terça-feira, 29 de novembro de 2011

Legendar o silêncio icónico (8) - o Egito também somos nós


A ferro e fogo. A expressão é cliché, mas adapta-se na perfeição ao que se tem passado na emblemática Praça Tahrir, no Cairo. Foi ali que começou a revolução do povo e é ali que voltam a surgir os confrontos, na hora de exigir que o poder fique na mão dos civis, uma vez que, desde a queda de Hosni Mubarak, o poder está nas mãos dos militares. De acordo com a Reuters, na luta entre os populares e as Forças Armadas morreram cerca de 40 pessoas.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Banda sonora para o outono (21)

Nos anos 80, Neil Young parece ter pretendido reescrever a história da sua música: compôs um álbum pop-rock mal amado, mas que consegue ser efusivamente brilhante; encenou um revival rockabilly; por fim, foi para a estrada com uma série de veteranos dos estúdios de Nashville, responsáveis por algum do melhor country-rock americano. 

É neste contexto que os complexos arquivos pessoais de Young acabam de libertar o resultado da referida digressão com os International Harvesters, "A Treasure", um desvio por terrenos country, onde material inédito e alguns clássicos da americana são alinhados, num gesto que deve ter servido para Young recarregar baterias para a criação de um novo disco de originais. Todavia, quem, com eu, acompanha atentamente o trabalho do músico canadiano vai adorar explorar esse episódio algo singular na carreira do autor de "Freedom", apesar do pouco impacto que teve no percurso posterior de Young.

Destacam-se como momentos fortes de "A Treasure", as canções "Flying On The Ground Is Wrong" e "Southern Pacific".

Neil Young - "Flying On The Ground Is Wrong"
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

"Bruscamente no verão passado" - cinema e psicanálise

Agora que está prestes a estrear o novo filme de Cronenberg, "Um Método Perigoso", que vem reatualizar a longa relação entre as teorias de Freud e a ficção cinematográfica, convém recordar um dos mais emblemáticos filmes sobre o perigoso método psicoterapêutico criado pelo médico austríaco. Refiro-me à obra-prima de Joseph L. Mankiewicz, "Bruscamente no verão passado", que adapta a peça de Tennesse Williams (reescrita para o grande ecrã em parceria com Gore Vidal, outro monstro sagrado das letras do século passado).

Catherine Holly é uma jovem que parece estar à beira da loucura, depois de ter presenciado a morte do seu primo, Sebastian, durante uma viagem à Europa. A sua tia, Violet Venable, tenta fazer tudo para esconder a verdade sobre a homossexualidade do seu filho e a forma trágica como morreu, chegando até a tentar que um médico lobotomize a sobrinha de modo a ocultar a verdade. 

A realização de Mankiewicz é de uma modernidade arrepiante (recorde-se que a película é de 1959), sendo ainda hoje capaz de provocar as mentalidades mais conservadoras pelo modo como aborda temas como a homossexualidade, a violação, a antropofagia e, claro está, as psicoterapias. O cineasta decompõe a narrativa numa sucessão de cenas que, progressivamente, vão revelando a verdade. No entanto, o que ainda hoje muito contribui para a grandiosidade do filme é o trabalho dos atores, aqui no auge da sua maturidade artística - refiro-me a Montgomery Clift, Elizabeth Taylor e Katherine Hepburn.

Trailer de "Bruscamente no verão passado"

sábado, 19 de novembro de 2011

"As Mentiras de Locke Lamora" - de Scott Lynch

Nestes tempos cinzentos que prenunciam um futuro, no mínimo, cinzento escuro, o escapismo tornou-se, não apenas uma opção, mas antes uma necessidade. É talvez por isso que a literatura fantástica ganhou um novo fôlego, sobretudo aquela que se dirige ao público adulto, já que no que concerne à literatura infanto-juvenil já há muito que essa vai de vento em popa. 

"As Mentiras de Locke Lamora", do escritor norte-americano Scott Lynch, narra a história de um grupo de ladrões inteligentes e ardilosos, que habitam num espaço e tempo fictícios/alternativos (há por aqui reminiscências da Terra Média de Tolkien), roubando aos ricos mas sem saberem muito bem o que fazer ao dinheiro (o Governo é instável e hipervigilante, pelo que Camorr, a cidade onde vivem os nossos heróis, é um espaço asfixiante e quase claustrofóbico). Todavia, uma guerra clandestina ameaça destruir a própria cidade e o bando de Locke Lamora (conhecido como cavalheiros bastardos, dada a versatilidade do seu líder e o facto de serem órfãos) é lançado num jogo de assassinos e traidores, onde terão de lutar desesperadamente pelas suas vidas. Só mesmo a capacidade de Lamora para se recriar e mentir criativamente os poderá ajudar a sobreviver à guerra iminente.

Dito assim poderá parecer mais um livro de aventuras, o que não faria jus à qualidade literária da obra. É uma história imaginativa, narrada com classe, de um novo autor refinado, que soube encontrar em Charles Dickens, Herman Melville, Júlio Verne, John Steinbeck e, sobretudo, no já mencionado autor de "O Senhor dos Anéis" a devida inspiração.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Banda sonora para o outono (20)

Eis um disco realmente de outono: "Hard Bargain", de Emmylou Harris. Para quem não sabe, trata-se de uma cantora e compositora norte-americana cuja carreira teve início na década de 70. Para quem não sabe, a artista é idolatrada como alguém que surpreende a cada disco novo. Para quem não sabe, Emmylou Harris é a rainha do country, apesar de experimentar constantemente novas sonoridades. Para quem não sabe, é uma cantautora da craveira de Neil Young, Bob Dylan e Leonard Cohen.

"Hard Bargain", o seu mais recente álbum, é mais um trabalho repleto de grandes canções, daquelas que, com toda a certeza, um dia, estarão no panteão dos clássicos do songwriting. Ouça-se "The Road", "Lonely Girl" , "Goodnight Old World" e "Nobody" e perceba-se porquê. Só os corações empedernidos ficarão indiferentes. 

Emmylou Harris - "Goodnight Old World"
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domingo, 13 de novembro de 2011

GNR - 30 anos celebrados no Coliseu do Porto

Foi um concerto festivo, aquele que os GNR deram, ontem à noite, no Coliseu do Porto. A pretexto da recente edição de "Voos Domésticos", disco que revisita trinta anos de canções da banda de Rui Reininho, agora com novas roupagens para algumas canções antigas (consultar post de 4 de setembro de 2011), os GNR estão a comemorar as bem vividas três décadas de carreira com dois concertos nos Coliseus do país. O primeiro foi um autêntico festival de hinos, com uma sala esgotada e um público com genuína vontade de se divertir, recordar tempos melhores e, talvez, esquecer a crise. Reininho, sempre bem humorado, mantém a postura de crooner e a veia de artista de stand up comedy; Jorge Romão continua com a energia dos idos de 80, sempre a saltitar de baixo na mão, reforçando a vertente algo anarquista da banda nos concertos ao vivo; por fim, Tóli César Machado que, com a redução do Grupo Novo Rock a trio, tem-se afirmado, cada vez mais, como um impressionante multi-instrumentista. 

Efetivamente, faço votos para que os GNR continuem a lançar bons discos e a dar concertos por muitos e bons anos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Legendar o silêncio icónico (6)


Ninguém sabe muito bem por que razão o fazem, mas todos os anos, no outono, milhares de estorninhos dançam no crepúsculo sobre Gretna, na Escócia. No entanto, uma coisa é certa: a complexa e misteriosa coreografia destas aves anuncia a chegada do inverno.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Tens a Certeza?" - um pequeno farol para dias cinzentos

Eis um filme ideal para estes dias cinzentos de outono, ainda mais sombrios por causa da crise política e económica na zona euro. Chama-se "Tens a Certeza?" e vem assinado por James L. Brooks, um veterano classicista de Holywood (produtor da série Os Simpsons e realizador de "Laços de Ternura" e "Melhor é Impossível"). Trata-se de uma comédia com tons de melodrama, registo habitual do cineasta, que narra a história de dois personagens a atravessar um momento de crise nas suas vidas; os dois conhecem-se e vão descobrir que a luz ao fundo do túnel está mesmo ali, em frente um do outro.

Não é tão bom quanto "Melhor é Impossível", mas conta com a participação de Jack Nicholson, naquela que é a terceira colaboração entre o mítico ator e James L. Brooks.

Trailer de "Tens a certeza?", de James L. Brooks

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Banda sonora para o outono (19)

Ao sétimo álbum de originais, e após quase duas décadas de carreira, os Incubus assinam a sua obra-prima - "If not now, when?". São 11 belíssimas canções, formalmente depuradas, contendo apenas o essencial: melodias onde a voz de Brandon Boyd e os instrumentos dos seus comparsas são o veículo de emoções sinceras. O disco é resultado do (cada vez mais) rigoroso trabalho de uma banda honesta, que aqui se revela despudoradamente romântica - e isso só lhes fica bem!



Incubus - "If not now, when?"

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...