domingo, 22 de dezembro de 2013

Legendar o silêncio icónico (28) - mar de dezembro


A vaguear numa fria manhã de dezembro, percorro lugares antigos com olhares novos. Dezembro é o mês mais cruel. Nele, os sítios tornam-se não-lugares, matéria imaterial, matéria-mãe. Daí o Natal.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Banda sonora para o Natal - John Fahey: "Christmas Soli"

Foi um dos guitarristas mais respeitados do mundo, músico erudito e recoletor do cancioneiro popular norte-americano; hoje, John Fahey (1939-2001) é um artista de culto que devemos recordar. O pretexto é a edição do álbum "Christmas Soli", recolha e reinterpretação - em guitarra clássica, naturalmente - de standards desta época festiva. Religioso e profano, mas sempre profundamente cristão, é banda sonora para um Natal sacro, quente, familiar, pacífico e reconfortante.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Banda sonora para o outono - Fish: "A Feast of Consequences"



Há artistas que decidem virar costas à fama quando a integridade artística e a criatividade se aproximam de um limbo. Fish é um desses casos. Corria o ano de 1988 e os Marillion encontravam-se no auge do sucesso comercial, tendo concluído uma digressão mundial impressionante que culminava uma carreira ascendente de (na altura) apenas seis anos. Os dois últimos álbuns foram, bem vistas as coisas, os discos que salvaram o rock progressivo: os míticos "Misplaced Childhood" e "Clutching at Straws". Eram obras pensadas, criadas, compostas e gravadas com cuidado e minúcia arquitetónicas. À frente dos Marillion, Fish era o cantor-poeta, o gigante carismático de voz gentil mas sofrida, que aquelas letras eram de homem vivido. Então, porquê abandonar o grupo nesse pico criativo? Porque sim, pronto. Porque há autores que preferem percorrer o seu próprio caminho mesmo que ele implique abnegação. Porque o solipsismo é coisa que nasce connosco e determina as escolhas que fazemos. Porque há homens que não foram talhados para a fama. Porque há artistas que perspetivam o reconhecimento das massas como uma ameaça à criatividade. Porque a divergência exige risco.

Pois bem, Fish acaba de editar "A Feast of Consequences", obra densa, profundamente poética, que mesmo nos momentos mais delicados não deixa de ser intensamente negra. Em entrevista recente a uma revista britância, o artista afirma que não há razões na vida para sermos otimistas, acrescentando que o seu ceticismo o mantém lúcido e irremediavelmente longe da alienação. Convém referir que o cantautor passou por um interregno editorial forçado, já que um tumor nas cordas vocais levaram-no a pensar que nunca mais poderia voltar a cantar. Em boa hora, Fish recuperou a saúde e foi desenvolvendo o conceito para um disco concetual a partir de uma pesquisa detalhada sobre a experiência dos seus avós como soldados nas trincheiras durante a 1ª Guerra Mundial. O resultado é um álbum espantoso, que vai conquistando os ouvidos a cada nova audição. Claro que não é peça para qualquer ouvido. É, antes de mais, preciso perceber que o rock também pode ser música erudita com voz, guitarra, baixo e bateria. Ouça-se, por exemplo, as suites "High Wood" e "Perfume River", ou as canções (belíssimas!) "The Other Side of Me", "Blind to the Beautiful" e "The Great Unravelling".

Sem dúvida, um dos melhores discos do ano.


Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...