faz todo o sentido, uma vez que também acompanha o crescimento dos heróis e dos fãs que acompanham a série desde a infância. Para rematar tal envelhecimento, a fotografia de Eduardo Serra (que esperemos se mantenha no próximo capítulo) assume um papel insubstituível ao dar às imagens a luz e a sombra necessárias às trevas que ameaçam avançar sobre o mundo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Frase do dia

Sou totalmente a favor do casamento gay entre os actuais políticos... Tudo o que contribuir para que eles não se reproduzam, é bom para o país.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Marillion "Live From Cadogan Hall"

Já aqui se desenharam várias reflexões em torno da etérea música dos Marillion. Com uma carreira edificada em dezena e meia de discos conceptuais, plenos de construções melódicas sublimes, a banda britânica editou em Dezembro último, em formato DVD e CD, "Live From Cadogan Hall". Trata-se de um concerto gravado em Dezembro de 2009, que regista para memória futura a digressão "Less Is More" (disco já aqui analisado num post de Outubro de 2009). Como sabemos, este álbum foi concebido como revisitação de canções menos conhecidas dos Marillion ("Memory Of Water", "Hard as Love"), transfigurando-as em formato acústico. As músicas ganharam um novo fôlego graças à textura orgânica dos arranjos e, à semelhança das obras anteriores do grupo, em "Less is More", o todo acabou por não se reduzir a uma mera soma de partes, sendo, portanto, imprescindível escutar atentamente o disco do princípio ao fim.

O concerto, esse, é sublime. A primeira parte é constituída pelo alinhamento de "Less is More", cabendo à segunda a reformulação de clássicos como "No One Can" e "Beautiful". Para quem, como eu, assistiu ao concerto da dita digressão em Março do ano passado, em Lousada, tem aqui mais um disco para ouvir e guardar religiosamente.

"Live Form Cadogan Hall" - Marillion
http://www.youtube.com/watch?v=fhSzH2Q8ltw

domingo, 2 de janeiro de 2011

"A Origem" - o cinema mental de Christopher Nolan

Christopher Nolan tem, desde o soberbo "Memento", alicerçado uma carreira de autor, que se arrisca a ficar na História da Sétima Arte como o melhor realizador da sua geração. Faltava, aliás, insuflar novo sangue numa hollywood empalidecida desde a década de noventa (Tarantino foi uma das raríssimas excepções). O seu último filme, "A Origem", leva ao extremo as premissas das películas anteriores (sobretudo, "Insomnia" e "The Prestige"), penetrando nas profundezas da mente humana e aprofundando a sua pessoal reflexão em torno da ilusão.

Em "A Origem" instalamo-nos, enquanto espectadores, numa espécie de alegoria da caverna platónica, questionano-se, permanentemente, o que é o real. Neste sentido, o filme pode ser entendido como uma densa indagação ontológica, metaforizando também o cinema, simultaneamente, como arte de sombras e arquétipos do real.

"A Origem" é uma obra visualmente fascinante, mas que, tendo em conta a complexidade do argumento, exige, ao cinéfilo, plena concentração, o que faz deste um filme com sentido de ousadia e risco. Uma excelente forma de começar o ano!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Dia Mundial da Paz

A criação do Dia Mundial da Paz é da responsabilidade da Papa Paulo VI e comemora-se desde 1968. Alertar a Humanidade e os poderes políticos para a promoção da Paz e tornar a vida mais justa foram os motivos que levaram à criação deste dia.

Esperemos que em 2011 a sociedade global seja, pelo menos, um pouco mais global na distribuição da riqueza, da justiça, da saúde e da Paz.

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...