terça-feira, 30 de junho de 2015

Banda sonora para o Verão - Steven Wilson: "Hand. Cannot. Erase."


Aviso à navegação: o novo álbum de Steven Wilson é uma obra de arte. Concetual, como convém na obra do rocker britânico, Hand. Cannot. Erase. é uma peça única na história da música popular. Inspirado na história verídica de uma mulher que terá estado morta durante três anos no seu apartamento, numa cidade do interior de Inglaterra, sem que ninguém tivesse dado pela sua falta, o disco tem a alma de um ser maior. Conselho a quem não está familiarizado com o universo dos LP concetuais: comece por ouvir  Perfect Life, Happy Returns e a canção-título. Esta era de música enlatada e de canções soltas dificulta o treino da sensibilidade. Mas, como diria Pavlov, o exercício apura o gosto estético. Para os mais exigentes, aconselha-se a compra da edição em vinil.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

"Spy" - lixo cinematográfico de Paul Feig

A comédia é um dos géneros fundadores da narrativa cinematográfica tal como a conhecemos. Género popular por excelência, deu ao mundo obras-primas assinadas por autores maiores: Charles Chaplin, Buster Keaton, Preston Sturges, Billy Wilder, Ernst Lubitsch, Blake Edwards, John Landis. E ficamos por aí. Os grandes autores de comédia desapareceram há décadas. 

Paul Feig foi responsável pela comédia "A Melhor Despedida de Solteira", película que cumpria os seus propósitos graças a uma atriz secundária. A mesma que agora protagoniza "Spy".

Lixo cinematográfico. Filme-veículo para a comediante norte-americana do momento, Melissa McCarthy. Enquanto der para capitalizar a sua popularidade continuará a fazer filmes que não deixarão rasto e, provavelmente, em menos de uma década a atriz será esquecida.

[Sugere-se a revisão de "48 horas", de Walter Hill, "Os Ricos e os Pobres", "Um Princípe em Nova Iorque", ambos de John Landis, e "Os Reis da Noite", de Eddie Murphy, para entender a razão por que Eddie Murphy ainda não foi esquecido.]


quarta-feira, 24 de junho de 2015

A vida entre parêntesis - Capítulo 1 (Jesus na Grécia)


Quando, finalmente, conseguiu um lugar para se sentar, na parte de trás do autocarro, José Lucas esforçava-se por não pensar mais naquele assunto que o atormentava desde o dia anterior.

(Poderia a Grécia sair da Zona Euro?)

Escutava com atenção as conversas à sua volta e não entendia a indiferença das gentes de Lisboa. E se era assim na capital, como seria no resto do país?...
Não, José Lucas nunca lidara bem com a indiferença perante o que é realmente importante: as pessoas, as famílias, o cidadão, a microeconomia, a justiça, o outro.

(O que aconteceria se a Grécia não chegasse a acordo com o Eurogrupo?)

O conformismo, a obediência passiva a patrões e burocratas incomodava-o ao ponto de lhe tirar sono. Na última noite não pregara olho.
Quando saiu do autocarro pegou num dos jornais gratuitos do expositor junto à paragem. Leu o título em destaque.

(Jesus já prepara a nova época no Sporting).

domingo, 21 de junho de 2015

Banda sonora para o Verão - A Secret River: "Colours of Solitude"


Segredo bem guardado no sul da Suécia, A Secret River é música composta com todos os sentidos. Fazendo (novo) uso de harmonias clássicas do rock progressivo mais melodioso, a banda nórdica assina Colours of Solitude, um disco onde o todo é mais do que a soma das partes. É música para sonhos bucólicos com a luz de um fim de tarde de verão.



quinta-feira, 18 de junho de 2015

"Mad Max: Estrada da Fúria" - o regresso de George Miller

O novo capítulo da saga pós-apocalíptica Mad Max é um extraordinário delírio visionário de um cineasta que, aos 70 anos, assina um filme de ação movido a energia adolescente e savoir faire de autor veterano.

Na verdade, George Miller parece ter sentido saudades do cinema instintivo da trilogia protagonizada por Mel Gibson há 30 anos atrás. Como se trata de uma prequela do capítulo produzido em 1985, Tom Hardy assume com competência o lugar do ator australiano ladeado por uma insólita companheira de luta de olhar intenso e alma ferida (Charlize Theron como nunca a tinhamos visto).

O futuro segundo Miller é assim: um lugar inóspito, abrasador, desértico, quase irrespirável, mutante, em tumorização, pós-anarquista, pós-darwinista, onde a força bruta garante o poder, que é o mesmo que dizer água e gasolina.

"Mad Max: Estrada da Fúria" é o melhor e mais ousado filme de ação desde o irrepetível "Streets Of Fire", orquestrado por Walter Hill em 1984.


Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...