sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fabuloso editorial de Miguel Francisco Cadete, diretor da revista Blitz, na edição de outubro. No artigo de opinião, confronta-se o universo discográfico de 1991 (ano de discos como "Use Your Illusion" dos Guns'N'Roses, "Ten" dos Pear Jam, "Blood Sugar Sex Magik" dos Red Hot Chili Peppers, "Achtung Baby" dos U2, "Out Of Time" dos REM, e "Nevermind" dos Nirvana) com o mundo das edições de música de 2011. De facto, muita coisa mudou desde esse ano dourado (talvez o último) do rock

1991 foi, também em Portugal, um ano de clássicos como "Rock in Rio Douro" dos GNR, "Tinta Permanente" de Sérgio Godinho, e "O Fogo" dos Sétima Legião. "Entretanto, aconteceu a massificação da internet. Ganhámos a livre circulação de música - que se tornou fluida e sobretudo grátis - e perdemos, não há maneira de não reconhecer esta verdade, toda a aura, mistério e estatuto a que um maníaco por música acedia quando comprava um daqueles discos. Isso não existe mais, graças ao download gratuito. (...)

Cá, como lá, essa foi também a última época de ouro da indústria discográfica que, ainda hoje, não sabe como reagir à evolução que a tecnologia impôs. Um dia destes, valerá a pena fazer as contas entre o que ganhámos e o que perdemos", escreve Miguel Francisco Cadete.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

X - um grande filme de Jon Hewitt

Eis um filme ousado, inteligente, formalmente arriscado e capaz de contar uma interessante história em apenas 90 minutos, sem que fique a incómoda sensação de que ficou muita coisa por explicar. Na verdade, "X", de Jon Hewitt, é uma obra sem pontas soltas, com personagens autênticos e, mais ainda, sem receio de incomodar o espectador. Trata-se da história de duas prostitutas, uma já veterana e prestes a "reformar-se", a outra ainda menor de idade e a fugir de uma família disfuncional, que na noite em que se conhecem vão, como diria o Jorge Palma, conhecer o lado errado da noite.

É um filme que nos apresenta a prostituição de forma nua e crua, sem qualquer glamour ou embelezamento à maneira de "Pretty Woman" (sim, o filme da prostituta-cinderela, protagonizado por Julia Roberts). "X" é uma película anti-hollywoodesca, visceral, realizada com savoir-faire e interpretada por duas grandes atrizes, ainda fora do star-system: Viva Bianca e Hanna Mangan-Lawrence.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Legendar o silêncio icónico (2)


Este homem foi até ao banco tentar renegociar o pagamento do seu crédito bancário. A resposta ao seu pedido foi negada e, desesperado, decidiu imolar-se mesmo em frente à agência bancária. Aconteceu numa cidade no Norte da Grécia.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

TIME (4) - a ascensão de Rick Perry e a rentrée cultural

Na edição de 26 de Setembro, a TIME traz dois artigos de leitura obrigatória, a saber: 

- uma longa reportagem sobre a ascensão do governador do Texas no interior do Partido Republicano. Para alguns, Rick Perry representa a natural alternativa às políticas de esquerda de Barack Obama (cujo estado de graça junto da opinião pública parece já ter terminado), bem intencionadas, é certo, mas, por enquanto, infrutíferas; para outros, a subida de Perry nos indíces de popularidade é produto do movimento ultraconsevador Tea Party e, em pleno século XXI, a atração das massas por abordagens ideologicamente ortodoxas e até fundamentalistas provavelmente sinaliza um radical retrocesso em relação a princípios basilares conquistados pelos ideólogos das Nações Unidas e mesmo em relação ao american dream. Não nos esqueçamos que Perry e os seus sequazes fazem das campanhas eleitorais prayer rallies, não levam a sério temas quentes como o aquecimento global e escarnecem da teoria da evolução;

- o segundo artigo, "The Culture", faz a antevisão da rentrée cultural, destacando os melhores filmes, livros e discos a serem editados neste outono. Entre os novos filmes de Jim Sheridan, Pedro Almodóvar, Lars Von Trier e Clint Eastwood, obras de Haruki Murakami e Stephen King, discos de Wilco, Feist e Ryan Adams, aguarda-nos um outono de exceção.

domingo, 25 de setembro de 2011

Banda sonora para o outono (15)

Saiu no início do verão, mas é mesmo banda sonora para o outono. Refiro-me ao último CD do prolífico guitarrista Pat Metheny, "What's It All About". Nascido músico no jazz, a constante busca por sonoridades diferentes fez com que quebrasse as fronteiras entre estéticas e géneros, explorando um universo musical cada vez mais vasto. 

Em "What's It All About", Metheny viaja até às origens da grande música contemporânea (rock, folk, pop, bossa-nova) e reinterpreta temas de The Beatles, Paul Simon, Tom Jobim, The Carpenters, entre outros, tornando suas canções como "And i love her", "The sound of silence", "Garota de Ipanema" e "Rainy days and mondays". Recorrendo a diferentes guitarras e a uma produção minimalista, o músico norte-americano consegue a proeza de criar atmosferas sonoras de uma riqueza e complexidade superlativas. 

"What's It All About" é um disco acústico, extremamente melancólico, que, à semelhança de outros títulos da extensa discografia de Pat Metheny, nos remete para paisagens outonais, cinzentas e pluviosas. Será, com certeza, um dos discos que mais irá rodar nos meus leitores de CD durante este outono. 

 Pat Metheny - "Rainy days and mondays"

sábado, 24 de setembro de 2011

"Millenium 2 - A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo" - um filme dececionante

Infelizmente, o segundo romance da série "MIllenium", criada pelo malogrado Stieg Larsson, não teve uma adaptação cinematográfica à altura. Na verdade, ao contrário do que aconteceu com "Os homens que odeiam as mulheres" (ler post de 25 de Setembro de 2010), "A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo" parece não ter encontrado um realizador capaz de adaptar a obra sem esquecer os milhares de leitores que leram e ficaram fascinados com as cerca de 700 páginas do livro. 

Sabemos que seria tarefa árdua construir um filme coeso a partir do segundo tomo, já que este é mais difícil que o primeiro, tendo em conta que, ao contrário do anterior, não há simplesmente um mistério por desvendar, cujo desenlace o leitor só descobre lá mais para o fim da obra. A narrativa de "Millenium 2" (ler post de 21 de Janeiro de 2010) tem um estilo mais jornalístico e denso, repleto de personagens complexos e uma narrativa que viaja por um sem-número de problemas do mundo contemporâneo (entre eles, o poder de manipulação dos mass media, o tráfico de mulheres na Europa, o vazio retórico das democracias ocidentais, o discurso, por vezes perigoso, das ciências comportamentais, o modo como a tecnologia alterou a nossa perceção do real), que o cineasta Daniel Alfredson está longe de ter conseguido transpor para o grande ecrã. 

Uma triste deceção!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Time (3) - retratos de resiliência (11 de setembro, 10 anos depois)

A revista TIME dedicou a edição desta semana à análise da América do pós-9/11. É um número de colecionador que ficará para a História enquanto documento incontornável para quem, no futuro, quiser compreender o modo como o ataque ao World Trade Center alterou o curso da História, a política geo-estratégica, as alianças e conflitos entre Ocidente e Médio Oriente; mas, sobretudo, esta edição especial da TIME preocupa-se em destacar as pessoas que foram diretamente afetadas por aquela tragédia, os indivíduos, os seres únicos, cada um com as suas histórias e experiências pessoais em torno do ataque terrorista às torres gémeas.

É precisamente neste último ponto que o último número da revista é brilhante: nas entrevistas a diversas pessoas que sobreviveram ao atentado, ou perderam familiares nesse dia em Nova Iorque, ou foram vítimas de bombardeamentos da Força Aérea norte-americana no Iraque, ou ainda àqueles que foram presos injustamente, vítimas da xenofobia que despertou na consciência de muitos americanos a pretexto do fundamentalismo islâmico que esteve na base da missão suicida e assassina da al-qaeda. Vítimas, agressores, cidadãos anónimos, bombeiros, militares, políticos, todos são relevados neste fabuloso e, repito, histórico número da TIME

Há que destacar também o belíssimo trabalho de fotografia de Marco Grob, responsável pelo portfolio que acompanha os artigos e entrevistas. As fotografias de rostos conhecidos e desconhecidos são arrepiantes no seu humanismo cru e sem efeitos.

domingo, 18 de setembro de 2011

"You will meet a tall dark stranger" - um Woody Allen vintage

Para adocicar ainda mais a vontade de ir ao cinema ver o último filme de Woody Allen ("Midnight in Paris"), nada como (re)ver a sua película anterior, "Vais conhecer o homem dos teus sonhos" (tradução portuguesa do título que introduz este post). A fita acompanha um par de casais, Alfie (Anthony Hopkins, num subtil cameo de Allen) e Helena (Gemma Jones sempre no tom certo), a filha destes, Sally (Naomi Watts a adaptar-se com segurança ao universo do cineasta) e o marido, Roy (Josh Brolin num registo perfeito), cujas paixões, infidelidades, atribulações, ambições e - ou não fosse este um filme do frenético Woody Allen - ansiedades os metem em sarilhos e os aproximam da insanidade. 

Em "Vais conhecer o homem dos teus sonhos" é fácil encontrarmos um sem número de referências a outras obras do mesmo realizador, nomeadamente "Scoop" (o fascínio pela cartomância e pela sua desconstrução) e "Poderosa Afrodite" (a hilariante prostituta que casa com Alfie), o que, em si mesmo, é já um garante de que se trata de uma comédia dramática escrita e dirigida com rigor e classe por aquele que é talvez o cineasta norte-americano mais coerente das últimas cinco décadas. É verdade que a película em análise está longe da originalidade de obras-primas como "Annie Hall", "Ana e as suas irmãs", "Os dias da rádio", "Crimes e escapadelas" ou "As faces de Harry", mas não se pense que se trata de um Allen menor (como quase todos os filmes que o cineasta assinou entre 2000 e 2009), bem pelo contrário. É, repito, uma obra onde o amor de Woody Allen pelas cidades (o filme marca o regresso do realizador a Londres), pelos seus personagens, repletos de amor, paixões e fraquezas, garantem ao espectador 90 minutos bem passados, plenos de empatia e identificação com os dramas e escolhas (por vezes irreversíveis) dos dois casais que protagonizam o filme.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

GAEDE - projeto selecionado pelo IES


Já há 18 meses que o GAEDE (http://bebegaede.blogspot.com) foi escolhido como projeto de relevância pelo Plano Nacional de Leitura - Ler + Teatro. Basta consultar o respetivo site para encontrar uma breve história do nosso tão querido grupo de expressão dramática. Agora, após 6 espetáculos originais ("O Muro", "A Morte Não Existe", "O Eterno Retorno", "Ontem à noite, uma criança sonhou...", "Luz" e "Civilização"), fomos escolhidos pelo Instituto de Empreendedorismo Social (IES) como uma das 365 iniciativas mais interessantes no distrito do Porto. 

O GAEDE tem sido um projeto por onde têm passado muitos jovens que aqui têm deixado a sua marca e - mais importante ainda - transportam a experiência nos seus corações. A todos um bem-haja.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Banda sonora para o verão (20)

Patti Smith, símbolo maior da história do rock, acaba de atacar em duas frentes com a edição simultânea de um belíssimo (e poético) livro autobiográfico ("Apenas Miúdos") e de um interessantíssimo CD que sintetiza a sua obra discográfica. É precisamente a propósito do lançamento do disco "Outside Society" que nos referimos aqui àquela que é talvez a última artista hippie

Poetisa punk idolatrada por muitos, mulher apaixonada com uma história cheia de vida, Patti é também uma cantora de exceção, com uma inclinação mais pop do que muitos fãs gostam de admitir. Na verdade, se atentarmos nos momentos mais fortes da sua carreira (nomeadamente, os singles "People Have The Power" e "Because The Night") teremos que admitir a vocação comercial de uma parte considerável dos dez álbuns que constituem a discografia de 35 anos de Patti Smith. São poucos discos em tanto tempo, mas mais que suficientes para terem sido a inspiração de muitas cantautoras do calibre de Suzanne Vega, Siouxie ou P. J. Harvey.

A antologia "Outside Society" abre com o icónico "Gloria", aqui na sua melhor versão. A garra punk encontramos logo no primeiro verso da canção: "Jesus died for somebody's sins but not mine". As palavras são de Van Morrison, mas Patti Smith, com o seu canto afectado e algo visceral, torna-as suas. O libreto que acompanha o CD é lindíssimo, com anotações sobre cada canção assinados pela autora, o que contribui indubitavelmente para fazer deste objeto uma peça de coleção obrigatória na cdteca de qualquer melómano.

Patti Smith - "Because The Night"


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Time (2) - para acabar de vez com as dietas

A TIME, na edição desta semana, faz capa com um artigo de fundo assinado pelo popular Dr. Mehmet Oz, que se propõe refutar todos os mitos sobre os alimentos e, em especial, as dietas milagrosas. A prosa é esclarecedora e prendeu-me à sua leitura da primeira à última linha - isto vindo de uma escriba que nunca ligou patavina a semelhantes peças jornalísticas (sim, a TIME só publica textos de grande jornalismo). No final, chegamos à conclusão de que as nossas mães é que tinham razão: deve-se comer de tudo um pouco. O segredo está na moderação.

domingo, 11 de setembro de 2011

9/11 - 10 anos depois da tragédia

Em 11 de Setembro de 2001 perderam-se três mil vidas no ataque ao World Trade Center, em Nova Iorque. Nesse dia, a realidade superou a ficção através de um acto irracional que abalou uma civilização - a ocidental - responsável pelo mais belo texto alguma vez escrito: a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Não o esqueçamos para que, tal como o Holocausto, nunca mais se repitam estas tragédias provocadas por decisão humana.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Leituras de Verão (2) - "Vício Intrínseco", de Thomas Pynchon

Poucos escritores se podem orgulhar de agregar em torno de si uma legião de fãs que o transformam num autêntico fenómeno de culto. E se tivermos em conta que o autor é responsável por um punhado de romances assumidamente underground (quer na forma, quer no conteúdo), o feito é ainda mais surpreendente. Não podemos afirmar perentoriamente que esse culto seja totalmente involuntário. Na verdade, Pynchon tem-no alimentado ao não se expor em fotografias e fugir das entrevistas a sete pés.

Invariavelmente apontado como um dos autores favoritos ao prémio Nobel, Pynchon é - e que não restem dúvidas acerca da qualidade das suas obras literárias - considerado uma das vozes mais influentes da literatura norte-americana e, como tal, já conquistou um National Book Award. Em "Vício Intrínseco", a sua mais recente novela, Pynchon constrói um policial em tons noir protagonizado por Doc Sportello, um detective privado que pode ser visto como a versão psicadélica de Philip Marlowe (sempre envolto numa névoa de marijuana e LSD). Por entre o clássico desvendar do mistério - neste caso, o desaparecimento de um magnata da construção civil e da sua amante - não faltam as femmes fatales, polícias, advogados e políticos corruptos e, cereja no topo do bolo, reflexões filosóficas em torno de grandes questões metafísicas, aqui envoltas em trips psicadélicas e embaladas por muito surf rock.

"Vício Intrínseco" é uma obra-prima sobre o o fim do grande sonho hippie. Um livro obrigatório!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

TIME (1) - a Somália também somos nós (2)


A melhor revista do mundo, a TIME, traz na edição desta semana uma reportagem profunda sobra a tragédia que milhares de seres humanos estão a viver na Somália. Com o título Collateral Crisis, o artigo é assinado por Alex Perry e analisa todas as causas (políticas, sociais, étnicas, geográficas, ecológicas) do drama humanitário, ao qual, estranhamente (sinal dos tempos?), a imprensa portuguesa não tem, salvo raras excepções, dado o ênfase que o acontecimento naturalmente merece. 

A premissa do texto de Perry é a seguinte: de que forma uma bem sucedida campanha para encurralar terroristas islâmicos na Somália contribuiu para uma fome catastrófica que poderá matar milhares de pessoas? São dez páginas de informação e imagens absolutamente esclarecedoras e aterradoras. A ler, obrigatoriamente, porque num mundo globalizado a Somália bem pode ser já aqui ao lado.

domingo, 4 de setembro de 2011

Banda sonora para o Verão (19)

O disco "Retropolitana", dos GNR, foi aqui banda sonora para o Verão há um ano atrás [consultar Banda sonora para o Verão (13)]. Agora, "Voos Domésticos", revisão de trinta anos de carreira do grupo portuense, tem rodado insistentemente no leitor de CD cá de casa. Não se trata de uma mera colectânea, mas sim de canções antigas com novas roupagens e um tema inédito que serve de mote ao título do álbum. Em boa verdade, estamos perante um LP novo, uma vez que estas versões têm a capacidade de transformar canções que já conhecíamos, dando-lhes uma nova vida. Ouça-se, por exemplo, o tema de abertura, "Cais", e perceba-se porque estamos perante o melhor disco dos GNR desde a pérola "Popless" (2000).

"Cais" - GNR

sábado, 3 de setembro de 2011

"The Music Never Stopped" - um filme discreto e subtil

"The Music Never Stopped" é a adaptação para o grande ecrã de um ensaio do popular neurologista Oliver Sacks. Não é o primeiro caso real estudado por este cientista a ser transposto para o cinema - "Despertares", da realizadora Penny Marshall, talvez seja o filme de maior sucesso a ter como ponto de partida uma obra de Sacks. 

A película que agora se analisa é o retrato emocionante de um homem que, devido a um tumor cerebral, perde a capacidade de reter novas memórias, recordando-se apenas das informações registadas na memória a longo prazo. No entanto, o trabalho de uma musicoterapeuta vai reconduzi-lo a lembranças da sua adolescência e à redescoberta do pai, de quem se tinha afastado durante cerca de vinte anos. A realização discreta, quase em surdina, concede espaço aos actores para desenvolverem os seus personagens de forma subtil, tornando este num daqueles filmes que se vai entranhando ao longo de cerca de duas horas. A banda sonora merece uma chamada de atenção, uma vez que esta fita acaba por ser também uma celebração do rock das melhores bandas (The Beatles, Greatful Dead, Buffalo Springfield) e cantautores (com destaque para Bob Dylon) da década de sessenta.

"The Music Never Stopped" é assinado por Jim Kohlberg, que tem aqui o seu debut como realizador que reclama, de ora em diante, a nossa atenção.

Trailer de "The Music Never Stopped"





sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Leituras de Verão (1) - "A Questão Finkler", de Howard Jacobson

Howard Jacobson é um escritor britânico de origem judaica, pormenor identitário fundamental para compreender o seu último romance, "A Questão Finkler", aliás vencedor do Man Booker Prize 2010 (talvez o maior prémio atribuído a um autor de língua inglesa).

O livro que aqui se analisa e recomenda é uma reflexão, ao mesmo tempo, filosófica, teológica e política servida com um sentido de humor apuradíssimo, como só alguns escritores ingleses conseguem (vem-me à memória o nome de David Lodge, de cujos romances cáusticos os protagonistas do livro de Jacobson parecem ter saído). A história centra-se em Julian Treslove, um homem algo acéfalo em plena crise de identidade. Julian nunca se casou, embora tenha dois filhos que detesta; os seus melhores amigos são dois judeus bem-sucedidos na vida, que perderam recentemente as suas esposas, e de quem Treslove sente uma profunda inveja por representarem tudo aquilo que ele não é. Quando os três se encontram, discutem invariavelmente sobre questões relacionadas com o judaísmo e o conflito israelo-palestiniano, apesar de Julian desconhecer o que é ser judeu. Após um desses encontros, enquanto regressa a casa, Treslove é assaltado por uma mulher que, aparentemente, lhe chama judeu. A partir dessa ocorrência, o protagonista passa a viver obcecado com o facto de ser um não-judeu mas que, provavelmente, tem o judaísmo como demanda espiritual e destino. 

Não se pense que esta é uma obra moralista, preocupada com uma mensagem à humanidade ou cujo centro narrativo seja, uma vez mais, abordar as consequências do Holocausto sobre o Mundo e o povo judeu, em particular. Pelo contrário, trata-se de um romance que saiu da pena de um intelectual judeu que aqui desmoraliza e até corrói os fundamentos de qualquer forma de extremismo (pró ou anti-semita), não poupando quer aqueles que vêem Israel como o início de uma conspiração sionista, quer os que defendem que qualquer meio é justificável se tiver como fim compensar o povo hebreu do êxodo e desprezo a que foram votados ao longo de milénios de história humana.

"A Questão Finkler" é um livro de leitura obrigatória não apenas para quem quer compreender as grandes questões do nosso tempo, mas também para quem aprecia literatura em estado de graça. Um livro inspiradíssimo!

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...