sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"Blackhat: Ameaça na Rede" - o lado negro da internet, por Michael Mann


Já estreou no início de 2015 e foi ignorado na cerimónia dos Óscares desse ano. Só agora vi o filme e fiquei impressionado: trata-se de um verdadeiro regresso de Michael Mann à sua melhor forma, a de um cineasta urbano empenhado na sua singular visão de cinema.

"Blackhat: Ameaça na Rede" é, na sua aparência, um filme de ação puro e duro, mas é, na sua essência, um drama político em torno do poder da internet sobre as agências secretas das maiores potências mundiais. Os mercados podem ser manipulados com relativa facilidade por hackers, centrais nucleares são potenciais alvos de programadores e piratas informáticos mal intencionados, e programas de desencriptação de ficheiros podem não ser usados por razões de espionagem e por motivos políticos, mesmo que em causa estejam milhares de vidas humanas.

E, depois, há aquela estética tão única, desde a fotografia até aos movimentos de câmara, passando pela bruma trágica que enleva as personagens. Uma obra-prima à altura de "Caçada ao Amanhecer" (1986) e "Heat - Cidade Sob Pressão" (1995).


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Prémios Nobel (6) - Literatura

O seu nome não constava no topo de nenhuma das listas de apostas. A sua vitória instalou a polémica ao dividir opiniões, como provavelmente nenhum outro Nobel da Literatura o fez. Mas Bob Dylan foi mesmo o escolhido pela Real Academia Sueca, "pela criação de novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana". 

Fiquei contente pela ousadia da Academia Sueca, apesar de preferir que a escolha tivesse recaído sobre Leonard Cohen - esse sim, além de poeta e cantautor, é um escritor com obra publicada e a merecer o estatuto de incontornável. Mas, concorde-se ou não com a Academia, goste-se mais ou menos de Dylan, a História do século XX - e mormente da cultura popular - passa obrigatoriamente pelo Sr. Robert Allen Zimmerman, comumente conhecido por Bob Dylan, que recuperou a tradição bárdica dando novos rumos à palavra cantada.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Prémio Nobel 2016 (5) - Paz

O Nobel da Paz foi atribuído ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos "esforços decisivos" para acabar com a guerra civil no país.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (4) - Química

A distinção na área da Química foi também para três cientistas: Jean-Pierre Sauvage (francês), Bernard L. Feringa (holandês) e Fraser Stoddart (escocês). Estes investigadores foram responsáveis pela "conceção e síntese de máquinas moleculares, que podem vir a ser usadas no desenvolvimento de novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia."

domingo, 23 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (3) - Física

Os vencedores do Prémio Nobel da Física, David J. Thouless, Duncan M. Haldane e Michael Kosterlitz foram distinguidos "pelas descobertas teóricas das transições da fase topológica e fases topológicas da matéria", segundo o anúncio da Real Academia Sueca das Ciências. Embora os três cientistas sejam de nacionalidade britânica, a maioria do seu trabalho é desenvolvido em universidades norte-americanas.

sábado, 22 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (2) - Medicina

O japonês Yoshinori Ohsumi foi distinguido por ter descoberto e esclarecido mecanismos no campo da autofagia. Trata-se de um processo celular que se efetua através da nutrição do organismo pelo consumo dos seus próprios tecidos, que se verifica, por exemplo, nos casos de jejum prolongado.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (1)

Em 1895, Alfred Nobel (1833-1896) dispôs, no seu último testamento, de grande parte da sua fortuna para a criação de um prémio que distinguisse contributos de excelência nas áreas da Física, da Química, da Medicina, da Literatura e da Paz (a distinção para as ciências económicas só foi acrescentada em 1968).

Os vencedores de 2016 terão direito a um prémio monetário de cerca de 834 mil euros cada.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Haiti também somos nós (4)

O furacão Matthew deixou um rasto de destruição nas Caraíbas, destruindo milhares de casas e inundando dezenas de localidades no Haiti, Bahamas e Cuba. O martirizado Haiti, ainda a recuperar do gravíssimo terramoto de 2010, foi o que mais danos materiais e humanos sofreu com a passagem do furacão: mais de um milhão de pessoas deslocadas e cerca de mil mortos. Muitas vítimas morreram soterradas nas habitações precárias destruídas pelo vento (com rajadas superiores a 230 Km/h) ou arrastadas pelas enxurradas que causaram inundações na ilha.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Jorge Jesus, o "imponente" impotente

É uma situação em que me sinto de certa forma mal porque me sinto 'imponente', não vou fazer parte do jogo.
Jorge Jesus, comentando a proibição de ir para o banco no jogo entre o Sporting e o Légia de Varsóvia, RTP, 27/09

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

"Crimson Peak: A Colina Vermelha" - um autor chamado Guillermo del Toro


Crimson Peak é um filme lindíssimo, um autêntico tratado de amor ao cinema. Plasticamente sublime, só é comparável ao que Coppola fez com Drácula de Bram Stoker. É, sobretudo, admirável se tivermos em conta que estamos perante o cineasta que nos trouxe o inane Batalha no Pacífico. Claro que no seu currículo, del Toro traz o brilhante O Labirinto do Fauno, pelo que, a partir de agora, há dois filmes incontornáveis deste autor.

Na Inglaterra do século XIX, uma jovem encontra inspiração em Mary Shelley para tentar a sua sorte como escritora de contos fantásticos. Entretanto, apaixona-se por um misterioso nobre, que a seduz ao mostrar-se interessado nos seus esquissos. Contra a vontade do seu pai (que é vítima de um bárbaro assassínio), a jovem casa com o barão, mudando-se para uma mansão vitoriana em ruínas, situada numa região montanhosa no norte do país. Todavia, o seu novo lar abriga fantasmas e entidades malignas que escondem um segredo terrífico.

Do ponto de vista estético, há planos que trazem à memória clássicos como E Tudo o Vento Levou, de Victor Fleming, imagens comparáveis a obras-primas da pintura, e diálogos ao nível da grande literatura romântica. Indubitavelmente, um dos melhores filmes de 2015. 


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Sócrates, o vampiro autofágico

Finalmente, José Sócrates revela o seu segredo: Eu já bebi o meu próprio sangue e estou com mais força do que nunca. [26/09]

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Banda sonora para o outono (38) - Bat For Lashes: "The Bride"


Saiu no verão, mas é um álbum outonal na forma (texturas sonoras delicadas, cordas dedilhadas com elegância, teclas afloradas com graciosidade, voz melancólica) e no conteúdo (é como se fosse a versão poética de "O Monte dos Vendavais", de Emily Brontë).

The Bride é um disco lindíssimo que, à semelhança da última obra de Nick Cave, vale pelo todo, não se reduzindo às suas (lindíssimas) canções.


domingo, 9 de outubro de 2016

"Os Luminares" - prodigiosa obra literária de Eleanor Catton


Romance histórico e thriller astrológico em simultâneo, Os Luminares é uma obra literária ambiciosa, original e inovadora: ambiciosa nas suas quase 900 páginas de prodigiosa narrativa; original pela história que conta (um mistério por resolver em 1866, em plena febre do ouro, na cidade de Hokitika, Nova Zelândia) e inovador, sobretudo, pela recuperação da estrutura dos romances vitorianos.

A corrida ao ouro, o tráfico de ópio, a prostituição e a expiação do passado de doze personagens, além de um intrincado mistério aparentemente insolúvel, revelam a singularidade desta obra-prima, iluminada por referências astrológicas, chaves simbólicas orientadoras do destino dos protagonistas. Surpreendente e viciante, trata-se de ficção urdida com um rigor estético impressionante.

Não tenhamos dúvidas, este enigmático romance de Eleanor Catton é incontornável, tendo sido justamente reconhecido com o Man Booker Prize 2013. Os Luminares é como um enorme cubo de Rubik, com camadas de narrativa que deslizam e se dispõem em novas formas, criando perspetivas insólitas e padrões inesperados.

sábado, 8 de outubro de 2016

"Os Jogos da Fome: A Revolta - Parte 1" - tédio em imagens em movimento


As sagas de ficção científica para público adolescente estão, definitivamente, na moda. Os Jogos da Fome adaptam para o grande ecrã a série de livros assinados por Suzanne Collins, mais uma escritora bafejada pela sorte de um contrato milionário com os estúdios de Hollywood, juntando-se a J.K. Rowling e George R.R. Martin.

Quanto ao 3º tomo da saga, está dividido em duas partes (efeito Harry Potter?) e consegue ser (ainda) mais aborrecido que o anterior, valendo, sobretudo, pela prestação sempre empenhada de Jennifer Lawrence. Um filme sobre uma distopia, que se tornou, ele próprio, distópico.


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Banda sonora para o outono (37) - Nick Cave: "Skeleton Tree"


Em 2015, Nick Cave perdeu um filho. Chamava-se Arthur, tinha 15 anos e morreu num brutal e inesperado acidente (caiu de uma ravina). Skeleton Tree foi composto e gravado durante o processo de luto, um luto sempre inacabado para pais que perderam um filho. A música que resulta desse período é uma viagem ao reino de Jesus Cristo, que tem como ponto de partida o inferno. Poemas metafísicos, pautas celestiais e voz sofrida. É como se o artista australiano vestisse a pele de Orfeu e embarcasse numa viagem sónica rumo às profundezas do Hades, não para resgatar Eurídice mas para salvar o filho - projeto inacabado de si próprio. 

Cave imagina quem o filho poderia ter sido se chegasse à velhice ou voltasse a nascer. Renasce Lázaro. Regressa Arthur.

sábado, 1 de outubro de 2016

Filmes tão maus, que são tão bons! (2) - "Navajo Joe" (1966), de Sergio Corbucci


Sergio Corbucci (realizador e argumentista de películas com Bud Spencer e Terence Hill) assina este inacreditável western-spaghetti protagonizado por um bronzeadíssimo Burt Reynolds, aqui no topo da sua forma física, fazendo o que melhor sabe: ser canastrão.

Reynolds é Navajo Joe, um índio que procura avidamente vingar o massacre perpetrado contra a sua tribo. Os responsáveis foram um grupo de foras-da-lei que ganha a vida a vender o escalpe de índios.

O filme está cheio de acrobacias de Reynolds, de zoom-in, de efeitos sonoros manhosos, de atores mal dobrados (a fita é uma co-produção italiano-espanhola, e tem muitos atores desses países) e tem uma banda sonora inesquecível do mestre Ennio Morricone (que, talvez para se demarcar de outras composições, assina aqui como Leo Nichols). Há até uma cena em que a marcha de um comboio é interrompida por troncos, mas, estranhamente, não se vê uma única árvore naquele deserto.

Ficam na memória a música e o tom cartoonesco de uma película que serviu com dignidade matinés de outros tempos em salas de cinema que há muito (infelizmente!) desapareceram.


Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...