Nos tempos da minha cinefilia adolescente, Oliver Stone era o símbolo do cineasta politicamente comprometido com os ideais fundadores da esquerda norte-americana, lutando activamente pela denúncia dos crimes de guerra cometidos por políticos republicanos corruptos, pela CIA, pelo Pentágono e por corporações empresariais que mandariam efectivamente na grande nação americana e, por consequência, no mundo. Assim, qualquer nova película deste realizador constituía um dos acontecimentos cinematográficos do ano. A década de 80 foi, aliás, a mais prolífica de Stone. Senão vejamos: "Salvador", "Platoon", "Talk Radio", "Wall Street" e "Nascido a 4 de Julho", são cinco obras-primas assinadas por aquele autor. E a verve criativa não acabaria aí - a década seguinte seria também marcada por outras obras de referência de Stone: "The Doors", "Entre o Céu e a Terra", "JFK", "Assassinos Natos", "Nixon" e "Sem Retorno", são a continuidade natural da reflexão do cineasta sobre a história recente dos Estados Unidos da América.
Curiosamente, a personagem mais mítica filmada por Oliver Stone acabou por ser o maior dos vilões da sua obra: Gordon Gekko (magistralmente interpretado por um Michael Douglas inspiradíssimo). A recente crise financeira internacional acabou por motivar o realizador a regressar a "Wall Street", constatando que, afinal, o mundo da alta finança - o capitalismo - não mudou: os tubarões da banca continuam a mandar no mundo, ditando a agenda e as decisões políticas; o dinheiro é o meio e o fim orientador da civilização; a ecologia não é, na verdade, encarada como um sério (e talvez o único) problema filosófico por quem compra, gere e vende empresas; num mundo dominado pela moeda, o ser humano só tem valor enquanto for capaz de produzir e gerar dinheiro.
Não sendo a obra-prima que foi o filme homónimo dos anos 80, "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme" é a continuação possível, mais de vinte anos depois. Os espectadores mais jovens são diferentes daqueles que viram a fita original, daí talvez a suavidade (diria até, o tom um pouco meloso) da última incursão de Stone pelo universo da bolsa de Nova Iorque. Ainda haverá yuppies?
Uma última nota para a fabulosa banda-sonora composta por Craig Armstrong e com canções originais de David Byrne e Brian Eno - um must para os melómanos.