quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Banda sonora para o Verão (18)

Jon Anderson é, sobretudo, conhecido por ter sido durante cerca de quatro décadas vocalista e letrista dos Yes, uma das maiores bandas de rock progressivo de sempre. No entanto, é dono e senhor de um registo vocal único e de uma interessante carreira discográfica a solo, destacando-se os álbuns "Olias of Sunhillow", "Song Of Seven" e "Animation". Pelo meio colaborou com compositores como Vangelis (com quem co-assinou quatro álbuns memoráveis), Rick Wakeman (também do colectivo Yes) e Kitaro (apesar das boas intenções político-sociais,  "Dreams" é um disco menor).

Anderson acaba de editar "Survival and Other Stories", um álbum lindíssimo, capaz de nos transportar para um domínio transcendente através de onze canções de um misticismo profundo e encantatório. Além disso, consegue ser um disco de Verão, quente, bem quente, demonstrando que nem só de canções descartáveis se pode viver com alegria a silly season. Esta obra surge na sequência de um período de convalescença do autor, bem como do repto que este lançou no seu site oficial solicitando compositores para com ele colaborarem num novo disco. O resultado é simplesmente o melhor LP da carreira de Jon Anderson, assim como um dos discos a figurar na lista dos melhores de 2011.

Jon Anderson - "Unbroken Spirit"

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Uma Noite Em Nova Iorque" - um livro de Tiago Rebelo

Na senda de inúmeros escritores norte-americanos, cujo exemplo maior talvez seja Nicholas Sparks, surgiram uma série de romancistas cá no burgo procurando, através de uma literatura light, replicar o sucesso dos primeiros. Têm sido, por isso, publicados um infindável número de obras literárias que designaria por neo-romantismo, cujo alvo (fácil) são, sobretudo, mulheres sem hábitos de leitura exigentes. Todavia, por entre essas publicações, aparecem nos escaparates, de vez em quando, uma ou outra obra digna de referência. É nesse sentido que aqui me ocupo da divulgação de "Uma Noite Em Nova Iorque", o novo romance de sucesso de Tiago Rebelo. Trata-se de um romance simples mas bem construído, cujo centro narrativo se divide por seis personagens que, de algum modo, se vão entrecruzar, precisamente na big apple.

O romance de Tiago Rebelo lê-se com agrado durante uma tarde de Verão numa esplanada à beira-mar. Trata-se de um romance cinematográfico, em que o argumento está todo lá a pedir por cineastas que queiram pegar nele. Só é pena o autor nem sempre evitar os lugares-comuns em que aprisiona os seus personagens (o cantor pop estereotipado, o primeiro encontro entre Filipe e Patrícia, a Nova Iorque saída de um bilhete-postal), não explorando o fio narrativo mais interessante (a relação de Filipe e Isabel). É importante, contudo, ressalvar que se trata de uma obra com alguma frescura e, acima de tudo, revela uma imensa vontade em contar uma boa história.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

"Num Mundo Melhor"

"Num Mundo Melhor", película dinamarquesa assinada por Susanne Bier, foi o digno vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2011. É um filme que na sua aparente simplicidade (mas não será essa justamente a força dos grandes clássicos do cinema?) contém em si o poder de mudar o mundo, desde que o queiramos ver, perceber e, sobretudo, sentir. 

Bier divide o espaço narrativo em dois continentes que mais parecem dois mundos à parte: a África subsariana e a Europa desenvolvida (esta enquanto berço dos Direitos Humanos, mas que tende a ignorá-los). Um médico que presta ajuda humanitária nos países mais desolados pela fome, seca e guerra regressa a casa para um merecido período de descanso, encontrando aqui um aparentemente confortável micro-cosmos que, afinal, replica as guerras movidas a preconceito e ódio dos países onde presta ajuda.

"Num Mundo Melhor" é um filme de uma imensa bondade e o mundo precisa cada vez mais de fitas assim.

"Num Mundo Melhor" - de Susanne Bier




sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"Morreste-me", de José Luís Peixoto - um pequeno grande livro

A partir da dramática experiência da morte do pai que tanto (o) amava, José Luís Peixoto estreou-se na grande literatura com uma terna e sublime elegia ao seu progenitor. O resultado foi "Morreste-me", a obra que também iniciou o ainda jovem escritor nos prémios literários que justamente têm celebrado o seu percurso como romancista e poeta. Ainda que triste e tremendamente comovente, "Morreste-me" é um pequeno livro singular de um grande escritor, excelente para nos acompanhar numa tarde de Verão.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Banda sonora para o Verão (17)

O género musical designado como rock progressivo tem, nos últimos anos, sido alvo de uma autêntica e, em muitos casos, sublime renovação. O seu berço foi, como bem sabemos, Inglaterra e teve como ponto de partida a vontade de experimentação e fusão de géneros musicais (rock, blues, jazz, world music, música clássica) por parte de jovens músicos que, nas suas bandas, procuraram dar novos caminhos ao rock, libertando-o do tradicional formato de canção, alargando e (porque não?) quebrando as suas fronteiras. Foi assim que os Pink Floyd, Genesis, Yes, Jethro Tull, Marillion, King Crimson, entre muitos outros, operaram uma verdadeira revolução, criando novos paradigmas na arte das musas.

Curiosamente, tem sido em Itália que o género musical em análise tem encontrado muitos dos novos e mais originais compositores. Um exemplo é o projecto Cavalli Cocchi Lanzetti Roversi que acaba de lançar o álbum homónimo, merecedor da atenção de qualquer melómano com bom gosto. O disco é lindíssimo, pleno de canções candidatas a banda sonora do Olimpo, tal as subtis texturas sonoras criadas pelos três músicos que constituem a banda. Na verdade, este projecto é, mais do que um grupo, a reunião de três veteranos de géneros musicais distintos (clássica, rock e jazz) que, inspirados pelos deuses, criaram nove belíssimas canções que agora reuniram em disco. 

O LP deve ser escutado no escuro, sem outras inteferências sonoras, como se de uma cerimónia religiosa se tratasse. Ouçam, por exemplo, "Morning Comes" e percebam porquê. Refira-se também que estas músicas - como quase todo o rock progressivo - são ignoradas pelas emissoras de rádio por não se enquadrarem na ditadura do paradigma musical popular ainda dominante, que ordena que as canções tenham cerca de três minutos e uma estrutura facilmente trauteável pelo ouvinte. Devemos, no entanto, exigir maior elevação à nossa sensibilidade estética.

Só mais um breve apontamento: não deve ser fácil encontrar o disco em lojas nacionais, mas pode ser adquirido a bom preço no site da amazon.

sábado, 6 de agosto de 2011

A Somália também somos nós

A Organização das Nações Unidas garante que a fome na Somália vai aumentar até ao final do ano, pelo que a ajuda internacional terá de continuar. Por isso, a ONU fez um apelo à solidariedade mundial para que se aumentem os donativos em mil milhões de euros. Para agravar de forma absurda a presente calamidade, há grupos radicais/fundamentalistas que não permitem a entrada de ajuda internacional em certas zonas daquele país africano. 

Após milhares de anos de evolução na Terra e de tantas barbaridades cometidas pelo ser humano - à natureza e a si próprio - é caso para perguntarmos: o que aprendemos ao longo dos séculos?

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...