sábado, 28 de setembro de 2013

Infâncias perdidas

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, são 168 milhões as crianças vítimas de trabalho infantil. Estima-se que 44% das vítimas tenham entre 5 e 11 anos. Futuros adultos com infâncias perdidas e almas destroçadas; 168 milhões de crianças sem direito a serem amadas.

sábado, 21 de setembro de 2013

"Se Gostaste da Escola, Vais Adorar o Trabalho" - sátiras honestas de Irvine Welsh

Irvine Welsh assina cinco extraordinárias histórias reunidas no livro Se Gostaste da Escola, Vais Adorar o Trabalho, afirmando-se como mestre da narrativa breve e como um dos escritores mais cómicos da cena literária contemporânea. 

Nesta recolha de histórias são colocadas ao leitor diversas questões de difícil, mas curiosa, resolução: Como é que três jovens americanos dão por si perdidos no deserto, dentro de uma tenda com dois mexicanos armados? Quem é o misterioso cozinheiro coreano que se muda para casa de Kendra Cross, uma socialite de Chicago? E o que é que ele tem a ver com o desaparecimento de Toto, o pequeno cão de Kendra? Como faz Mickey - o inglês dono de um bar nas Canárias - o malabarismo de manter a relação com a sua empregada, Cynthia, enquanto cuida da juvenil Persephone, uma turista grega, e dribla a sua persistente ex-mulher e uma parelha de gangsters espanhóis? Que sucessão de acontecimentos leva a que Raymon Wilson Buttler, cineasta falhado convertido em biógrafo de um lendário realizador americano, acabe como objeto de memorabilia do cinema? E porquê narrar o quotidiano de Jason, indolente habitante do Reino de Fife, na Escócia, recorrendo por inteiro ao calão local?

Nesta obra, Irvine Welsh desenha um coro de vozes rudes, cruas, discordantes, sujas, grotescas, por vezes surreais e extremamente cómicas.

domingo, 15 de setembro de 2013

Banda sonora para o verão: Lloyd Cole - "Standards"

Lloyd Cole regressa aos grandes discos com "Standards". Ao contrário do que o título poderia sugerir, o novo opus do músico nova-iorquino é constituído por onze canções originais inspiradas na renovada energia de Bob Dylan em "Tempest" (disco alvo de recensão crítica, há cerca de um ano atrás, neste blogue). Com a preciosa colaboração de Joan as Police Woman (piano metronómico), Fred Maher (bateria), Matthew Sweet (baixo), Blair Cowan (teclista dos Commotions) e do seu filho Will Cole (guitarra), o autor de "Rattlesnakes" gravou um sereno disco de rock, conseguindo momentos de elevação poética só comparáveis a Leonard Cohen, Lou Reed e, claro está, Bob Dylan. "Period Piece", "Myrtle and Rose", "No Truck" e "Kids Today" são canções da mais fina estampa a anunciar a iminência do outono.

Lloyd Cole - "Period Piece"

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Contos Sobrenaturais" - o prazer em ler Carlos Fuentes

Governada por uma ordem espiritual e poética que se sobrepõe à cadência cronológica, a existência humana nas terras pré-hispânicas regula-se desde há três mil anos pelo eterno presente do mito. Nos Contos Sobrenaturais do mexicano Carlos Fuentes (1928-2012), mais do que linguagem e efabulação, a morte e o mito são presenças tão reais que ganham carne e osso, transmutadas em sincretismos: dia e noite, chuva e seca, lua e sol, vida e morte.

Um destes impressionantes contos, narra a história trágica de Felipe Monteiro, historiador formado na Sorbonne, que, em resposta a um anúncio de jornal, aceita a completar as memórias inacabadas de um general falecido há sessenta anos. Para tal, Felipe viverá numa casa governada na penumbra, alimentado a rins, tomate e vinho, na companhia da velha viúva do general e da sobrinha, Aura. Louco de paixão e desejo por esta bela jovem, "fechada como um espelho", Felipe terminará como um Cristo negro, sacrificado no altar do tempo e do amor.

Datado de 1962, escrito na segunda pessoa do singular e na perpétua fusão entre os tempos presente e futuro, o conto "Aura" é por muitos considerado a mais notável criação de Fuentes e uma das mais emblemáticas da literatura latino-americana. A essência rural da alma mítica mexicana surge em Fuentes transfigurada em ambiente urbano, tão cosmopolita que se lê ao som do jazz (o conto "Pantera em Jazz") ou como novela de ficção científica ("O Robô Sacramentado"). Todos estes nove contos são da primeira fase da carreira do escritor, período marcado por narrativas breves e esteticamente delicadas. Um livro de leitura obrigatória para quem opta pela grande literatura.

domingo, 8 de setembro de 2013

No verão quente de 1963

Há 50 anos, no Lincoln Memorial, em Washington, Martin Luther King, líder do movimento de luta pelos direitos civis, proferiu o discurso que constituiu um marco histórico na luta pela igualdade racial. «I have a dream» - foi a sua célebre frase, repetida várias vezes ao longo do discurso, feito em tom profético e que marcou o movimento pela cidadania e respeito pela cultura da população negra nos Estados Unidos da América e a nível mundial. As ameaças de morte que recebia eram já nessa altura frequentes, tendo sido assassinado cinco anos depois. Convém, portanto, relembrar um discurso de paz em tempo de guerra iminente.




Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...