segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Legendar o silêncio icónico (5) - Somos 7 mil milhões


Este é um recém-nascido num hospital de Tegucigalpa, nas Honduras. A partir de hoje, já somos 7 mil milhões de pessoas no mundo. É em África que a população mais cresce, mas não é nesse continente que as pessoas mais esgotam os recursos naturais. Na verdade, são poucos os que sabem que os ocidentais são os maiores responsáveis pelo desperdício e fome que existem em todo o planeta. Fixe este número: 1000 milhões de seres humanos passam fome, porque os recursos não são bem distribuídos.

sábado, 29 de outubro de 2011

"As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne" - Hergé por Spielberg

E aí está o melhor filme deste outono, verdadeira inauguração da rentrée cinematográfica. Se este filme não for nomeado para os Óscares nem tiver o sucesso de bilheteira que bem merece, então, nestes tempos de crise e cinzentismo ideológico perdemos definitivamente a capacidade de sonhar. 

Tintin não tem super-poderes, é um repórter intrépido, inteligente, sensível e curioso, que se faz sempre acompanhar por Milu, o seu fiel cão, e por amigos hilariantes, sobretudo o Capitão Haddock e os desastrados investigadores da polícia, Dupond e Dupont. Aqueles que na infância devoraram os livros das aventuras de Tintin tiveram a oportunidade de viajar e conhecer o mundo, num apelo constante à imaginação, à inteligência e ao bom gosto.

Steven Spielberg conseguiu a proeza de adaptar o universo de Tintin ao cinema, fazendo jus ao espírito da BD criada pelo génio de Hergé. Dos livros originais (nomeadamente, "O Segredo do Licorne") nada se perdeu no novo filme do maior génio do cinema contemporâneo, que acrescenta assim mais uma obra-prima ao seu percurso brilhante, inovador, iconográfico e, acima de tudo, incontornável.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Paz 2011

Ellen Johnson Sirleaf, Presidente da Libéria, Leymah Gbowee, ativista liberiana, e Tawakul Karman, ativista iemenita, foram galardoadas com o Prémio Nobel da Paz, pelos seus trabalhos em prol da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Enquanto as duas primeiras têm sido fundamentais para a manutenção da paz na Libéria, Karman, com apenas 32 anos, tem tido um papel fulcral no que toca à libertação de presos políticos e à liberdade de expressão. A iemenita também se destaca por ser a primeira mulher árabe a ganhar um Nobel da Paz.

Leymah Gbowee, por seu turno, é reconhecida por ter convocado uma revolucionária greve de sexo há alguns anos. Já quanto à Presidente da Libéria, tem enfrentado algumas críticas por não cumprir todas as promessas económicas e sociais que fez.

Ainda assim, parabéns às três e uma breve nota cinzenta para assinalar o modo como os media praticamente ignoraram a atribuição do prémio. Definitivamente, a Paz está cada vez menos mediática.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Legendar o silêncio icónico (4)


15 de Outubro de 2011. Um rapaz tailandês tenta proteger algumas notas, enquanto nada por entre as cheias que assolaram Banguecoque. Foi uma inundação devastadora, que afetou grande parte das 12 milhões de pessoas que habitam na capital da Tailândia.

domingo, 23 de outubro de 2011

"Debate Pela Liberdade" - um filme inspirador

Denzel Washington estreou-se na realização com um filme discreto, mas que ensaiava já os passos para o crescimento formal de um experiente ator feito agora cineasta. A singular película chamava-se "Antwone Fisher" e centrava-se na relação entre um psiquiatra e um jovem soldado a braços com um passado familiar traumático e fraturante. O que mais se destacava na fita era a direção de atores segura, típica de quem construiu a sua carreira nessa profissão.

Nesse sentido, "Debate Pela Liberdade" representa, para Denzel Washington, uma significativa evolução como cineasta. Que não haja dúvidas: trata-se de um filme dramático à altura de grandes clássicos da história do cinema, particularmente do tipo de filmes engajados com causas sociais e políticas, como já há muitos anos não víamos (vêm-me à memória "Reds" de Warren Beatty, "Peço a Palavra" de Frank Capra, "Malcom X" de Spike Lee, "JFK" de Oliver Stone, "Terra Sangrenta" de Roland Joffé, "Mississipi em Chamas" de Alan Parker, "Danças Com Lobos" de Kevin Costner, "Tempo de Glória" de Edward Zwick).

O professor Melvin B. Tolson (mais uma rigorosa interpretação de Denzel Washington) dá aulas de literatura na Universidade de Wiley, no Texas, nos anos 30 do século passado. Em 1935, resolve criar um novo grupo de debate selecionando os melhores alunos da universidade. A premissa da história é verdadeira. Na verdade, Tolson influenciou os seus alunos a formarem a primeira equipa de debate constituída exclusivamente por alunos negros numa América ainda dilacerada pelo racismo, desafiando a Universidade de Harvard numa competição de retórica persuasiva. Que fique, uma vez mais, claro: "Debate Pela Liberdade" é um grande, inspirador e emocionante filme.

Trailer de "Debate Pela Liberdade", de Denzel Washington


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Banda sonora para o outono (18)

Com uma carreira que abarca perto de cinco décadas, Chico Buarque lançou recentemente Chico, um disco simples e imediato, refinado e letrado, coeso e sereno. Aos 67 anos, o músico carioca perspetiva com um certo humor distanciado o sentimento mais universal. Na verdade, o amor é aqui cantado com uma doçura sem idade e uma bondade inigualável, seja por um cão abandonado ("Querido Diário", a faixa de abertura do álbum), por uma mulher (em "Barafunda", Chico Buarque canta: "juro que eu ia até ao Cazaquistão atrás dela") ou pela própria música ("Não sei porquê, outra história de amor a essa hora", versos cantados em "Tipo um Baião", canção que homenageia o género musical popularizado por Gonzaga).

Chico é um belíssimo disco, simultaneamente alegre e melancólico, assinado por um artista que já nada tem a provar ao mundo, a não ser o prazer de viver e de transformar a vida em arte.

Chico Buarque - "Querido Diário"

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como os políticos enriquecem em Portugal


O jornalista António Sérgio Azenha investigou e analisou os rendimentos de 15 políticos antes e depois de passarem pelo Governo português. O resultado está no livro 'Como os políticos enriquecem em Portugal', da editora Lua de Papel.

O repórter baseou-se nas declarações de património e rendimentos apresentadas pelos políticos ao Tribunal Constitucional, desde 1995, ano em que a informação passou a estar disponível, e reconstituiu o percurso de crescimento económico de 15 antigos governantes. Veja como Jorge Coelho, Dias Loureiro e outros multiplicaram os seus ordenados. É só clicar no seguinte link:

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dia Internacional Para a Eliminação da Pobreza e da Exclusão Social


Foi ontem, mas também pode ser hoje e sempre. O Dia Internacional Para a Eliminação da Pobreza e da Exclusão Social (todos os anos no dia 17 de Outubro) foi instituído pelas Nações Unidas, em 22 de Dezembro de 1992, para nos lembrar, a todos nós que temos pão na mesa e um teto para nos abrigar, da existência de uma legião imensa de famintos, sem-abrigo, sem acesso à educação e a uma vida condigna.

Se até aqui, quando se falava em fome e miséria, o que primeiro nos vinha à memória eram as imagens de crianças africanas inanimadas e de corpos engelhados devido à subnutrição, ou dos meninos de rua nascidos nas favelas brasileiras, hoje o problema é cada vez mais global. Não que em África ou Brasil o problema tenha sido resolvido - ele subsistirá enquanto imperar a hipocrisia e a conversa fiada -, mas a verdade é que a falência económica do Ocidente tem vindo a criar novas bolsas de pobreza, miséria e exclusão social na Europa e América.

Convém, por isso, recordar que as boas intenções, assim como as ações de solidariedade, mesmo que em número considerável, serão sempre insuficientes.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Legendar o silêncio icónico (3)


Uma criança afegã encosta-se a um muro enquanto chora. De acordo com a ONG "Save the Children", uma em cada seis crianças morre antes de completar seis anos de idade, e uma em cada três sofre de subnutrição.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dia Mundial da Saúde Mental - Entrevista com Lars Von Trier

A edição nº 624 da revista Focus, traz uma fabulosa entrevista com o cineasta dinamarquês Lars Von Trier. Autor de obras-primas como "Europa", "Dancer in the dark" e "O anti-cristo", causou polémica no último Festival de Cinema de Cannes ao proferir qualquer coisa como "compreendo Hitler", que, colocado fora do seu contexto, provocou a sua expulsão do dito festival e arredou da competição para o título de Palma de Ouro o seu filme mais recente, "Melancolia", a estrear brevemente em Portugal.

Vem isto a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se comemora hoje, uma vez que o realizador dinamarquês reflete nas suas últimas películas a profunda depressão por que passou durante uma década. Como Von Trier diz, "a depressão é o fim do mundo". Sair dela implica intervenção atempada, antes que seja tarde demais.

Trailer de "Melancolia", de Lars Von Trier

domingo, 9 de outubro de 2011

Banda sonora para o outono (17)

Após 45 anos de carreira, e à semelhança do artista aqui destacado há uma semana atrás (Sérgio Godinho), Caetano Veloso está um músico cada vez mais jovem e com vocação universalista. "Zii e Zie MTV ao vivo" é o seu novo disco, pleno de harmonia, simplicidade e subtileza genuinamente rock; um álbum honesto de quem sabe que já nada tem a provar ao mundo. 

"Zii e Zie MTV ao vivo" é um registo esteticamente despojado de artifícios, dominado pela voz cristalina de Caetano e por poucos instrumentos - guitarra eléctrica, baixo e bateria -, apenas os estritamente necessários para servir as canções. E que belas canções! "Perdeu" e "Irene", nas versões aqui registadas, são dois momentos verdadeiramente antológicos na carreira deste músico do mundo.

Caetano Veloso - "Irene"

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Azul longe nas colinas" - a infância, segundo Dennis Potter

Dennis Potter nasceu em 1935, na Floresta de Dean, em Gloucestershire (Inglaterra), e faleceu em Junho de 1994. Estudou Filosofia, Política e Economia no New College, em Oxford. Tornou-se conhecido quando, após uma breve carreira na política e no jornalismo, as suas primeiras quatro peças foram transmitidas pela BBC. Entre os seus guiões para televisão destacam-se "Azul longe nas colinas" (1979), as séries "Pennies from heaven" (1978) e "O detetive cantor" (1986), estas últimas também adaptadas com sucesso ao cinema por Herbert Ross (1981) e Keith Gordon (2003), respetivamente. 

Estreada em televisão em 1979, "Azul longe nas colinas" ("Blue remebered hills", no original) fez parte da rubrica "Play for today" e durava originalmente 75 minutos. A peça foi publicada em 1894 na coleção "Waiting for the boat" e, desde então, conheceu vários êxitos no palco. Em Portugal, "Azul longe nas colinas" estreou no Teatro Nacional D. Maria II, em Fevereiro do presente ano, com encenação de Beatriz Batarda. Trata-se de um texto chocante e, simultaneamente, comovente sobre a infância, em que as crianças que o protagonizam devem ser representadas por adultos. 

Willie, Peter, John, Raymond, Donald, Angela e Audrey são sete amigos que têm por hábito brincar num bosque, perto da aldeia onde vivem, durante as férias de verão. Brincam às guerras, aos pais e às mães, à caça ao esquilo, aos enfermeiros, reproduzindo aquilo que pensam ser a vida dos adultos. "Azul longe nas colinas" é uma peça de teatro que se lê como se fosse um romance. Um grande romance de um notável dramaturgo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Prolegómenos a toda a educação futura - Dia Mundial do Professor


Hoje relembra-se a importância dos professores enquanto mestres capazes de inspirar a nossa vida e ajudar-nos a construir a identidade pessoal e comunitária. Esta é, simultaneamente, uma das classes profissionais mais mal tratadas pelo poder político e pela opinião pública, mas unanimemente considerada a mais importante e insubstituível na construção de uma sociedade e de um futuro melhor.
Deixo aqui dois famosos aforismos, também eles inspiradores:
"O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira." (William Arthur Ward)
"Um professor afeta a eternidade; é impossível dizer até onde vai sua influência." (Henry Adams)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"Vanishing on 7h Street" - um filme subtil de um cineasta discreto

Brad Anderson tem sido responsável por alguns dos filmes mais interessantes dos últimos dez anos, mesmo que o grande público tenha passado ao lado das suas obras e do seu nome. Da sua filmografia, destacam-se "O Maquinista" (2004) e "Transsiberian" (2008), filmes onde a tensão é acentuada por uma mise-en-scène geométrica e uma iluminação claustrofóbica. A sua película de 2011 não teve direito a estreia nas salas de cinema portuguesas e foi praticamente ignorada nos Estados Unidos da América. Ainda assim, que não se deixe o cinéfilo mais exigente levar pelas opiniões que vêm de fora. Na verdade, "Vanishing on 7h Street" é uma parábola subtil, centrada num huis clos apocalíptico, sobre a importância da luz num mundo invadido pelas trevas.

É legítimo vermos em "Vanishing on 7h Street" uma atualização da alegoria da caverna de Platão, texto que tem inspirado algumas das obras mais interessantes do cinema de ficção científica (por exemplo, a trilogia "Matrix"). Imaginemos que, de súbito, a luz desaparece da Terra, dando lugar a um mundo de sombras que aniquilam qualquer forma de vida. O pouco que resta da humanidade procura proteger-se das trevas com lanternas ou procurando os poucos espaços que ainda possuem luz artificial. O que sobra desta sinopse são elementos simbólicos que desafiam o espectador a deixar-se envolver por este filme delicado, que privilegia o trabalho dos atores em detrimento de efeitos visuais ou de um qualquer exercício de estilo.

Trailer de "Vanishing on 7h Street"


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Time (5) - refletir sobre a (in)utilidade das medidas de austeridade

Na sua última edição, a TIME reflete, num profundo e interessante artigo assinado por Michael Schuman, sobre o futuro da União Europeia e - porque não - do mundo. Um dossier obrigatório para quem não quer passar ao lado dos efeitos da crise e das medidas de austeridade que, a avaliar pela situação da Grécia, nada adiantarão para salvar o Euro e, por consequência, a União Europeia.

Há mais motivos de interesse que justificam a leitura da revista, nomeadamente um extenso texto que sintetiza o atual debate em torno da criação de um estado palestiniano, e um fabuloso artigo sobre o melhor sistema educativo do mundo - o da Coreia do Sul, pois claro.

domingo, 2 de outubro de 2011

Banda sonora para o outono (16)

Começo outubro a ouvir o viciante novo disco de Sérgio Godinho, "Mútuo Consentimento". A imprensa tem recebido com simpatia este trabalho do cantautor português, mas ainda não li qualquer texto que faça jus à energia pop/rock do álbum. Na verdade, "Mútuo Consentimento" mais parece obra de um jovem músico, pleno de garra e vontade de incendiar palcos pelo país fora. Trata-se de onze canções com a maturidade poética e rigor formal próprios de quem compõe e edita discos há quarenta anos, mas que continua com a mesma vontade de, a cada novo LP, mudar qualquer coisa na música portuguesa. É também por isso que Godinho sabe rodear-se de músicos mais jovens em idade, que reconhece serem capazes de atualizar o formato das suas canções. 

O disco abre com o lindíssimo "Mão na Música", longa canção em registo spoken word, estética que encaixa com perfeição na voz de Sérgio Godinho; prossegue com as toadas mais pop de "Bomba-Relógio" e "O Acesso Bloqueado", para dar lugar às duas canções mais inventivas de "Mútuo Consentimento" - "A Invenção da Roda" e "Em Dias Consecutivos" (esta última com partitura assinada por Bernardo Sassetti). O CD vale mais pelo todo do que por uma mera soma de partes, todavia, quanto mais não fosse por aquelas duas canções, já mereceria lugar de destaque na discografia deste músico tão singular.

Sérgio Godinho - "Em Dias Consecutivos"

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...