sábado, 11 de agosto de 2018

"Blindspot" - Onde as mulheres são as heroínas

Blindspot, a série de Martin Gero que já teve três temporadas, é a corroboração de um novo paradigma na ficção audiovisual: agora, o protagonismo, não só de dramas ou comédias românticas mas também de filmes e séries de ação, é, definitivamente, das mulheres.

Em Blindspot elas pensam, solucionam, planeiam, decidem e, sobretudo, lideram e lutam melhor do que os homens.

Outro aspeto curioso da série televisiva é o facto de as action hero serem heroínas e vilãs, pelo que não se trata da entrega idílica dos destinos do mundo às mulheres, pois elas, tal como, tradicionalmente, os homens, são capazes de tomar as melhores e as piores decisões (no sentido de intencionalmente acarretarem as melhores e as piores consequências).


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Estado do Mundo (49) - O comunismo no mundo

Até ao final do ano, a inflação na Venezuela pode chegar a um milhão por cento, caso o (des)Governo de Nicolás Maduro continue a imprimir dinheiro para tapar o seu descomunal buraco orçamental. O aviso foi feito por especialistas do Fundo Monetário Internacional, que acrescentam que, com estes números, a economia venezuelana deverá encolher 18% em 2018.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

"Como Cães Selvagens" - Schrader, o resistente

Paul Schrader é, sobretudo, reconhecido como argumentista de alguns dos filmes mais icónicos de Martin Scorsese (Taxi Driver, O Touro Enraivecido, A Última Tentação de Cristo e Por Um Fio), embora, em boa verdade, tenha mantido uma das carreiras mais regulares (e singulares!) do cinema independente norte-americano dos últimos 40 anos. Para citar apenas dois exemplos, foi ele quem realizou American Gigolo (1980) e A Felina (1982).

Como Cães Selvagens é o seu penúltimo filme (até à data) e nele volta a trabalhar com dois dos seus atores-fetiche: Nicolas Cage e Willem Dafoe, que aqui desempenham os papéis de Troy e Mad Dog, dois ex-presidiários que, unindo esforços com um terceiro compincha, de nome Diesel (um fabuloso Christopher Matthew Cook), decidem aceitar um último contrato de um mafioso (interpretado pelo próprio Schrader), esperando desse modo mudar as suas vidas e abandonar o mundo do crime. Mas nada corre da forma esperada e a tragédia abate-se sobre os três criminosos. Ou não fosse esta uma obra de Schrader.

Como Cães Selvagens é uma comédia nigérrima, que adapta uma novela de Edward Bunker (ele próprio com um historial de crimes e prisões) e que se assume como uma divertida homenagem ao grande Humphrey Bogart, ator clássico que, no seu tempo, também desempenhou papéis de pequenos criminosos caídos em desgraça.

Não é um dos melhores filmes de Paul Schrader, mas regista, ainda assim, as suas principais marcas autorais. O que significa que quem escolher ver esta fita sem saber ao que vai (por exemplo, achando que é mais um filme de ação com Nicolas Cage) ficará desorientado e dececionado. Salvo as devidas diferenças, é como assistir, por acaso, a películas de David Lynch ou Terry Gilliam.

domingo, 5 de agosto de 2018

"Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" - Luc Besson na sua praia

Publicada entre 1967 e 2010, a célebre banda desenhada (BD) francesa Valérian e Laureline foi um dos elementos-chave que esteve na génese de A Guerra das Estrelas, o episódio IV (mas cronologicamente a primeira produção da icónica série de George Lucas) realizado em 1977. 

Luc Besson, desde a infância fã da referida BD e cineasta que ostenta os melhores pergaminhos na área do cinema do cinema de ficção científica (são dele as fitas O Último Combate, O 5º Elemento e Lucy), transpôs agora para a tela a adaptação mais fiel de Valérian e Laureline naquele que ficará como o melhor filme de entretenimento do verão de 2017 - Valerian e a Cidade dos Mil Planetas.

Com Dane DeHaan e a belíssima Cara Delevigne nos papéis principais (eles são, precisamente, Valerian e Laureline, agentes espaciais que procuram manter a paz entre os mundos dos humanos e de civilizações extraterrestres, que embarcam numa missão para proteger a diversa metrópole Alpha), que outro cineasta conseguiria reunir no mesmo filme um elenco constituído por nomes como Ethan Hawke, Rutger Hauer, Herbie Hancock, Clive Owen, Mathieu Kassovitz, John Goodman e até Rhianna? Se mais não bastasse, eis a prova do prestígio internacional do realizador gaulês, indubitavelmente um autor de culto.

sábado, 4 de agosto de 2018

"Doutor Estranho" - Bom Marvel de Scott Derrickson

Mais um filme saído dos estúdios da Marvel, desta vez em torno de Stephen Strange, um prestigiado, mas arrogante, neurocirurgião novaiorquino que, após um grave acidente de automóvel, fica com as mãos debilitadas, comprometendo assim a capacidade para continuar o seu trabalho. Num último esforço para encontrar a cura, viaja para os Himalaias em busca de um enigmático curandeiro. Aí, o Doutor Estranho descobre um universo multidimensional onde o Bem e o Mal estão em guerra perpétua, submetendo-se a um intenso treino psíquico que o ajudará a explorar dentro de si poderes sobrenaturais num processo de autoconhecimento que o conduzirá à missão da sua vida de ora em diante: a luta contra o Mal.

Não é o filme definitivo sobre super-heróis (acho que esse já foi assinado por Richard Donner no Superman de 1978), mas a realização de Scott Derrickson é competente e Benedict Cumberbatch um improvável protagonista, o que por si só já justifica o visionamento da fita.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

"A Seita" - Fraquíssimo filme de Phil Joanou

Facto: Phil Joanou foi um dos realizadores-sensação surgidos no final da década de 80 do século XX. A corroborá-lo estão aí, para a posteridade, os filmes U2: Rattle And Hum (1988), Anjos Caídos (1990) e Desejos Finais (1992). O primeiro é uma brilhante lição sobre como o documentário pode ser grande cinema; o segundo é um policial como todos os policiais deveriam ser; o último é um thriller psicanalítico digno da ousadia estética de Hitchcock.

Todavia, a partir daí, Joanou, apesar de continuar a assinar filmes, eclipsou-se, transformando-se num tarefeiro de terceira categoria.

O seu último filme, A Seita (2016), pretende ser uma película de terror e, em boa verdade, parte de uma premissa interessante e que daria o mote para uma obra digna do melhor daquele género: em 1984, uma seita religiosa liderada por um psicopata, que se afirma extraterrestre, comete suicídio coletivo; 30 anos mais tarde, uma equipa de documentaristas regressa ao local do crime, acompanhada pela única sobrevivente. Contudo, este ponto de partida é completamente desperdiçado pelo vazio de ideias, quer do argumento quer da realização televisiva até à medula. Sobra, portanto, um filme inútil.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Estado da Nação (27) - Portugal democrático, um País desigual

A fortuna das 25 famílias mais ricas de Portugal equivale a 10% da riqueza nacional. De acordo com os números apresentados ontem pelo jornal i, 3849 milhões de euros é a fortuna avaliada da família Amorim, 1818 milhões de euros é a fortuna avaliada da família Alexandre Soares dos Santos, e 1463 milhões de euros é a fortuna avaliada dos herdeiros de Belmiro de Azevedo. "Entre os mais ricos estão, em quarto lugar, a família Guimarães de Mello, (...) com um total de 1456 milhões de euros. Segue-se António da Silva Rodrigues (...) na quinta posição, com uma fortuna avaliada em 1050 milhões de euros."

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Estado da Nação (26) - A coordenadora do BE a tratar os portugueses como idiotas

Ontem, Catarina Martins recuou naquilo que foram as suas posições sobre o caso Roubos, perdão, Robles. Em entrevista à RTP-3, assumiu "um erro de análise da comissão política" quando saiu em defesa do agora ex-vereador da Câmara de Lisboa e, qual Ministro da Defesa da geringonça, admitiu que apenas soube que o prédio de Robles existia pelas notícias. Sempre com o discurso pensado para branquear a imagem do colega de partido, a coordenadora do BE insistiu que este atuou com "lisura" e que "não existiu nenhum aproveitamento do cargo", embora reconheça que "havia uma opção da sua família que contrariava aquilo que seriam os princípios do Bloco". Todavia, o novo registo da atriz só surge passados quatro dias após o eclodir da polémica provocada pelo Jornal Económico ao noticiar que Ricardo Robles tinha comprado um imóvel por 347 mil euros a meias com a irmã em Lisboa, cujo investimento de cerca de 600 mil euros em reabilitação permitiu que uma imobiliária de luxo avaliasse o prédio em 5,7 milhões de euros. Caso tivessem conseguido vender o imóvel nos seis meses em que esteve no catálogo da Christie's, Robles e a irmã teriam mais-valias de vários milhões de euros.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Estado da Nação (25) - A gentrificação, segundo o Bloco de Esquerda

Ricardo Robles, vereador do Bloco de Esquerda (BE) na Câmara Municipal de Lisboa, comprou com a irmã um prédio em Alfama pelo valor de 347 mil euros, colocando-o à venda por 5,7 milhões na leiloeira mais in, a Christie's. Homem coerente e digno representante da esquerda caviar, em março de 2017, em entrevista ao site esquerda.net postulou o seguinte:

"Uma cidade como Lisboa não se pode reduzir a uma montra para turistas que expulsa habitantes. Não é possível repovoar o centro quando a esmagadora maioria das intervenções de reabilitação urbana é para hotéis de luxo ou premeia a especulação imobiliária."

Mais tarde, nesse mesmo ano, numa outra entrevista, desta vez ao blogue Leonismos, advoga o que passo a citar:

"A vida de quem cá vive piorou bastante no acesso à habitação, pois a procura de Lisboa, conjugada com a política dos vistos gold, provocou um aumento nos preços e na habitação que, literalmente, expulsa os lisboetas de locais onde antigamente habitavam."

É esta a ética da esquerda (pseudo)democrática em Portugal. Fosse um qualquer vereador de direita e o BE exigiria a sua rápida demissão, quanto mais não fosse sob o pretexto de que nem tudo o que é legal é eticamente aceitável. Alguém falou em incoerência? Ou hipocrisia?

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Estado do Mundo (48) - Barbárie disfarçada de desporto

Os desmandos e violências cometidos, na Rússia e um pouco por toda a Europa, por fãs daquilo que devia ser um desporto, transformam o futebol em pretexto para a barbárie. Chegará o dia em que os governos do Ocidente compreenderão que urge devolver o futebol à sua essência primordial e pôr fim à loucura que hoje o rodeia.

domingo, 29 de julho de 2018

"Miles Ahead" - Miles forever

Don Cheadle, com certeza por devoção à obra de Miles Davis (mas só os insensíveis é que não o são!), quis transpor para o grande ecrã a sua própria visão acerca do maior trompetista do século XX (e, provavelmente, o músico mais influente dos últimos cem anos). O resultado é Miles Ahead, um singular filme realizado por aquele ator, que aqui também assume o papel principal, apanhando a voz, a figura e os trejeitos do autor de Kind of Blue.

A premissa do argumento é original: na década de 70, um jornalista freelancer interrompe o afastamento autoimposto de Miles Davis das luzes da ribalta (vistos hoje como anos de letargia e bloqueio criativo), invadindo a sua casa sob o pretexto de conseguir entrevistar o músico de jazz acerca de rumores que anunciavam o seu regresso à cena artística. A partir daqui, somos confrontados com uma série de mal-entendidos que envolvem uma suposta gravação em estúdio de temas inéditos do músico, que vive agora dependente de drogas e acorrentado a memórias do passado, nomeadamente à lembrança da mulher que amou e se tornou capa icónica de um dos seus álbuns - Frances Taylor, capa do disco Someday My Prince Will Come (1961).

A realização é dinâmica e o interesse principal de Don Cheadle parece ser mais o de fazer de Davis personagem de um drama do que em filmar um biopic. Nesse sentido, Miles Ahead está mais próximo de Love and Mercy, de Bill Pohlad (2015), do que de The Doors, de Oliver Stone (1991).

No final do filme apenas vemos a data de nascimento de Miles Davis, como se Cheadle nos quisesse dizer que a música de Miles Davis ficará para sempre.

sábado, 28 de julho de 2018

Estado do Mundo (47) - Papa de esquerda gosta de Lula

O Papa Francisco ofereceu a Lula da Silva um terço, que mandou entregar na prisão de Curitiba com uma mensagem pessoal de amizade. No entanto, o Sumo Pontífice deveria ter sido mais sensato: Lula não é um mártir, é antes (mais) um político que está preso por atos de corrupção e tráfico de influências.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Life on Mars

Entre maio de 2012 e dezembro de 2015, o radar Marsis recolheu dados que permitem aos cientistas supor que existe água em estado líquido em Marte. Era uma notícia há muito aguardada pela comunidade científica (e que alimentou tanta literatura, música e filmes) e possivelmente o primeiro passo para que um dia haja vida humana no Planeta Vermelho.


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Banda sonora para o verão (46) - Jethro Tull: "50 for 50"

Para assinalar 50 anos de carreira, os históricos Jethro Tull, do flautista mais icónico do rock, Ian Anderson, acabam de editar 50 for 50, uma retrospetiva de cinco décadas de carreira. Não substitui os álbuns originais onde cada uma das 50 partes deste acervo se inclui e adquire o seu primordial sentido, claro, mas é ainda assim uma tremenda coletânea e uma possibilidade de (re)descoberta para os mais esquecidos ou desatentos.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Estado da Nação (24) - Afetos interpartidários

Recentemente, no Parlamento, à afirmação de Fernando Negrão de que a geringonça "não está no coração dos portugueses", o primeiro-ministro jurou que "não só está no coração como na cabeça". Vai daí, Catarina Martins, atriz principal do BE, quis saber se a geringonça "continua no coração do Governo". E Costa, desempenhando agora o papel do amante cauteloso, replicou: "Não temos de pôr o pé no travão, mas temos de moderar a velocidade". Uma (tele)novela comovente!

terça-feira, 24 de julho de 2018

"Não te preocupes, não irá longe a pé" - um delicado filme de Gus Van Sant

Gus Van Sant talvez seja o maior ícone do que se convencionou chamar de cinema independente norte-americano. Em boa verdade, tal designação é já um género de cinema per si. Todavia, podemos dividir os filmes de Van Sant entre aqueles que obedecem a uma narrativa clássica, de cariz, diria mais académico, e aqueles que transcendem o cânone e assumem uma matriz formal mais livre e não diretamente identificável num qualquer padrão estético. De qualquer modo, em todos eles há o toque pessoal bem evidenciado do autor de O Bom Rebelde (1987). Não te preocupes, não irá longe a pé enquadra-se na primeira categoria, também ela correspondente à vertente mais popular do cineasta.

O filme baseia-se na autobiografia de John Callahan, cartoonista de traço singular, autor sarcástico, senhor de um humor corrosivo e frequentemente polémico graças às suas vinhetas politicamente incorretas.

Van Sant explora com sensibilidade e classe a dramática situação do protagonista, que ficou confinado à cadeira de rodas após um grave acidente de automóvel provocado pela sua dependência do álcool. Orfandade, desenraizamento, sexo, identidade, psicoterapias, amizade, perdão, morte e redenção são alguns dos temas caros a Gus Van Sant e que atravessam toda a sua filmografia, incluíndo esta delicada película, brilhantemente protagonizada por Joaquin Phoenix. De facto, Phoenix, sempre subtil e no tom certo, agarrou a personagem transmutando-se nela própria, com toda a verdade que o labor de ator deveras exige. Uma palavra de louvor também aos atores que gravitam à sua volta, nomeadamente a Jonah Hill (num impressionante registo de contenção), Jack Black (numa breve mas extraordinária performance), Kim Gordon (a mítica fundadora dos Sonic Youth) e Beth Ditto (sim, essa mesmo, a ex-vocalista dos Gossip, aqui quase irreconhecível).

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Estado da Nação (23) - A igualdade de oportunidades, segundo o PS (2.1.)


O antecessor do atual autarca de Castelo Branco (cf. post de 22 de julho), Joaquim Morão (também do PS), está a ser investigado por suspeitas relacionadas com a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Idanha-a-Nova, da qual é provedor há 20 anos. A investigação incide sobre a construção de uma Unidade de Cuidados Continuados, obra no valor de 2,4 milhões de euros que foi adjudicada em 2010 à Constrope, uma empresa da qual o invejável amigo e financiador do engenheiro José Sócrates, Carlos Santos Silva, foi um dos donos. O curioso (e nada suspeito!) é que a concessão foi feita por ajuste direto, sem concurso público. E falamos apenas de 2,4 milhões de euros.

domingo, 22 de julho de 2018

Estado da Nação (22) - A igualdade de oportunidades, segundo o PS (2)

O Ministério Público está a investigar o atual Presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Guerra, do PS, por indícios de violação de diversas normas legais relacionadas com contratos públicos. O processo-crime, que corre no Departamento de Investigação e Ação Penal de Coimbra, incide sobre contratos celebrados em 2013 entre o  município local e uma empresa pertencente ao pai, ao sogro e a um tio da mulher. Em causa estão também outros contratos firmados pelo município com outras empresas em que Luís Guerra tem interesses diretos e indiretos, tudo no valor de 94 mil euros.

sábado, 21 de julho de 2018

Estado da Nação (21) - a igualdade de oportunidades, segundo o PS (1)

O Tribunal Judicial de Braga condenou o antigo Presidente da Câmara, Mesquita Machado (do PS), a três anos de prisão (com pena suspensa, como convém), no processo relacionado com a expropriação do quarteirão das "Convertidas". Para o tribunal, Mesquita Machado teve intenção de favorecer patrimonialmente a filha e o genro, lesando o erário público.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

"A Roda Gigante" - (mais uma) obra-prima de Woody Allen

Regresso do velho Woody Allen à sua melhor forma, A Roda Gigante figurará, com certeza, entre os seus melhores filmes. Como sempre, Allen revela-se um mestre na arte de dirigir atores, levando-os ao limite das suas competências. Kate Winslet está em estado de graça (na pele de uma espécie de Blanche DuBois); Justin Timberlake nunca foi tão bom ator quanto aqui; e descobre-se um grande Jim Belushi. Menções honrosas também  para a fotografia de Vittorio Storaro e para o argumento do próprio Allen. Uma obra-prima.




quinta-feira, 19 de julho de 2018

"Prantos, amores e outros desvarios" - pérolas sob a forma de short stories

Quando há dois ou três anos li Passagens fiquei arrebatado. Isto acontece-nos pontualmente na vida enquanto procuramos a Beleza - e onde encontrá-la senão na Arte? Acontece quando escutamos um disco que nos enche a alma, quando vemos um filme que nos eleva os sentidos e a razão em toda a plenitude, quando contemplamos um quadro sublime, quando assistimos àquela peça de teatro e a um certo espetáculo de dança ou quando, por entre tantos outros, concluímos a leitura de um certo livro e descobrimos que é por isto que a literatura continua a valer a pena e que o ofício da escrita deveria estar reservado apenas a alguns (brilhantes) artesãos. Como Teolinda Gersão. Brilhante escritora, com um percurso académico distinto e importantes prémios literários conquistados.

Vem isto a propósito de um dos grandes livros que deram à estampa em 2017 - Prantos, amores e outros desvarios. Nele se reúnem contos bem diversos e um refinado pequeno ensaio sobre futebol (Jogo Bravo). Teolinda Gersão consegue a proeza de experimentar diversos géneros literários sem perder identidade e sempre com a qualidade dos grandes romancistas.

Regresso ao ponto de partida desta humilde recensão (onde encontrar a beleza senão na Arte?), destacando o conto que encerra o livro (e também o mais extenso), Alice in thunderland, sobre a génese do clássico infanto-juvenil de Lewis Carroll na perspetiva da sua protagonista, a Alice real, que terá ficado para sempre - e tragicamente - fechada dentro daquele livro feito país das maravilhas. Leiam Prantos, amores e outros desvarios para saber porquê.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

"Star Trek: Além do Universo" - anódino entretenimento de Justin Lin

De Justin Lin provavelmente não se pedia mais do que continuar a olear o franchising de sucesso (sobretudo, nos EUA), Star Trek, que já fatura há cerca de seis décadas, mas o que se assistie em Star Trek: Além do Universo é um produto confrangedor, construído a partir de um argumento (co-assinado por Simon Pegg!) que em nada dignifica a mítica série de ficção.

terça-feira, 17 de julho de 2018

"Ronda das mil belas em frol" - Exortação ao erotismo

Mário de Carvalho é um mestre da arte do conto e confirma-o, uma vez mais, no livro Ronda das mil belas em frol, acervo conceptual de histórias curtas, mas nem por isso menores na sua importância ou na qualidade estética.

Mário de Carvalho domina e manipula a língua portuguesa em todo o esplendor, traçando naquela obra um retrato implacável, belo, assumidamente libidinoso e despudorado de encontros sexuais furtivos, passageiros e, por vezes, perversos.

Os contos ali reunidos são uma exortação, simultaneamente erógena e poética, à sexualidade hedonista escrita com a classe de um grande autor.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

"Sing Street" - Regresso à adolescência

De vez em quando surge um filme assim, capaz de nos fazer regressar à adolescência de forma tão certeira. John Carney, que já nos tinha embalado em melancolia musical feita cinema (Once e Begin Again), volta a fazê-lo, agora sob a forma de saudade dos sonhos adolescentes, em Sing Street.

O filme tem a força de um virtual teletransporte, como se de uma máquina do tempo se tratasse. É certo que Sing Street tem as suas limitações, mormente no que concerne às personagens, que nunca são aprofundadas - embora suponha que tal esquematização seja intencional. O objetivo é mesmo conduzir-nos, desde o início, até 1985 e à adolescência urbana em Dublin.

Gostar deste filme é não nos esquecermos de que, de algum modo, nós, adultos, também já fomos aqueles adolescentes. Pessoalmente, assisti à película como se estivesse, de facto, em meados da década de 80, com a mesma idade que o protagonista, a mesma relação com a escola, os mesmos colegas e amigos, os mesmos pais ausentes, o mesmo irmão, a mesma miúda por quem estava apaixonado e os mesmos sonhos.

Depois, ainda há a música pop - verdadeira e assumida homenagem a bandas como Duran Duran, The Cure, a-ha, The Jam ou a músicos como Joe Jackson. O Top of the pops da TV britânica podia ser o nosso Top+. Excelente!


domingo, 15 de julho de 2018

"Alien: Covenant" - Dos deuses e dos homens

O 2º tomo da prequela da saga Alien vem de novo assinada pelo mestre Ridley Scott, afirmando-se como o episódio mais profundo da série ao refletir sobre o poder e os riscos da ciência.

Alien: Covenant começa de forma desconcertante, recuando aos preparativos para a expedição Prometheus (título do filme anterior) num diálogo de contorno metafísico travado entre o andróide David e o seu criador, Peter Weyland. Daqui, saltamos para a expedição da nave colonizadora, Covenant, no ano de 2104. O objetivo é chegar ao planeta Origae-6 e testar o seu potencial para a adaptação e sobrevivência da espécie humana. Mas uma transmissão de rádio intercetada num planeta próximo altera os planos da viagem e encaminha a tripulação para um destino trágico. 

Michael Fassbender é brilhante na ambiguidade a que remete o espectador ao fundir as duas personagens que interpreta de forma superlativa (os andróides David e Walter). Todavia, o trunfo do filme é mesmo a realização certeira de Ridley Scott, que nunca cede a efeitos fáceis (e tão constantes na cinematografia sci-fi hodierna), dando espaço ao desenvolvimento das personagens e tempo aos planos geometricamente desenhados.

Fica também a reflexão filosófica sobre o destino da espécie humana e a sua substituição por um Deus ex machina.

sábado, 14 de julho de 2018

Estado do Mundo (46) - A ética não preocupa os "millennials"

De acordo com um estudo da EY, Fraud Survey 2017, que inquiriu 4100 pessoas em 41 países, a geração Y (adultos entre os 25 e os 34 anos), comummente designada por millennials, justifica a falta de ética como forma de ajudar o negócio a sobreviver ou como meio de aumentar os seus próprios benefícios.

E ainda há quem considere aquela geração como a mais bem formada de sempre?

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...