Retomemos o
ponto de partida: há que saber aceitar a solidão como atitude de vida. Isto não
significa que devemos votar os outros à solidão ou aceitar a frieza da
indiferença (nossa e dos outros). Há, pois, também que clarificar o que não significa a solidão aqui
enaltecida, de modo a podermos demarcar com rigor a solidão desejável e que se
deve cultivar do sentido comummente aceite.
A solidão como forma de autoconhecimento e
condição necessária para a felicidade não deve ser confundida com: (i) desprezo
pelos outros nem como uma forma dissimulada de auto-depreciação, (ii) com
insensibilidade pelo sofrimento alheio ou pelo isolamento que resulta daquela
postura eticamente reprovável, (iii) com menosprezo ou egoísmo, (iv) e, muito
menos, com misantropia.
A solidão que devemos ser capazes de
desenvolver interiormente é aquela que predispõe para a contemplação da Beleza (seja
uma paisagem natural seja uma obra de arte), para a prática anónima da
solidariedade (o altruísmo genuíno dispensa a publicidade para o bem que se
faz) e para o autoconhecimento que, por seu turno, enterreira para amar sem barreiras.