sábado, 31 de dezembro de 2016

Banda sonora para o inverno (28) - The Heather Findlay Band: "I Am Snow"

Editado neste mês frio de dezembro, I Am Snow é um disco de inverno, sendo esta, simultaneamente, a sua maior virtude e a sua intrínseca limitação. São 46 minutos distribuídos por 9 canções pastorais e melancólicas precisamente dedicadas ao inverno. Com I Still Do de Eric Clapton e Blackstar de David Bowie, é um dos melhores álbuns editados no ano da graça de 2016.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

"Natal Branco" - um clássico de Michael Curtiz

Natal Branco foi o 1º filme realizado para o formato VistaVision
Em 1954, Michael Curtiz já havia assinado há muito Casablanca. Também nesse ano, Bing Crosby e Danny Kaye eram já, há muito, estrelas maiores da música e do cinema. Natal Branco recuperava uma canção popularizada por Crosby muitos anos antes, consumando-se como uma obra icónica da época de ouro de Hollywood.

Repleto de coreografias inesquecíveis, de cenários como só a Hollywood do studio system conseguia pensar e executar, com uma fotografia de um rigor incomparável, incluíndo interpretações de atores completos (eram expressivos, cantavam, dançavam, moviam-se com graciosidade) e uma realização segura, que privilegiava enquadramentos e movimentos de câmara verdadeiramente antológicos, Natal Branco é uma fita exemplar de uma época - precisamente, a golden age - que jamais retornará a Hollywood.

O plano de abertura é uma autêntica declaração de intenções: em 1944, uma divisão do exército norte-americano, estacionada numa aldeia em Itália, aproveita um momento de tréguas natalícias para relembrar o Natal vivido em tempos de paz. Os cenários de guerra, com casas destruídas e um céu escurecido pelas bombas (em tempo de guerra não se vê luz), serve de homenagem perfeita aos homens que lutaram durante aquele terrífico conflito armado. E nós, espetadores passivos, na sala de cinema ou no conforto do lar, aproveitamos a cena inicial para viajar até àquele ténue momento de luz por entre as trevas e nos deixarmos deleitar com semelhante paleta estética. E - porque não? - com a voz perfeita de Bing Crosby.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Estado da Nação (15) - máfia do sangue

Luís Cunha Ribeiro, ex-Presidente do INEM, suspeito de corrupção
A corrupção no Portugal democrático atingiu níveis perturbadores, tendo chegado até ao sistema de saúde, facto que denota uma falta de controlo escandalosa (diria até, vergonhosa) e um desleixo absoluto na escolha do perfil moral, ético e comportamental dos respetivos dirigentes, por parte dos sucessivos Governos de Portugal.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"Em Teu Ventre" - maternidade(s) num livro menor de um escritor maior

A reinvenção das aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos nos idos da década de 10 do século XX, na Cova da Iria, serve de pretexto para uma, por vezes esotérica, reflexão de José Luís Peixoto em torno da maternidade. Todavia, fica a sensação de que tal meditação serve mais para compensar as parcas ideias do autor (talvez na tentativa de ser mais fiel aos factos, não os deturpando) do que um claro propósito de servir a história. Que não pense o leitor que não tem em mãos um livro bem escrito. Claro que há harmonia nas palavras, simplesmente parece tudo mais forçado e menos solto que as obras anteriores.

Percebo que este devia ser um projeto antigo do autor, porventura uma resposta a Morreste-me (obra dedicada ao pai), mas enquanto que esta obra era indubitavelmente um exercício de luto e catarse, Em Teu Ventre transparece procura racional da(s) palavra(s) certa(s), pelo que é um livro menos apaixonado e espontâneo.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal

Foto de Rui Louro Mendes.

Na altura em que se comemora o Nascimento de Jesus Cristo, desejo a todos os meus familiares, amigos, leitores e a todos os homens e mulheres de Boa Vontade, um Santo Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Natal (?)

A Festa da Família, símbolo maior da Paz e da Harmonia, momento de encontro do Homem com a Beleza Divina da Natividade, transformou-se numa orgia materialista. A Ternura e o Carinho do Reencontro deram lugar ao ruído do efémero. A mensagem transcendente do Amor foi substituída pela vaidade, pela marca, pelo preço, pela ostentação. Multidões cegas de consumidores compulsivos deambulam, como que hipnotizadas, pelos palácios do desperdício e perdem a alma num labirinto cheio de nada.

Urge restaurar a Natividade no coração do homem ocidental e trazer de novo, à sua Casa de Família, o Espírito que liberta e o Sopro do que está para Além. O Espírito de Verdadeiro Natal.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"Blackhat: Ameaça na Rede" - o lado negro da internet, por Michael Mann


Já estreou no início de 2015 e foi ignorado na cerimónia dos Óscares desse ano. Só agora vi o filme e fiquei impressionado: trata-se de um verdadeiro regresso de Michael Mann à sua melhor forma, a de um cineasta urbano empenhado na sua singular visão de cinema.

"Blackhat: Ameaça na Rede" é, na sua aparência, um filme de ação puro e duro, mas é, na sua essência, um drama político em torno do poder da internet sobre as agências secretas das maiores potências mundiais. Os mercados podem ser manipulados com relativa facilidade por hackers, centrais nucleares são potenciais alvos de programadores e piratas informáticos mal intencionados, e programas de desencriptação de ficheiros podem não ser usados por razões de espionagem e por motivos políticos, mesmo que em causa estejam milhares de vidas humanas.

E, depois, há aquela estética tão única, desde a fotografia até aos movimentos de câmara, passando pela bruma trágica que enleva as personagens. Uma obra-prima à altura de "Caçada ao Amanhecer" (1986) e "Heat - Cidade Sob Pressão" (1995).


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Prémios Nobel (6) - Literatura

O seu nome não constava no topo de nenhuma das listas de apostas. A sua vitória instalou a polémica ao dividir opiniões, como provavelmente nenhum outro Nobel da Literatura o fez. Mas Bob Dylan foi mesmo o escolhido pela Real Academia Sueca, "pela criação de novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana". 

Fiquei contente pela ousadia da Academia Sueca, apesar de preferir que a escolha tivesse recaído sobre Leonard Cohen - esse sim, além de poeta e cantautor, é um escritor com obra publicada e a merecer o estatuto de incontornável. Mas, concorde-se ou não com a Academia, goste-se mais ou menos de Dylan, a História do século XX - e mormente da cultura popular - passa obrigatoriamente pelo Sr. Robert Allen Zimmerman, comumente conhecido por Bob Dylan, que recuperou a tradição bárdica dando novos rumos à palavra cantada.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Prémio Nobel 2016 (5) - Paz

O Nobel da Paz foi atribuído ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos "esforços decisivos" para acabar com a guerra civil no país.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (4) - Química

A distinção na área da Química foi também para três cientistas: Jean-Pierre Sauvage (francês), Bernard L. Feringa (holandês) e Fraser Stoddart (escocês). Estes investigadores foram responsáveis pela "conceção e síntese de máquinas moleculares, que podem vir a ser usadas no desenvolvimento de novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia."

domingo, 23 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (3) - Física

Os vencedores do Prémio Nobel da Física, David J. Thouless, Duncan M. Haldane e Michael Kosterlitz foram distinguidos "pelas descobertas teóricas das transições da fase topológica e fases topológicas da matéria", segundo o anúncio da Real Academia Sueca das Ciências. Embora os três cientistas sejam de nacionalidade britânica, a maioria do seu trabalho é desenvolvido em universidades norte-americanas.

sábado, 22 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (2) - Medicina

O japonês Yoshinori Ohsumi foi distinguido por ter descoberto e esclarecido mecanismos no campo da autofagia. Trata-se de um processo celular que se efetua através da nutrição do organismo pelo consumo dos seus próprios tecidos, que se verifica, por exemplo, nos casos de jejum prolongado.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Prémios Nobel 2016 (1)

Em 1895, Alfred Nobel (1833-1896) dispôs, no seu último testamento, de grande parte da sua fortuna para a criação de um prémio que distinguisse contributos de excelência nas áreas da Física, da Química, da Medicina, da Literatura e da Paz (a distinção para as ciências económicas só foi acrescentada em 1968).

Os vencedores de 2016 terão direito a um prémio monetário de cerca de 834 mil euros cada.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Haiti também somos nós (4)

O furacão Matthew deixou um rasto de destruição nas Caraíbas, destruindo milhares de casas e inundando dezenas de localidades no Haiti, Bahamas e Cuba. O martirizado Haiti, ainda a recuperar do gravíssimo terramoto de 2010, foi o que mais danos materiais e humanos sofreu com a passagem do furacão: mais de um milhão de pessoas deslocadas e cerca de mil mortos. Muitas vítimas morreram soterradas nas habitações precárias destruídas pelo vento (com rajadas superiores a 230 Km/h) ou arrastadas pelas enxurradas que causaram inundações na ilha.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Jorge Jesus, o "imponente" impotente

É uma situação em que me sinto de certa forma mal porque me sinto 'imponente', não vou fazer parte do jogo.
Jorge Jesus, comentando a proibição de ir para o banco no jogo entre o Sporting e o Légia de Varsóvia, RTP, 27/09

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

"Crimson Peak: A Colina Vermelha" - um autor chamado Guillermo del Toro


Crimson Peak é um filme lindíssimo, um autêntico tratado de amor ao cinema. Plasticamente sublime, só é comparável ao que Coppola fez com Drácula de Bram Stoker. É, sobretudo, admirável se tivermos em conta que estamos perante o cineasta que nos trouxe o inane Batalha no Pacífico. Claro que no seu currículo, del Toro traz o brilhante O Labirinto do Fauno, pelo que, a partir de agora, há dois filmes incontornáveis deste autor.

Na Inglaterra do século XIX, uma jovem encontra inspiração em Mary Shelley para tentar a sua sorte como escritora de contos fantásticos. Entretanto, apaixona-se por um misterioso nobre, que a seduz ao mostrar-se interessado nos seus esquissos. Contra a vontade do seu pai (que é vítima de um bárbaro assassínio), a jovem casa com o barão, mudando-se para uma mansão vitoriana em ruínas, situada numa região montanhosa no norte do país. Todavia, o seu novo lar abriga fantasmas e entidades malignas que escondem um segredo terrífico.

Do ponto de vista estético, há planos que trazem à memória clássicos como E Tudo o Vento Levou, de Victor Fleming, imagens comparáveis a obras-primas da pintura, e diálogos ao nível da grande literatura romântica. Indubitavelmente, um dos melhores filmes de 2015. 


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Sócrates, o vampiro autofágico

Finalmente, José Sócrates revela o seu segredo: Eu já bebi o meu próprio sangue e estou com mais força do que nunca. [26/09]

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Banda sonora para o outono (38) - Bat For Lashes: "The Bride"


Saiu no verão, mas é um álbum outonal na forma (texturas sonoras delicadas, cordas dedilhadas com elegância, teclas afloradas com graciosidade, voz melancólica) e no conteúdo (é como se fosse a versão poética de "O Monte dos Vendavais", de Emily Brontë).

The Bride é um disco lindíssimo que, à semelhança da última obra de Nick Cave, vale pelo todo, não se reduzindo às suas (lindíssimas) canções.


domingo, 9 de outubro de 2016

"Os Luminares" - prodigiosa obra literária de Eleanor Catton


Romance histórico e thriller astrológico em simultâneo, Os Luminares é uma obra literária ambiciosa, original e inovadora: ambiciosa nas suas quase 900 páginas de prodigiosa narrativa; original pela história que conta (um mistério por resolver em 1866, em plena febre do ouro, na cidade de Hokitika, Nova Zelândia) e inovador, sobretudo, pela recuperação da estrutura dos romances vitorianos.

A corrida ao ouro, o tráfico de ópio, a prostituição e a expiação do passado de doze personagens, além de um intrincado mistério aparentemente insolúvel, revelam a singularidade desta obra-prima, iluminada por referências astrológicas, chaves simbólicas orientadoras do destino dos protagonistas. Surpreendente e viciante, trata-se de ficção urdida com um rigor estético impressionante.

Não tenhamos dúvidas, este enigmático romance de Eleanor Catton é incontornável, tendo sido justamente reconhecido com o Man Booker Prize 2013. Os Luminares é como um enorme cubo de Rubik, com camadas de narrativa que deslizam e se dispõem em novas formas, criando perspetivas insólitas e padrões inesperados.

sábado, 8 de outubro de 2016

"Os Jogos da Fome: A Revolta - Parte 1" - tédio em imagens em movimento


As sagas de ficção científica para público adolescente estão, definitivamente, na moda. Os Jogos da Fome adaptam para o grande ecrã a série de livros assinados por Suzanne Collins, mais uma escritora bafejada pela sorte de um contrato milionário com os estúdios de Hollywood, juntando-se a J.K. Rowling e George R.R. Martin.

Quanto ao 3º tomo da saga, está dividido em duas partes (efeito Harry Potter?) e consegue ser (ainda) mais aborrecido que o anterior, valendo, sobretudo, pela prestação sempre empenhada de Jennifer Lawrence. Um filme sobre uma distopia, que se tornou, ele próprio, distópico.


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Banda sonora para o outono (37) - Nick Cave: "Skeleton Tree"


Em 2015, Nick Cave perdeu um filho. Chamava-se Arthur, tinha 15 anos e morreu num brutal e inesperado acidente (caiu de uma ravina). Skeleton Tree foi composto e gravado durante o processo de luto, um luto sempre inacabado para pais que perderam um filho. A música que resulta desse período é uma viagem ao reino de Jesus Cristo, que tem como ponto de partida o inferno. Poemas metafísicos, pautas celestiais e voz sofrida. É como se o artista australiano vestisse a pele de Orfeu e embarcasse numa viagem sónica rumo às profundezas do Hades, não para resgatar Eurídice mas para salvar o filho - projeto inacabado de si próprio. 

Cave imagina quem o filho poderia ter sido se chegasse à velhice ou voltasse a nascer. Renasce Lázaro. Regressa Arthur.

sábado, 1 de outubro de 2016

Filmes tão maus, que são tão bons! (2) - "Navajo Joe" (1966), de Sergio Corbucci


Sergio Corbucci (realizador e argumentista de películas com Bud Spencer e Terence Hill) assina este inacreditável western-spaghetti protagonizado por um bronzeadíssimo Burt Reynolds, aqui no topo da sua forma física, fazendo o que melhor sabe: ser canastrão.

Reynolds é Navajo Joe, um índio que procura avidamente vingar o massacre perpetrado contra a sua tribo. Os responsáveis foram um grupo de foras-da-lei que ganha a vida a vender o escalpe de índios.

O filme está cheio de acrobacias de Reynolds, de zoom-in, de efeitos sonoros manhosos, de atores mal dobrados (a fita é uma co-produção italiano-espanhola, e tem muitos atores desses países) e tem uma banda sonora inesquecível do mestre Ennio Morricone (que, talvez para se demarcar de outras composições, assina aqui como Leo Nichols). Há até uma cena em que a marcha de um comboio é interrompida por troncos, mas, estranhamente, não se vê uma única árvore naquele deserto.

Ficam na memória a música e o tom cartoonesco de uma película que serviu com dignidade matinés de outros tempos em salas de cinema que há muito (infelizmente!) desapareceram.


domingo, 25 de setembro de 2016

Filmes tão maus, que são tão bons! (1) - "Quando o Mundo Nasceu", de Don Chaffey

Título original: One Million Years B.C. (1966)
Intérpretes: Raquel Welch e John Richardson

Trata-se de um remake de um filme de 1940, que narra a história de Tumak, uma espécie de anti-herói da pré-história, que, após ser banido da sua tribo, conhece uma beldade (por sinal, helvética!), de nome Loana, que pertence a uma tribo civilizada, onde Tumak vai ter sérias dificuldades de integração. Se não, vejamos:

- A tribo de Tumak era caçadora-recoletora; por sua vez, o grupo de Loana já cultiva os próprios alimentos;
- Na tribo de Tumak imperava a lei do mais forte; na de Loana a liderança é confiada ao homem mais sábio;
- Quem morre, ou fica gravemente ferido, na tribo de Tumak, é abandonado para gáudio dos abutres; na tribo civilizada os rituais fúnebres são muito parecidos com os das religiões monoteístas;
- Na tribo de Tumak, homens e mulheres são morenos, feios, imundos e maus; a de Loana parece uma utopia ariana: são todos bonitos, loiros e com olhos azuis.

A este delírio psicadélico, juntem-se animais pré-históricos (sim, afinal o Homo Sapiens Sapiens teve que enfrentar perigosos dinossauros e tartarugas gigantes, tão lentas quanto perigosas), efeitos especiais ranhosos (da responsabilidade do mítico Ray Harryhausen) e diálogos (escassos, felizmente!) hilariantes, e ficamos com uma película tão má, que é uma delícia da arqueologia cinéfila.

sábado, 17 de setembro de 2016

Estado da Nação (14) - 80 mil alunos no 1º ano

O ano letivo 2016/2017 iniciou com a maior quebra de sempre no número de alunos no 1º ano do 1º ciclo. Há quatro anos, as escolas abriram pela primeira vez para 107 mil alunos.

Sinal dos tempos. O mesmo país que atrai cada vez mais turistas não gera confiança na renovação geracional.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Adeus, Gene Wilder (1933-2016)


Este comediante genial foi o primeiro (muito antes de Johnny Depp) Willy Wonka no cinema - em A Maravilhosa História de Charlie, realizado por Mel Stuart, em 1971. Mas, na minha memória afetiva, ficará por três das comédias que mais me fizeram rir na adolescência: Frankenstein Junior (a obra-prima de Mel Brooks), filme de 1974, A Mulher de Vermelho (assinado pelo próprio Gene Wilder, em 1984) e Cegos, Surdos e Loucos (realizado pelo mestre Arthur Hiller, em 1989). 

De olhar brilhante e sorriso luminoso, Gene Wilder foi um artista generoso.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Estado do Mundo (40) - A liberdade de expressão na Turquia de Erdogan


A escritora e jornalista Asli Erdogan foi presa a 20 de agosto deste ano. Detida na prisão feminina de Barkirköy, de acordo com o seu advogado, está confinada a uma solitária com uma cama cheia de urina, foi privada dos medicamentos de que necessita e não a deixam ver a luz do dia.


O Pen Club Internacional lançou uma campanha pela libertação de Asli Erdogan (que, apesar do apelido, não tem qualquer ligação de sangue com o atual presidente turco). No site é possível consultar as moradas das embaixadas turcas e o endereço da presidência do país, para onde devem ser enviadas cartas a pedir a libertação da escritora.

domingo, 11 de setembro de 2016

Estado do Mundo (39) - (des)igualdade de género (2)

«Que exemplo estaremos a dar aos aos nossos filhos ao pagarmos menos às mulheres do que aos homens por trabalho igual?»
Barack Obama, Presidente dos EUA, que lançou um apelo em defesa da igualdade salarial no País

sábado, 10 de setembro de 2016

Estado do Mundo (38) - (des)igualdade de género


Facto 1: De acordo com o Global Gender Gap Report 2015, as mulheres, em Portugal, ganham em média menos 9.200 euros por ano do que os homens.

Facto 2: 16% é o que os homens recebem a mais do que as mulheres, em média, nos países da União Europeia por desempenharem trabalho igual, de acordo com o Fórum Económico Mundial.

Facto 3: Nos últimos dez anos, a desigualdade salarial diminuiu apenas 3%, pelo que, a este ritmo, serão precisos 118 anos para se atingir a igualdade salarial.

Facto 4: A atriz mais bem paga no mundo é a talentosa Jennifer Lawrence, ganhando 40,6 milhões de euros num ano; o seu congénere masculino é o canastrão Dwayne "The Rock" Johnson, que lucrou mais 17,4 milhões do que aquela atriz.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

"100 Code" - uma série policial competente


Da Suécia, surge uma série policial competente liderada pelos atores Dominic Monaghan e Michael Nyqvist. A premissa é clássica: Tommy Conley é um detetive nova-iorquino enviado à Suécia para observar e aconselhar a polícia de Estocolmo nas investigações dos assassinatos de várias jovens. Conley acaba por formar equipa com Mikael Eklund, um polícia veterano que começa por hostilizar o seu novo parceiro mas que, rapidamente, aprende a respeitar.

100 Code obedece ao filão de filmes e séries em torno de duplas de polícias bem diferentes entre si, um mais sereno e racional, outro mais nervoso e impulsivo. Há, todavia, o toque nórdico que confere alguma singularidade à série. Desde a saga Millenium que estão na moda os thrillers escandinavos. Ainda bem. O céu permanentemente cinzento e o frio glaciar ajudam a criar uma atmosfera de perigo iminente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

"Os últimos na Terra", de Craig Zobel - o desejo depois da catástrofe


Craig Zobel constrói uma parábola futurista centrada na relação entre dois sobreviventes de uma catástrofe nuclear. A aparente paz e vontade de recomeçar e reedificar por parte desta reatualização do mito de Adão e Eva em Éden pós-apocalíptico vai ser perturbada pela chegada de um estranho, que desperta o desejo na mulher e o ciúme e sentido de posse no homem. A partir deste jogo de ambiguidades, onde o que se expõe é muito menos do que aquilo que se esconde, somos conduzidos ao inevitável pecado original e à reposição da normalidade pelo crime.


Qual eterno retorno, a história repete-se: o desejo sexual, a propriedade privada, a desconfiança, a inveja, o egoísmo e o ciúme são confundidos com a proteção do que se ama. Sim. Não de quem se ama, mas das coisas que se amam, daquilo que se ama. Instinto, impulso, pulsão, líbido, desejo, corpo, matéria das paixões, mesmo após a catástrofe da destruição da natureza.


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

"A Rapariga no Comboio", de Paula Hawkins - um "page turner" dececionante





Confesso que tenho como guilty pleasure de eleição o gosto pela leitura ávida de alguma literatura mais comercial, invariavelmente romances policiais que, todos os anos, surgem como best seller do verão. Livros nem sempre brandos para tardes solarengas de estio, portanto.


A Rapariga no Comboio é um desses livros que vendem milhares de exemplares e que se anunciam como "o êxito de vendas mais rápido de sempre". A premissa é sedutora: durante as suas viagens de comboio, uma mulher fantasia acerca da vida de um jovem casal que vive próximo de um apeadeiro; ela observa a sua rotina matinal no pequeno terraço da casa onde vivem, até que assiste a uma alteração nessa repetição, que a inquieta: em vez do marido julga ver um amante da jovem. A notícia do desaparecimento da última mulher, leva a protagonista (de espírito cínico, agora caída em desgraça) a tentar deslindar o mistério.

Há no livro sinais do clássico Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, e do romance Em Parte Incerta, de Gillyan Lynn, mas, no fim, fica a sensação de que Paula Hawkins desperdiçou uma boa história, tal é o vazio de ideias e a pobreza literária do romance. Hitchcock ou Brian de Palma talvez conseguissem transformar A Rapariga no Comboio num bom thriller.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

"A Assassina" - o regresso de Hou Hsiao-Hsien


Filme premiado em vários festivais de cinema, A Assassina marca o regresso de um dos mais prestigiados cineastas asiáticos, Hou Hsiao-Hsien, que não assinava uma obra desde 2007.

A Assassina é uma película de câmara, de planos e de cores. Parábola moral que narra o conflito interior de uma mulher treinada para matar mas que escolhe não perpetrar o crime, esta é uma obra para contemplar e deixar que se vá entranhando na sensibilidade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

"A venturosa história do usbeque mudo", de Luís Sepúlveda - Nostalgias de esquerda

É impossível não nutrir simpatia e carinho pela escrita de Luís Sepúlveda. Desde os clássicos O velho que lia romances de amor e História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, passando por Patagónia Express e Diário de um killer sentimental, é fácil sentirmo-nos rendidos às suas narrativas simples (mas não simplistas) e fluídas, aos seus heróis generosos e até a uma certa poesia romântica, como se todas as histórias fossem contadas a partir da memória afetiva de pessoas, lugares ou animais.

É neste contexto que se lê o pequeno volume de contos A venturosa história do usbeque mudo, uma espécie de requiem nostálgico por uma juventude irrepetível, aquela que, durante as décadas de 60 e 70, lutou contra regimes fascistas na América Latina. São histórias breves que trazem à memória camaradas de esquerda do próprio autor, heróis míticos como Che Guevara (há um capítulo que detalha os seus últimos momentos de vida) ou soldados que pereceram em nome da causa revolucionária e que, de outra forma, estariam condenados ao esquecimento.

Claro que a perspetiva de Sepúlveda nunca é imparcial: os revolucionários são sempre guerrilheiros de bom coração. Mas esse era também um sinal dos tempos retratados nesta obra, uma determinada ingenuidade e honestidade que já não volta. E tal visão não revela qualquer forma de maniqueísmo, antes pelo contrário, torna as histórias mais comoventes e intensificam o prazer da leitura.

domingo, 4 de setembro de 2016

"Quarto" - exercício de afetos, por Lee Abrahamson


A partir do romance O Quarto de Jack, de Emma Donoghue (e segundo argumento da mesma autora), Lenny Abrahamson constrói um comovente drama centrado na relação entre uma jovem e o seu filho de cinco anos, que vivem presos num minúsculo quarto cuja única janela para o mundo exterior é uma clarabóia. A mãe mantém o pequeno Jack na ilusão de que aquele quarto é o mundo onde se encontram protegidos de extraterrestres.

Quarto está dividido em duas partes: a primeira corresponde à sinopse apresentada atrás; a segundo descreve a fuga da criança e a adaptação ao novo mundo fora do quarto. Abrahamson consegue manter o equilíbrio com uma realização segura que, respeitando o olhar de uma criança de cinco anos, é tão hábil a filmar o huis clos da primeira parte como na captação do novo ambiente familiar da última parte.

Apesar de algum maniqueísmo emocional (difícil de evitar, tendo em conta a terrível situação em que os protagonistas se encontram), estamos perante um bom filme, fazendo-nos acreditar, desde o primeiro minuto, na vinculação securizante estabelecida entre aquela mãe e o seu filho. Por isso, também nós, espetadores, passamos cerca de uma hora encerrados naquele quarto feito mundo - e esse é o maior mérito da película.

sábado, 3 de setembro de 2016

Estado do Mundo (37) - Os 10 países mais perigosos para as mulheres

Quase que podíamos citar o título do primeiro tomo da saga Millennium, de Stieg Larsson, Os Homens [neste caso, Países] que Odeiam as Mulheres. Na sequência de declarações do ministro do Turismo e da Cultura indiano, que pediu às mulheres que visitem a Índia que não usem saia e evitem saídas à noite (no que pode ser interpretado como uma responsabilização da mulher pelo crime do qual é vítima), o i publicou na edição de 31 de agosto o ranking dos países mais perigosos, sobretudo para as mulheres. Eis a lista:

1 - Índia [a cada quatro horas há uma violação em Nova Deli]
2 - México [onde existem altos níveis de criminalidade e violência de gangues]
3 - Brasil [terceiro país do mundo com maior taxa de homicídios]
4 - Egito [depois da primavera Árabe houve um aumento do número de casos de violência sexual]
5 - Arábia Saudita [no ano passado, 1200 mulheres morreram durante visitas ao país]
6 - Turquia [o uso das chamadas "drogas da violação" tem vindo a aumentar exponencialmente]
7 - Honduras [aqui encontra-se a cidade mais violenta do mundo]
8 - Quénia [são inúmeros os casos de violação e rapto]
9 - Colômbia [país que coloca muitos entraves à condenação de um homem pelo crime de violação]
10 - Jamaica [onde o crime violento tem vindo a crescer de forma impressionante].

Países a educar e a evitar, portanto.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

"Os Oito Odiados" - Wester Spaghetti + Agatha Christie = Quentin Tarantino


Nicholas Ray, Sergio Leone, Alfred Hitchcock e Agatha Christie parecem reunir-se no oitavo filme de Quentin Tarantino. Em boa verdade, Os Oito Odiados constitui a oitava homenagem deste autor às suas influências estéticas e identitárias, depois de já ter feito o mesmo a Scorsese, aos blaxploitation movies, à pulp fiction, aos filmes de guerra, aos westerns e ao cinema de Hong Kong.

Há uma vontade de fazer cinema de recorte clássico, tanto na escolha da película (70mm), como na decisão de estender o filme por três horas com longos planos fixos e dando primazia aos diálogos (à semelhança das outras obras que assinou), bem como na banda sonora de Ennio Morricone (justamente premiada com um Óscar). Depois há as fabulosas interpretações, com destaque evidente para Samuel L. Jackson naquele que é, provavelmente, o melhor desempenho da sua carreira.

Juntando os códigos do western e do thriller, Tarantino cria uma fita de detalhes, em que o misterioso desaparecimento dos proprietários de uma estalagem nas montanhas, durante um inverno rigoroso, é o dispositivo narrativo cujo desenlace, afinal, é um pretexto para a (des)construção de um mito: a carta que Lincoln terá escrito a um escravo foragido durante a Guerra Civil Americana.


domingo, 21 de agosto de 2016

Legendar o silêncio icónico (31) - Filhos da guerra

O rosto ensanguentado e coberto de poeira de Omran Daqneesh, menino sírio de 5 anos de idade, recuperado dos escombros provocados por um ataque aéreo, foi capa de muitos jornais desta semana. Omran é uma das 75 mil crianças que lutam para sobreviver em Alepo. Crianças que não conhecem outra realidade que não a guerra.

sábado, 20 de agosto de 2016

Estado do Mundo (36): A tragédia das crianças-soldado

A notícia foi publicada, ontem, no Observador, e é o último grande alerta da UNICEF: o número de crianças-soldado não para de aumentar. No Sudão do Sul serão cerca de 160 mil, recrutadas desde 2013 (650 já este ano). Justin Forsyth, adjunto do diretor executivo da UNICEF, no regresso de uma deslocação a Bentiu e Juba, naquele país, afirmou que "no atual período extremamente precário da breve história do Sudão do Sul, a UNICEF teme que possa estar iminente um aumento exponencial do recrutamento de crianças". 

A UNICEF promove os direitos e o bem-estar das crianças no mundo, trabalhando em 190 países. No Sudão do Sul, reporta e monitoriza violações graves dos direitos das crianças no âmbito de um grupo de trabalho das ONU (com a sigla MRM - Monitoring and Reporting Mechanism), documentando seis abusos cometidos contra crianças: recrutamento por forças e grupos armados, assassínio e mutilação, ataques contra escolas e hospitais, violação e outras formas de violência sexual, rapto e impedimento do acesso humanitário.

Até quando faremos de conta que nada disto está a acontecer ou que não é nada connosco? Qual é a posição das forças políticas da esquerda pacifista, que apelam sempre à intervenção diplomática e nunca à intervenção militar? Qual deve ser o real papel político que a ONU e a NATO devem desempenhar?

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

"O Caso Spotlight" - requiem pela imprensa escrita, por Tom McCarthy

Justamente premiado com o Óscar de Melhor Filme do Ano, O Caso Spotlight é uma honesta homenagem ao jornalismo de investigação e à imprensa escrita; uma sentida dedicatória a um jornalismo de equipa que implica tempo, um tempo incompatível com o tempo da internet; um sincero requiem por um jornalismo com filtros, que requer leitores exigentes e um público que procura informação rigorosa - porque quer pensar com ela e a partir dela.

O argumento é uma lição de economia narrativa, didático na forma como coloca o espetador no labor jornalístico, não optando pela solução mais fácil, que seria explorar o filão emocional das vítimas de pedofilia dos padres, que a Igreja Católica tentou ocultar ou silenciar. Deste modo, o pathos reside na empatia do espetador com os conflitos dos jornalistas, verdadeiros heróis desta obra-prima de Tom McCarthy.

Os super-heróis podem ser quem leva mais público ao cinema, mas é este cinéma vérité que será recordado na cinefilia futura.


terça-feira, 16 de agosto de 2016

"The Ravenant: o renascido" - metafísica "new age", por Alejandro González Iñarritú

Um ano depois da obra-prima Birdman, Iñarritú parece não querer perder tempo e assina o épico The Ravenant, oferecendo a Leonardo DiCaprio mais um tour de force. A interpretação de DiCaprio é verdadeiramente extraordinária, mas convém lembrar que este ator está mais que habituado a desafios, sendo, de resto, a personagem que interpreta superlativamente em The Ravenant talvez a mais linear e menos complexa da sua distinta carreira.

A história da terceira vida de um homem (sim, entende-se que ele renasce duas vezes: uma, quando casa com uma índia, e, outra, quando sobrevive ao ataque de uma ursa) na América selvagem pós-Guerra Civil prolonga o esforço de Iñarritú em criar um cinema autoral de pendor metafísico. Mas o que resultou numa espécie de ironia trágica em Birdman, perde-se agora numa forma de misticismo (já aflorado pelo cineasta mexicano no olvidável Biutiful) levado à letra. Não tivesse esses apontamentos (pseudo) filosóficos simplistas e pretensiosos (que uma história tão dramática como esta bem dispensava) e poderíamos estar perante outra obra-prima de Iñarritú. Mas não é Terence Mallick quem quer!


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Banda sonora para o verão (36) - Gong: "The Radio Gnome Trilogy"

A reedição dos álbuns Flying Teapot, Angel's Egg (ambos de 1973) e You (de 1974), naquela que ficou conhecida como The Radio Gnome Trilogy, dos Gong, marcará, com certeza, o ano discográfico.

É cacofonia musical sob a forma de opereta rock de ficção científica, ou não fosse a banda de Daevid Allen (1938-2015) uma ilustre representante da música sem fronteiras e sem formatos. Em boa verdade, não é justo chamar-lhe rock, jazz, fusão ou música experimental, é tudo isso e, simultaneamente, outra coisa - é música inclassificável. É Arte. Como eles, só os Soft Machine (também fundados por Allen), Weather Report e King Crimson.

Memória gloriosa dos anos 70, uma década de rock progressivo e experimentação. Se Bowie era um extraterrestre, o seu planeta de origem era, provavelmente, governado por Allen.


domingo, 14 de agosto de 2016

Estado do Mundo (35) - Para onde vai o plástico

Nem o fim do uso gratuito de sacos de plástico nos supermercados vai salvar os oceanos. De acordo com um relatório divulgado pelo Fórum Económico Mundial, estima-se que, atualmente, mais de 150 milhões de toneladas de plásticos poluam os oceanos, pelo que, em 2050, estes vão ter, em peso, mais plástico do que peixes.

Ora, se tivermos em conta o problema gravíssimo da sobrepesca (30% das capturas não são comunicadas à ONU), é caso para perguntar: que futuro para os oceanos?

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Estado do Mundo (34) - Riqueza de 1% da população supera a dos restantes 99%

Em 2015, as 62 pessoas mais ricas do mundo tinham a mesma riqueza que a soma da metade mais pobre do planeta. Isto significa que a riqueza acumulada por 1% da população mundial, os mais ricos, superou a dos 99% restantes. Os dados foram revelados num relatório da Oxfam, Uma Economia ao Serviço de 1%.

Para aquela ONG, a forma mais eficaz de combater estas desigualdades é acabar com os paraísos fiscais, que permitem o desvio de fortunas que não são tributadas. E dá o exemplo da riqueza de África, uma vez que se estima que 30% dos rendimentos financeiros do continente não são tributados.  Para a Oxfam, este dinheiro chegaria para salvar a vida de 4 milhões de crianças todos os anos, para pagar salários de professores e educar todas as crianças.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Banda sonora para o verão (35) - "Malibu", de Anderson .Paak

"If i can balance between the old and the new, I'll obtain my satisfaction." São de Anderson .Paak estas palavras, rezam no fim da penúltima faixa de Malibu, Celebrate. O disco celebra a diversidade ao misturar subtilmente soul, funk, hip-hop e até R&B. Sempre com equilíbrio e harmonia.

The bird, Heart don´t stand a chance ou The dreamer revelam-se verdadeiros testamentos musicais que acompanharão, com certeza, os melhores momentos vividos por estes dias cálidos.



quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A austeridade, segundo a "geringonça"

O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, aceitou que a Galp lhe pagasse duas viagens para ver jogos da seleção portuguesa no Euro. De acordo com a revista Sábado, aquela empresa pagou a passagem, transportando o ilustríssimo funcionário público num voo fretado só para convidados. O problema (ou será melhor afirmarmos, um dos problemas) é que o fisco tem 100 milhões em contencioso com a Galp. Mas, para o Ministério das Finanças, "não existe qualquer fundamento para falar em conflito ético". Não? - pergunto eu.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Multiculturalismo e Direitos Humanos

Impressionante artigo publicado, hoje, no Observador sobre o caso de uma viúva cigana que fugiu da comunidade onde vivia para não ter que andar de luto. O caso passou-se em Lisboa. Ler o texto assinado por Sónia Simões obriga-nos a pensar acerca deste relativismo cultural travestido de multiculturalismo, que mais não é do que tolerar a intolerância e fechar os olhos às violações dos Direitos Humanos perpetradas por aquela etnia. Permitir que a barbárie se instale na porta ao lado, sob o pretexto de que se trata de uma cultura diferente da nossa, que vive sob a égide de leis ancestrais e imutáveis, é desvirtuarmos a essência da Liberdade.

domingo, 31 de julho de 2016

A propósito do terrorismo...

...convém lembrar a sabedoria de Santo Agostinho:

"De tanto ver, acaba-se por tudo suportar, de tanto suportar acaba-se por tudo tolerar, de tanto tolerar acaba-se por tudo aceitar, de tudo aceitar acaba-se por tudo aprovar..."

quinta-feira, 21 de julho de 2016

[estio]

cálido verão
deixa-se levar
pelas margens
de uma solidão
encantada
com a possibilidade
de existir
sem contrário,
qual profilaxia da vontade.

"ousa saber!" - diria Kant
no verão frio de Königsberg
agasalhado em diurnas leituras,
porventura, já avassalado pela gota,
único atraso numa vida pontual.

desejo essa assiduidade
ambiciono tal solarenga presença
desolada
com a possibilidade
(feita certeza)
de o impulso
ser contrário à moral
efeito secundário
da estival atração
que se transfigura
por entre as margens
da idade madura.

domingo, 17 de julho de 2016

"No Coração do Mar" - "Moby Dick" por um artesão

Herman Melville (1819-1891) é, para muitos, o grande romancista épico norte-americano, sendo Moby Dick o exemplo maior da sua perícia como escritor. Ron Howard é um artesão do cinema, com uma carreira que, há semelhança de cineastas da primeira metade do século XX, será, no futuro, seguramente revalorizado e a sua filmografia objeto de revisão e reavaliação.

No Coração do Mar é, precisamente, a reconstituição da tragédia do navio Essex, que terá estado na génese do romance Moby Dick. É um filme sobre a caça à baleia, versando sobre a relação entre o homem e a natureza, num tour de force sem ousadias estilísticas, direto ao osso, portanto.

Foi um objeto ignorado na última cerimónia dos Óscares, dada a sua natureza artisticamente despretensiosa, filmada com o rigor de um artesão. Será, com certeza, daqui a 20 anos um clássico da sétima arte. Não é uma obra-prima, na medida em que há personagens secundários que não são suficientemente explorados, mas não era essa também uma característica de obras de realizadores como William Dieterle ou William A. Wellman?

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Somos Campeões Europeus de Futebol

Diga-se o que se disser, só uma coisa é certa: a Seleção Portuguesa foi a justíssima vencedora do Euro 2016. É a prova de que com garra, união, solidariedade, motivação, resiliência e espírito de sacrifício é possível tornar (pelo menos, alguns) sonhos (mesmo os mais difíceis!) realidade. Parabéns, Portugal!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Michael Cimino (1939-2016) - teremos sempre "O Ano do Dragão"

No já longínquo ano de 1985, entrei numa (agora defunta) sala de cinema (o saudoso Chaplin, em Leça da Palmeira), acompanhado pelo meu irmão, para ver O Ano do Dragão, a primeira obra de Michael Cimino após o gigantesco fiasco de As Portas do Céu (1980).

Para além da realização vertiginosa de Cimino, O Ano do Dragão confirmava Mickey Rourke como o ator mais interessante da década de 80, entregando-se de corpo e alma a uma interpretação eletrizante. Naquela altura, corria o rumor de que ele seria o próximo 007. Era isso mesmo, um rumor, nada mais. Rourke não tinha paciência para Hollywood e gostava pouco de realizadores, tendo posteriormente rejeitado papéis em filmes que poderiam ter dado um rumo diferente à sua carreira e à sua tumultuosa vida pessoal. No entanto, Cimino era um dos poucos eleitos e viria a trabalhar com ele, cinco anos depois, no thriller visceral "A Noite do Desespero". A aura de cineasta maldito talvez tenha contribuído para a química e a comunicação entre o realizador e o ator.

O Ano do Dragão era uma espécie de regresso às personagens de O Caçador (Cimino, 1978). Nele, Mickey Rourke é Stanley White, veterano da guerra do Vietname, agora chefe da polícia de Chinatown determinado a combater a máfia chinesa que domina o tráfico de droga naquele bairro nova-iorquino. White é arrogante, racista e tendencialmente niilista, o que contribuiu muito para as acusações movidas por grande parte da crítica de que o argumento de Oliver Stone seria profundamente racista e Cimino um republicano xenófobo a ajustar contas com o passado (nomeadamente, a derrota humilhante sofrida pelos EUA no Vitename). Visão redutora, e até deturpada, acerca de um filme em torno de um anti-herói incorruptível, determinado a fazer justiça, qual xerife de um western clássico (com John Ford à cabeça). Em boa verdade, Rourke provava que podia ser um ator maior que a vida, uma interessante combinação entre John Wayne e Marlon Brando (de resto, chegou a ser caracterizado por boa parte da imprensa como "o novo Marlon Brando"). Arriscaria mesmo considerar O Ano do Dragão como o maior filme policial da década de 80.

Michael Cimino lega-nos uma obra pequena em número - assinou apenas 7 películas -, mas fica a sensação de que, independentemente das vicissitudes da sua carreira (e foram muitas!), realizou os filmes com total liberdade artística, deixando uma marca pessoal indelével em todos. Talvez tenha chegado a altura dos historiadores e críticos de cinema reavaliarem parte da sua obra cinematográfica (a começar precisamente por O Ano do Dragão) e não celebrar apenas O Caçador e As Portas do Céu. Cimino foi mais do que estes dois filmes, talvez o maior discípulo de Orson Welles - na visão, no solipsismo e (por que não?) na megalomania. Ou, como ele gostaria de ser recordado: "Cimino - um cineasta individualista".


Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...