Segundo a edição de ontem do jornal Público, o currículo profissional de Miguel Relvas no exercício de diversos cargos públicos permitiu-lhe concluir a sua licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, na Universidade Lusófona, em pouco mais de um ano.
Passos Coelho tem rapidamente de decidir se quer sacrificar o Governo para salvar Miguel Relvas, ou sacrificar Miguel Relvas para salvar o Governo. Porque a questão é simples: pode um país ser governado por gente que não merece confiança? Claro que não pode, e ainda pode menos quando os tempos são de grande sacrifício, sobretudo para as camadas da população mais desfavorecidas.
De há uns anos a esta parte, os portugueses habituaram-se a ver a população, mais ou menos manipulada, a perder o respeito por aqueles que a governam. E quando o povo perde o respeito por aqueles que o governam, então, todos estamos sujeitos à falta de respeito. Ora, sem respeito não há confiança, sem confiança não há economia e sem economia não há sociedade que resista.
Assim sendo, o primeiro-ministro devia precaver-se. Já não se trata de uma disputa jornalística ao estilo do diz tu, direi eu. Agora, o caso fia mais fino porque se trata da credibilidade de uma das mais velhas instituições do País: a instituição universitária. Por isso, a dita licenciatura tem de ser esclarecida. Desde logo, quem foram os júris que assinaram as várias peças do processo de equivalência, na medida em que não podemos crer que tal assunto tenha resultado de uma decisão unipessoal.
Faz mal Passos Coelho considerar a licenciatura em causa como um "não assunto". Porque, ou mata o assunto de uma forma definitiva, ou o "não assunto" passará a ser ele próprio, Passos Coelho. E nessa altura só lhe resta a demissão ou, em alternativa, a desconsideração dos portugueses.
O primeiro-ministro tem de decidir urgentemente se quer sacrificar o Governo para salvar o Miguel ou sacrificar o Miguel para salvar o Governo. Poderá, por exemplo, sugerir a Relvas que vá tirar um curso de Ciência Política para Paris...