sábado, 28 de agosto de 2021

"O Clube do Crime das Quintas-Feiras" - um bom divertimento para a "silly season"

Richard Osman conseguiu cumprir com sucesso o projeto pessoal de escrita de um primeiro romance. E desenganem-se aqueles que pensam que um livro comercial não pode ter qualidade. É que, em boa verdade, O Clube do Crime das Quintas-Feiras está muito bem escrito. Trata-se de uma obra leve, claro, mas com uma trama urdida com classe e personagens que facilmente transpõem os limites próprios da ficção para a realidade. Há, no entanto, um pormenor na estrutura narrativa que Osman poderia ter claramente evitado: a inserção de registos do diário da personagem Joyce. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

"O Ninho" - o vício do capital, segundo Sean Durkin

O Ninho é um espantoso filme de Sean Durkin (que já antes assinara o perturbador Martha Macy May Marlene). A ação situa-se na segunda metade da década de 80 e centra-se num família que se muda de Nova Iorque para Londres, movida pela ambição desmedida e sempre insatisfeita de um yuppie. Aquilo a que assistimos a seguir é a descida ao inferno em que se torna a vida quando é direcionada exclusivamente pela obsessão pelo capital.

Estamos perante uma obra impressionante (diria até impressionista), quase uma peça de câmara, rigorosamente escrita, realizada e interpretada. Sem dúvida, um dos melhores filmes estreados em 2020.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

"Um Crime em Windsor" - de S. J. Bennett

A silly season (também) pede leituras frescas e leves (não confundir com literatura de cordel). Nesse contexto, o recente Um Crime em Windsor, de S. J. Bennett, é um livro de mistério ao melhor estilo de Agatha Christie, mas agora, em vez de Miss Marple, tem  uma protagonista, no mínimo, insólita: a Rainha Isabel II. 

Com um fino sentido de humor, a autora inglesa imagina uma rainha arguta e extremamente perspicaz que, sempre que necessário e sem descurar os seus deveres reais, resolve crimes secretamente. 

Como bom entretenimento, vale a pena ler esta obra.

domingo, 22 de agosto de 2021

"A minha irmã é uma Serial Killer" - de Oyinkan Braithwaite

Este talvez seja o livro do verão de 2021. Vem com boas referências: venceu o British Books Awards Crime & Thriller 2020 e esteve nomeado para o Booker Prize 2019. Traz a assinatura de uma jovem escritora nigeriana, tem um ritmo trepidante e um sentido de humor mordaz. Ah!, e está-se mesmo a ver que é também um thriller (ainda que muito leve).

Não sei se justifica o hype gerado à sua volta, mas reconheço que as 230 páginas de A minha irmã é uma Serial Killer leem-se de uma assentada com prazer. Não é (ainda) grande literatura, mas é uma primeira obra competente. Boa para dias de estio. 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

"Um sentido para a vida" - recolha de ensaios de Antoine de Saint-Exupéry

O livro Um sentido para a vida resulta da compilação de textos filosóficos e crónicas jornalísticas do aviador-escritor Antoine de Saint-Exupéry, alguns deles publicados postumamente.

Nele exibe-se a profundidade humana do autor de O Principezinho, mas também a sua maestria como escritor maior.

Abordando as suas experiências como aviador e correspondente de guerra (na Guerra Civil de Espanha e na 2ª Guerra Mundial), Um sentido para a vida revela-nos um autor inconformado com o rumo que o século XX estava a tomar e pessimista em relação à natureza humana.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

"O Patriota" (2000) - Épico histórico de Roland Emmerich

À semelhança de outras fitas assinadas por Roland Emmerich, O Patriota envelheceu sem ganhar rugas. Clássico de boa memória, conta a história de um agricultor viúvo que organiza uma milícia para combater a coroa britânica em prol da independência dos Estados Unidos da América.

A estrutura narrativa do filme é exemplar e, uma vez mais, Emmerich aproxima o seu olhar ao de um cineasta como Spielberg, dando prioridade ao desenvolvimento do drama, que é, no fundo, a razão primordial que leva o público ao cinema.

Apenas uma nota mais crítica à unidimensionalidade dos oficiais ingleses, que em O Patriota surgem simplesmente para cumprir o papel de vilões, não dando possibilidade aos atores de desenvolverem as suas personagens. Dito de outro modo: mantêm sempre o mesmo registo, como se se tratassem de vilões da Spectre da série 007. De qualquer modo, ficaram os grandes desempenhos de Mel Gibson e Heath Ledger,

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

"Stargate" (1994) - Um clássico que não envelheceu

Há filmes que ganham com o passar dos anos. Stargate é um desses casos: um objeto de entretenimento no melhor espírito dos clássicos de aventuras assinadas por George Stevens, George Lucas ou Steven Spielberg.

Curiosamente, não gostei particularmente deste filme de Roland Emmerich quando o vi pela primeira vez, em 1994, mas uma revisão recente permitiu-me reavaliá-lo constatando que Stargate não envelheceu sequer um ano. É curioso verificar que o cineasta alemão há de retomar, em 2008, no filme 10.000 a.C. a tese de que as pirâmides do Egito terão sido construídas por uma civilização alienígena alguns milénios antes da data atribuída oficialmente pela ciência.

A narrativa é simples: o arqueólogo Daniel Jackson descobre como fazer funcionar um portal estelar descoberto debaixo de uma pirâmide. Então, o Coronel Jack O'Neil recebe a missão de acompanhar aquele arqueólogo e uma pequena equipa de soldados através do Stargate para explorar a galáxia do outro lado do portal.

Uma última nota de destaque para a qualidade dos efeitos especiais, bem simples mesmo para os padrões da época, mas que sobreviveram ao tempo - e já lá vão 27 anos!

sábado, 14 de agosto de 2021

"10.000 a.C." (2008) - Um entretenimento preciso

No subtítulo deste post, entenda-se o uso da palavra "preciso" no sentido de precisão. Refiro-me à gestão do tempo ou ao sentido de timing, poupando tempo desnecessário ao espectador com floreados narrativos acessórios.

Em boa verdade, Roland Emmerich, que em 2008 era já um cineasta experiente, proporciona ao público generalista pouco mais de 90 minutos de diversão garantida e aos mais exigentes fornece uma pequena lição de narrativa cinematográfica despretensiosa.

É certo que 10.000 a.C. está repleto de ingenuidade e boas intenções, mas não nos esqueçamos que essa é a essência do cinema clássico de aventuras. Além de que é uma película com a intensão clara de entreter, como anteriores registos do cineasta alemão (O Dia da Independência ou O Dia Depois de Amanhã, por exemplo).

Fica-nos uma viagem no tempo com o espírito dos melhores filmes série B de aventuras. Só não é um autêntico série B dada a dimensão da produção, mas é-o na estrutura e no ritmo narrativo, na caracterização das personagens e (sim) até na mensagem que apela ao entendimento fraterno, à união entre os povos e ao melhor do multiculturalismo.

10.000 a.C. é um filme rápido, eficaz, sem vedetas, dirigido por um realizador de presença discreta e ao serviço do objeto final.



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

"Veneno de Cobra" (1955) - de Michael Curtiz

Em 1955, Michael Curtiz, icónico artesão do cinema clássico norte-americano, realizou o filme de Natal menos natalício de que há memória. Trata-se de uma comédia perversa, de seu nome Veneno de Cobra (no original, We're No Angels), que tem por protagonistas Humphrey Bogart (num registo atípico, mostrando todo o seu talento como ator), Aldo Rey e Peter Ustinov, interpretando três foragidos da prisão francesa de máxima segurança da Ilha do Diabo. Os nossos (anti-)heróis planeiam assaltar uma honesta família de comerciantes e escapar num barco, mas acabam por se enternecer com os problemas financeiros e dramas românticos da simpática família, resolvendo (no mínimo, de forma moralmente questionável) os seus problemas, precisamente na noite de Natal.

Um filme simples, com diálogos inteligentes e hilariantes, desenhado com o rigor formal a que Curtiz sempre nos habituou (e deslumbrou).

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

"Barbara" (2017), de Mathieu Almaric - Uma artista inescrutável

Barbara foi uma influente cantora e compositora francesa, cuja vida tumultuosa e inconstância emocional sempre se refletiram nas suas intensas, profundas e introspetivas baladas. Uma incontestável rainha da chanson française que inspirou Mathieu Almaric a criar uma obra cinematográfica com bastas camadas que espelham uma icónica mas, na realidade, inescrutável Barbara.

O filme é brilhante, afirmando Almaric como um cineasta com um olhar pessoalíssimo sobre as personagens e os seus conflitos interiores.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

"Nada", de Janne Teller - A infância na era do consumismo

Janne Teller é uma conceituada autora dinamarquesa de origem germano-austríaca. Estudou macroeconomia, trabalhou na ONU e na UE nas áreas da resolução de conflitos e questões humanitárias em muitos países, especialmente em África, onde viveu durante vários anos.

Nada é um romance polémico (chegou a ser proibido, vejam lá, na Dinamarca), no qual Teller ensaia uma narrativa cruel e amarga em torno da perceção que as crianças ocidentais têm acerca da dignidade humana e do sentido da existência.

A história arranca com um rapaz de doze anos, de nome Pierre Anthon, que acha que nada vale a pena e que a vida, tal como a morte, não tem qualquer sentido. No primeiro dia de aulas do ano letivo, manifesta isso mesmo aos colegas, abandonando a sala de aula para se refugiar, desse dia em diante, no ramo de uma ameixeira. Em vão, os seus colegas recorrem a um sem-número de subterfúgios para o tirar da árvore, pelo que decidem então pôr em prática um plano: fazer uma "pilha de significado". O que significa que cada um deve dar algo que tenha significado para si, mas com uma condição: devem ser os outros a decidir. A partir daqui as personagens criam as condições para se imporem exigências extremas e colocar-se em prática a instrumentalização do outro, num microcosmos sedento de vontade em humilhar e até violar a dignidade da pessoa humana.

Trata-se de uma obra literária que deveria constar do Plano Nacional de Leitura do Ministério da Educação. Talvez propondo-se esta opção de leitura, seguida de debate, no décimo ano de escolaridade.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

"A Noite dos Reis" - de Philippe Lacôte

Segunda longa-metragem do costa-marfinês Philippe Lacôte, A Noite dos Reis passa-se no interior da super-prisão MACA, na Costa do Marfim, um mundo à parte, dirigido pelos próprios reclusos, com os seus próprios códigos e leis. Um novo prisioneiro, qual Sheherazade das Mil e Uma Noites, é forçado a tornar-se o "contador de histórias" da prisão, pretexto para Lacôte criar uma parábola para a história recente da Costa do Marfim e, por que não, do próprio continente africano violentado por conflitos e guerras tribais intermináveis.

Um filme pungente, que encena uma dramaturgia dilacerante e nos transporta para uma África distante de exotismos e de lugares-comuns.



domingo, 8 de agosto de 2021

Para refletir (3)


A lei do ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos. 

Gandhi (1869-1948), fundador do Estado moderno indiano

sábado, 7 de agosto de 2021

"Contos de um Verão Negro" - de Damiano e Fabio D'Innocenzo

No início de Contos de um Verão Negro o narrador afirma: "o que se segue é inspirado por uma história verdadeira; a história verdadeira é inspirada por uma mentira; a mentira não é lá muito inspirada". Fica dado o mote para o que se segue: uma narrativa nada agradável que, pelo contrário, explora histórias (talvez seja melhor dizer pequenas narrativas que se entrelaçam) que revelam o pior do ser humano (ou, pelo menos, de uma certa classe média baixa italiana).  

Efetivamente, os irmãos D'Innocenzo, que assinam, simultaneamente, o argumento e a realização (em 2020, o filme arrecadou o Urso de Prata para melhor argumento no Festival de Berlim), não revelam qualquer esperança na humanidade (nem sequer carinho pelos seus personagens). Nestes Contos de um Verão Negro ninguém sai incólume, sobretudo as crianças. Os adultos são eternos petizes imaturos (que transformam a sua fragilidade em perversidade) sem qualquer capacidade para enfrentar obstáculos hodiernos e muito menos para servirem de (bons) exemplos para os seus filhos. Por sua vez, as crianças são vítimas do egoísmo, do desamor e da crueldade dos pais. É também por aqui que se encontra a maior vulnerabilidade da obra (acutilante) de Damiano e Fabio D'Innocenzo.

Ao lançar às urtigas qualquer possibilidade de ligação emocional (ou sequer algum resquício de empatia) do espectador com os personagens, revela uma total ausência de pathos. É pena, porque, verdade seja dita, estamos perante uma obra que expõe de modo cru e implacável a era do vazio (ético e afetivo), em que os laços comunitários são apenas um ténue véu apolíneo que mal consegue rebuçar a essência dionisíaca que facilmente os desfaz. Como assegura um adulto, já próximo do final do filme, o que podemos pretender mais da vida quando temos uma mesa posta com mortadela, mozarela e vinho?

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

"O Pai" - de Florian Zeller

Anthony, de 83 anos, recebe a visita regular da sua filha. Aparentemente, o octogenário vive orgulhosamente só, no seu apartamento, contra a vontade daquela, que, devido aos graves sinais de demência que o pai claramente revela, insiste em contratar uma nova cuidadora (Anthony terá recusado as cuidadoras anteriores).

Se este é o início do filme O Pai, modelarmente escrito e realizado por Florian Zeller, rapidamente descobrimos que estamos a assistir à construção e reconfiguração do complexo e intricado puzzle em que se tornou a mente de Anthony. O seu mundo interior, severamente estilhaçado pelos efeitos da doença de Alzheimer, determina o modo como perceciona o real, que se confunde com a sua mente turbada. A filha e a cuidadora são a mesma pessoa? Quem é o companheiro da filha? A nova cuidadora é uma projeção da filha que faleceu? Ser bailarino com talento para sapateado corresponderá a um sonho de infância recalcado?

No fim, ficamos inevitavelmente comovidos com a impressionante interpretação do outro Anthony, o Hopkins, sempre no tom certo e com a expressão ajustada. Esquecemo-nos que estamos a ver um filme com um rosto conhecido por todos. Anthony é inteiramente o ator que lhe dá corpo, alma e voz. A realização de Zeller é subtil, sempre comprometido com a história e ao serviço dos atores, sobretudo daquele que é, indubitavelmente, um dos melhores de sempre.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

"O Rei de Staten Island" (2020) - de Judd Apatow

Judd Apatow é um dos comediantes, guionistas, produtores e realizadores mais interessantes dos últimos trinta anos. A sua prolífica carreira inclui a assinatura de filmes tão hilariantes e singulares (no sentido de não se limitarem a repetir fórmulas, antes evidenciado marcas do seu autor) como Virgem aos 40 e Aguenta-te aos 40!. A sua obra mais recente, O Rei de Staten Island, é uma comédia brilhante sobre um adolescente tardio que vive desorientado desde a morte do seu pai, um bombeiro que morreu em serviço. Scott, o protagonista, tem já 24 anos mas ainda vive com a mãe, não concluiu o ensino secundário, está desempregado e sem vontade de encontrar trabalho, passa os dias a fumar erva e a exercitar as suas competências como tatuador, embora o seu talento como desenhador seja, no mínimo, peculiar.

Apatow dá ao filme um sentido de espontaneidade, como se tudo fosse simples captação da realidade em bruto. Para esse realismo muito contribui a excelência dos atores e do argumento baseado na vida do ator principal, Pete Davidson. Estamos, portanto, perante um curioso exercício de autoficção. 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

"Bill e Ted salvam o universo" (2020) - de Dean Parisot

Se aproveitar as possibilidades de uma máquina do tempo para reunir Mozart, Louis Armstrong e Jimi Hendrix numa superbanda de rock sinfónico parece ser uma ideia engraçada, o terceiro filme da saga iniciada em 1989 por Stephen Herek (A Fantástica Aventura de Bill e Ted) encarrega-se de nos mostrar que não bastam boas premissas para construir boas histórias e fazer bons filmes.

Na verdade, Bill e Ted salvam o universo é uma comédia anódina, que se limita a clonar fórmulas gastas com propósitos inteiramente comerciais. A evitar!




terça-feira, 3 de agosto de 2021

"Almoço de Domingo" - Rui Nabeiro por José Luís Peixoto

O último romance de José Luís Peixoto é uma sentida homenagem ao ilustre comendador Rui Nabeiro, fundador da Delta.

Almoço de Domingo percorre os temas centrais da obra literária de JLP: a família, as raízes, a inexorabilidade do tempo e a memória enquanto complexo e misterioso puzzle cujas peças são compostas por instantes que já não existem senão no espírito de quem lhes sobreviveu.

Dividido em três partes (26, 27 e 28 de Março de 2021, três dias em que se percorre uma vida inteira) nas quais o narrador evoca momentos fundamentais da vida de Nabeiro, o livro tem todas as marcas distintivas da prosa poética do autor. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

"Presos no Tempo" (2021) - de M. Night Shyamalan

Olvidável retorno de Shyamalan ao cinema, Presos no Tempo é um drama patético, que não se percebe bem se é ficção científica, thriller, terror ou mistério. No fim, ficam os despojos de uma comédia tola involuntária, que, no limite, se compreenderia se o seu autor fosse Ed Wood (para quem não sabe, Ed Wood ficou conhecido por ter concebido alguns dos piores filmes da história do cinema, mas mantendo sempre a ambição "visionária" de fazer obras à altura de Citizen Kane).

Quem assistir a Presos no Tempo desconhecendo obras-primas como O Sexto Sentido (1999), O Protegido (2000), Sinais (2002) ou A Vila (2004), provavelmente pensará que foi escrito e realizado por um qualquer neófito deslumbrado pela primeira oportunidade em Hollywood. É que este pretensioso "tratado" sobre o envelhecimento e a finitude tem o potencial para destruir carreiras, pelo menos as do realizador e dos atores. Um filme que só não chega a ser dececionante por ser desastroso.

domingo, 1 de agosto de 2021

"Annette" (2021) - de Leos Carax

Filme de abertura do último Festival de Cannes, Annette marca o regresso de Leos Carax, cineasta de culto que, em cerca de 40 anos de carreira, assina aqui a sua sexta longa-metragem. E valeu a pena a espera, pois este é um filme grandioso (talvez seja mais ajustado dizer grandíloquo), uma ópera rock trágica realizada com alma e que dá aos seus dois atores principais (Marion Cotillard e Adam Driver) a oportunidade para prestações memoráveis (sobretudo, Adam Driver, que tem aqui um desempenho soberbo).

Leos Carax aproveita a estética do musical para construir uma parábola sobre os tempos que correm, lançando um duro golpe ao público consumidor acéfalo da informação veiculada nas redes sociais e aos órgãos de comunicação que, para sobreviverem, se renderam às imagens vazias do YouTube, Facebook ou Instagram. 

Uma lição de mise-en-scène majestática. Um filme obrigatório! (O melhor que veremos em 2021?)

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...