Efetivamente, os irmãos D'Innocenzo, que assinam, simultaneamente, o argumento e a realização (em 2020, o filme arrecadou o Urso de Prata para melhor argumento no Festival de Berlim), não revelam qualquer esperança na humanidade (nem sequer carinho pelos seus personagens). Nestes Contos de um Verão Negro ninguém sai incólume, sobretudo as crianças. Os adultos são eternos petizes imaturos (que transformam a sua fragilidade em perversidade) sem qualquer capacidade para enfrentar obstáculos hodiernos e muito menos para servirem de (bons) exemplos para os seus filhos. Por sua vez, as crianças são vítimas do egoísmo, do desamor e da crueldade dos pais. É também por aqui que se encontra a maior vulnerabilidade da obra (acutilante) de Damiano e Fabio D'Innocenzo.
Ao lançar às urtigas qualquer possibilidade de ligação emocional (ou sequer algum resquício de empatia) do espectador com os personagens, revela uma total ausência de pathos. É pena, porque, verdade seja dita, estamos perante uma obra que expõe de modo cru e implacável a era do vazio (ético e afetivo), em que os laços comunitários são apenas um ténue véu apolíneo que mal consegue rebuçar a essência dionisíaca que facilmente os desfaz. Como assegura um adulto, já próximo do final do filme, o que podemos pretender mais da vida quando temos uma mesa posta com mortadela, mozarela e vinho?
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