segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Novembro


Adoro o mês de Novembro, na sua serena anunciação do Inverno, na calma tumultuosa da tempestade, no frio que aperta lembrando-nos que o afinal já é Outono. Sim, cada vez mais, Novembro é o mês do Outono, da queda das folhas que oferecem a sua tonalidade dourada à paisagem. As ruas molhadas convidam-nos a passear, muito mais que no Verão. Talvez por nos convidarem ao abrigo dos cafés, das lojas e do conforto do lar. Sim, gostamos mais do convívio quente, do calor afectivo do lar quando lá fora está frio. Mas para reconhecermos o valor da casa onde pertencemos é necessário sair, andar nas ruas, apreciar o que se produziu após mais um dia de trabalho, sentir a chuva molhar-nos o rosto, apertarmos o casaco, passarmos pela padaria mais próxima, sentirmos o cheiro a pão quentinho e desejarmos estar de novo em casa.

Novembro foi um bom mês. O novo GAEDE, finalmente, começa a ganhar a sua própria identidade; a Patrícia esteve por cá com boas novas de Londres; as ruas e casas começaram a iluminar-nos com as decorações de Natal; estreou a nova aventura de Robert Zemeckis - "Um Conto de Natal" -, que resultou em mais uma prodigiosa animação do realizador, com o seu jogo de sombras e a soberba interpretação de Jim Carrey (o maior actor americano dos últimos 15 anos?); Paddy McAloon regressou com um novo velho disco dos Prefab Sprout, gravado e executado totalmente por si no início da década de 90 do século passado, mas que só agora viu a luz do dia - "Let's Change The World With Music" -; e amanhã já é Dezembro.

domingo, 29 de novembro de 2009

Se o universo tivesse surgido há 24 horas...


... o Big Bang teria acontecido às 00h... os primeiros átomos ter-se-iam formado às 00h03... as primeiras estrelas teriam surgido às 00h52... as primeiras galáxias ter-se-iam formado à 01h34... o sistema solar ter-se-ia formado às 15h48... a vida na terra teria aparecido às 17h36... os dinossauros teriam surgido às 23h35... o Homem teria nascido às 23h59.

sábado, 28 de novembro de 2009

"Second Life" - cinema português?


"Second Life", de Alexandre Valente, é mais uma tentativa falhada para reconciliar o público com o cinema português. Há pouco tempo postei aqui um texto crítico sobre "A Esperança Está Onde Menos Se Espera", último filme de Joaquim Leitão, com pretensões semelhantes ao de Alexandre Valente mas bem-sucedido no equilíbrio entre arte e comércio. Senão vejamos: o filme de Leitão, à semelhança de outros filmes do cineasta, tem uma boa realização, um argumento simples mas sólido e actores em estado de graça; pelo contrário, "Second Life" é o típico filme de produtor que se apressa a mostrar aos realizadores como-se-faz-um-filme-de-sucesso, com um argumento desinspirado pleno de pretensões filosóficas e morais, actores sem personagens, vedetas de televisão - e até do futebol - a brincarem aos actores, mas sem nunca se conseguirem descolar das suas personas...

Alexandre Valente parece ter lido à pressa um breve manual de introdução à linguagem cinematográfica antes de ter decidido meter mãos à obra na realização deste filme, de tal forma se prende a um dispositivo formal televisivo cujo único objectivo é levar público à sala de cinema ou à loja de DVD mais próxima. Devia ter aprendido com os grandes produtores da época do cinema clássico americano, que se faziam rodear de cineastas e artesãos que sabiam bem o seu ofício. Para criar um filme de sucesso made in Portugal, não basta juntar vedetas da televisão, paisagens deslumbrantes, misturar - pasme-se! - português, inglês e italiano numa salgalhada linguística mais confusa que a mítica Torre de Babel. O cinema não é fast-food!... É preciso ter-se alma de artista e, acima de tudo, amar a Sétima Arte.

A única nota positiva em "Second Life" (para além, claro, das belíssimas actrizes que aqui se despem para aumentar os números do box-office nacional) vai para a banda sonora de Bernardo Sassetti, que desperdiça o seu talento ao serviço de uma fita medíocre que não merecia tão boa música. É precisamente um excerto da banda sonora que deixo a seguir.

"The Raven King" - Bernardo Sassetti

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro"


O argumento de "Circo de Horrores: O Assistente do Vampiro" baseia-se numa bem-sucedida saga juvenil - "Cirque du Freak" - do escritor britânico Darren Shan (no nosso país, a trilogia está publicada pela Casa das Letras). A ideia não é inédita: apresentar uma versão ligeira e actualizada do género filme de vampiros, cruzando-o com o teen movie.

Após um genérico animado que promete (passam por aqui fragmentos do universo de Tim Burton), conhecemos o protagonista, Darren Shan (precisamente o nome do autor da série de livros que o filme adapta). Ele é um jovem de 16 anos que, com o amigo Steve, decide assistir ao espectáculo de um circo de horrores ambulante, que está de passagem pela cidade. O espectáculo junta em palco uma mulher barbuda, um lobisomem, um apresentador gigante, um gato-serpente e o estranho Larten Crepsley com a sua aranha gigante que come cabras. Fascinado pelo animal, Darren decide roubá-lo, mas o bicho ataca Steve. Na busca do antídoto para o amigo, Darren vê-se obrigado a negociar com uma estranha criatura que se alimenta de sangue e tomar decisões que mudarão irremediavelmente a sua vida.

"Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro" é um filme com vampiros simpáticos, personagens esquemáticos e sem grande espessura, em que apenas alguns momentos oníricos (pontuados por uma excelente banda sonora) e a interpretação de John C. Reilly (no papel do vampiro Larten Crepsley) o salvam da mediocridade. Paul Weitz, o realizador, opta por um tom ligeiro e descomprometido, por vezes marcado por uma estética televisiva que impede a película de ir mais longe, ficando-se pela tentativa de conquistar o público juvenil.

Trailer de "Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro", de Paul Weitz


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Banda sonora para o Outono (7)


...E, provavelmente, o melhor álbum deste Outono é... um disco gravado há 17 anos atrás, mas só agora editado.

"Let's Change The World With Music", dos Prefab Sprout, deveria ter sido editado a seguir a "Jordan: The Comeback" (1990) e, segundo Paddy McAloon (vocalista e compositor da banda), começou por ser uma canção para Barbra Streisand que partia dos versos: "Do you think that we can change the world with music?/If a sane man overheard us he'd shout 'Two straitjackets please'/Because all we've got is music/It's a wonderful ambition/But our only ammunition is a bunch of do-re-mis..." Da canção restou apenas o título do álbum e, do título de outro também nunca editado - "Earth: The Story So Far" -, ficou uma canção.

Aos 52 anos, com problemas graves de visão, quase surdo de um ouvido e uma relação teimosamente conflituosa com as editoras, Paddy McAloon entregou as velhas maquetas a Calum Malcom (dos saudosos Blue Nile) e, das suas mãos, saiu finalmente o tão aguardado sucessor da obra-prima "The Gunman and Other Stories" (2001).

"Let's Change The World With Music" é um disco claramente marcado pela sonoridade pop do início dos anos 90, mas tomara muitos discos de hoje terem tamanha qualidade ao nível das composições. Declaração de paixão pela música ("Music is a princess"), subtilmente orquestral ("I love music"), levemente metafísico ("God watch over you"), intensamente espiritual ("Sweet gospel music"), desesperadamente romântico ("Last of the great romantics") e irremediavelmente amargo ("Meet the new Mozart"), o novo álbum dos Prefab Sprout é, provavelmente, o melhor disco lançado no Outono de 2009.

"Music is a princess" - Prefab Sprout

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Estado da Nação (12) - sem comentários


Em Portugal, há 243 mil famílias que não têm qualquer conta bancária. De acordo com os dados do INE, este número corresponde a 6,3 por cento do total de agregados familiares que estão excluídos do sistema financeiro. Falta de dinheiro para pôr no banco ou problemas financeiros, são as principais razões apontadas por aqueles que não fazem uso dos cheques ou dos cartões e que continuam a usar o dinheiro nas suas transacções.

Miséria humana no Portugal democrático e em pleno século XXI?!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estado da Nação (11) - sem comentários


"Há favores que se pagam com um presunto, uma caneta de tinta permanente ou um livro. Outros pagam-se com envelopes cheios de notas ou com a chave de um Mercedes. Mas para além da moldura penal, serão cunhas muito diferentes?"
Rafael Barbosa, Jornal de Notícias

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Estado da Nação (10) - sem comentários


"Não há máfia em Portugal porque não é preciso ameaçar gente com uma pistola. Basta abanar umas notas."
João Miguel Tavares, Diário de Notícias

domingo, 22 de novembro de 2009

Banda sonora para o Outono (6)


Steve Rothery é um dos maiores guitarristas de sempre. Se quiser emitir uma opinião assumidamente subjectiva (ou não fosse este blog declaradamente O Subjectivo Objectivo!), diria que Rothery é o maior guitarrista rock no activo. Basta ouvir a discografia dos Marillion para comprovar a máxima anterior.

De facto, discos como "Misplaced Childhood", "Clutching at Straws", "Anoraknophobia", "Somewhere Else", "Happiness is the Road" (os marillionados vão-me cair em cima por não colocar aqui outros álbuns essenciais dos Marillion)ou, o mais recente, "Less is More" (que já aqui teve direito a um post, precisamente nesta etiqueta - "Banda sonora para o Outono"), afirmam a importância da guitarra de Rothery na construção das harmonias metafísicas criadas pela banda liderada por Steve Hogarth. Repare-se: trata-se da subtileza daquele músico e da sua singular performance, e não apenas da presença da guitarra. Sei, de resto, que há algumas bandas que prestam tributo aos Marillion (por sinal, muito boas) mas imagino quão difícil deve ser replicar os dedos mágicos de Rothery.

Com Hannah Stobart, Steve Rothery é responsável pelo projecto The Wishing Tree, cujo recém-editado disco "Ostara" é pleno de ambiências, tons, cores e harmonias outonais. Com óbvias influências folk, "Ostara" é um belo conjunto de canções etéreas, que encontram a sua essência num universo imagético capaz de nos fazer sonhar e levitar. De resto, os dois temas que mais gosto - "Falling" e "Fly" - ilustram bem essa dimensão onírica.

Não façam o download deste disco, comprem antes o CD original. Vem com um lindíssimo livreto, cujo trabalho de artwork (da responsabilidade de Antonio Seijas) contribui para apreciarmos o sentido das canções.

"Fly" - The Wishing Tree

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Um Conto de Natal" - Charles Dickens revisitado por mão de Mestre


Para os cinéfilos mais atentos já há muito que Robert Zemeckis é considerado um cineasta de corpo inteiro. Herdeiro de realizadores clássicos como Victor Fleming, Frank Capra ou William Wellman, Zemeckis faz parte de uma linhagem de artesãos que, sabiamente, sempre conseguiram aliar a Arte à Indústria. A sua carreira já vai longa e passa por todos os géneros cinematográficos, movendo-se sempre com elevada capacidade de mise-en scène.

"Travões Avariados, Carros Estampados" (1980, comédia dramática), "Em Busca da Esmeralda Perdida" (1984, acção/aventura), "Regresso ao Futuro" (1985, ficção científica), "Forrest Gump" (1994, drama), "A Morte Fica-vos Tão Bem" (1992, comédia), "Contacto" (1997, ficção científica) e "A Verdade Escondida" (2000, thriller/terror) são algumas das obras de Robert Zemeckis, todas elas fitas marcantes e incontornáveis em qualquer análise do cinema norte-americano durante esse período de 20 anos (1980-2000).

Mas Zemeckis tem-se afirmado também como o mais importante realizador de cinema de animação contemporâneo, propondo-se revolucionar o cinema digital a cada nova incursão por esse género. Senão vejamos: "Quem Tramou Roger Rabbit" (1988, e uma das obras-primas da respectiva década); "The Polar Express" (2004, e completamente inovador na fusão entre actores reais e a sua versão animada); "Beowulf" (um dos dez melhores filmes de 2007) e o recém-estreado "Um Conto de Natal", adaptação do conto imortal de Charles Dickens, por diversas vezes adaptado ao cinema, mas nunca com o rigor da última aventura de Zemeckis.

"Um Conto de Natal" é uma narrativa moral cujo protagonista, Ebanezer Scrooge, é um velho avarento que despreza o Natal. Precisamente na madrugada de 24 de Dezembro recebe os fantasmas dos Natais passado, presente e futuro. Scrooge descobre que, perante todos os erros que cometeu ao longo da vida, só lhe restam duas opções: ou luta pela sua redenção ou pica o bilhete que o levará para o Inferno.

Com imagens 3D animadas por computador a partir dos desempenhos de actores de carne e osso (Jim Carrey está estupendo no papel de Scrooge), e num registo mais negro que nunca (o trabalho de iluminação é brilhante), a realização de Zemeckis distingue-se das adaptações anteriores do mesmo conto de Dickens, como "Scrooge" (1951), de Brian Desmond Hurst, ou "S.O.S. Fantasmas" (1988), de Richard Donner (obra protagonizada pelo grande Bill Murray, e que trocava a Londres da Revolução Industrial pela Nova Iorque dos anos 80, excelente filme, aliás, a necessitar de urgente reavaliação).

"Um Conto de Natal", de Robert Zemeckis, é uma obra-prima, um filme mágico e adulto, que só não encantará aqueles que nunca tiveram a capacidade para descobrir as razões pelas quais o Cinema é justamente considerado a Sétima Arte. Mas acima de tudo, uma arte popular destinada a todos os públicos.

Trailer de "Um Conto de Natal", de Robert Zemeckis

Para reflectir:

"Portugal, Novembro de 2009! O país da Europa com o pior sistema de ensino. O campeão dos chumbos e da exclusão. Onde uma multidão de crianças e jovens vão para a escola (ou se recusam a ir) sem terem o mínimo essencial, porque em suas casas reina o desemprego e o desespero!

Como se atreveu o governo do miserável sistema educativo português a passar a factura à classe docente?"

Jaime Pinho

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Banda sonora para o Outono (5)


Born A Lion é um projecto de três músicos (Rodriguez, Nuñes e Melquiadez) que, de forma feliz, actualiza o blues rock mais orgânico e puro. Há momentos do álbum "Bluezebu" que fazem lembrar Led Zeppelin e Doors, apesar de as influências maiores parecerem ser John Spencer Blues Explosion e Wraygunn.

"Call Me Wild" e "Babylon" são dois momentos de rock sincero, intuitivo, religioso e visceral, mas a cereja no topo do bolo é mesmo "Rock'n'Roll Tone", balada cinzenta, perfeita para acompanhar um fim de dia outonal.

"Rock'n'Roll Tone" - Born a Lion

terça-feira, 17 de novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Barack Obama (1)


7 de Novembro de 2009 foi um dia histórico na Democracia mais antiga do mundo. Em Washington, a Câmara dos Representantes aprovou a reforma do Sistema de Saúde proposta por Barack Obama, com 220 votos a favor e 215 contra. Esta conquista representa não só um passo real face às mudanças prometidas pelo actual Presidente dos EUA, mas também uma transformação no conceito de político (entendido como profissão ao serviço do bem comum) e política (enquanto forma de regular os direitos e deveres dos cidadãos e orientar uma nação em direcção a um futuro melhor). Afinal, há políticos que pretendem cumprir aquilo que prometem na campanha eleitoral!

A reforma agora introduzida permitirá acabar com a política arbitrária e abusiva das companhias de seguro, estando, a partir deste momento, proibidas de rejeitar pacientes devido a condições de saúde prévias ou quando contraiam uma doença grave. Calcula-se que, em menos de um ano, a quase totalidade da população norte-americana tenha seguro de saúde.

Parabéns, Obama! Ainda há quem duvide da justeza do Prémio Nobel da Paz, atribuído este ano ao Presidente americano?

sábado, 14 de novembro de 2009

Estado do Mundo (6) - com comentários


Em pleno século XXI, usar sutiã na Somália é considerado impuro e ofensivo, sendo motivo de castigo e escárnio público.

Porquê?! Porque se trata de uma lingerie cujo fim é enganar sobre a condição natural dos peitos e motivar desejos sexuais. Para vigiar todas as mulheres, colocaram em toda a cidade postos de controlo, que exigem nas mulheres sob suspeita saltarem e moverem o corpo. O argumento destes é que os peitos devem cair de maneira natural. Além disso, para os fundamentalistas islâmicos, tudo o que sirva para dissimular a idade ou enfeitar o corpo de maneira artificial é motivo para castigo físico.

Ainda há quem duvide das vantagens de (con)viver em Democracia e em ser cidadão europeu?

"2012" - uma catástrofe a evitar


Roland Emmerich parece ter-se especializado na realização de filmes-catástrofe, senão vejamos: "O Dia da Independência", "Godzilla", "O Dia Depois de Amanhã" e o recém-estreado "2012", são algumas das obras que trazem a sua assinatura. Não há praticamente nada que as distinga, repetindo até à exaustão as mesmas fórmulas estafadas, plenas de situações e personagens estereotipadas (os patriotas Presidentes dos Estados Unidos da América, os heróicos pais de família, os cientistas ao serviço da ética e em prol da salvação do Planeta, a redenção final causadora de relief no espectador, a destruição limpa, isto é, um sem-número de mortes mas sempre sem se mostrar um pingo de sangue em toda a película). A única dessas fitas que escapa à mediocridade geral da marca Emmerich é "O Dia Depois de Amanhã", onde um planeta à beira de súbitas e imprevisíveis alterações climáticas leva o governo americano a pedir asilo aos mexicanos.

"2012" resume-se a uma entediante sucessão de efeitos especiais, num tempo em que tudo parece já ter sido feito e mostrado, mas em que o permanente avanço das tecnologias digitais conduzem a indústria a limitar-se a exibir imagens sem possibilitar qualquer espaço para o recurso à imaginação do espectador. São mais de duas horas e meia de personagens vazias, estereotipadas e surrealistas a pedirem uma urgente paródia a este género de filme, situações inenarráveis e inacreditavelmente ridículas, sem chama ou alma, e se emoções provoca em algum adulto será apenas no mais grunho ou mentecapto. Este género de filme pede personagens e situações credíveis, mas o argumento de "2012" parece ter sido entregue aos guionistas de "Morangos Com Açucar", tal é o medo de não agradar às massas adolescentes que consumirão o filme enquanto devoram um balde de pipocas e enviam sms.

Não há nada inteligente ou sério no novo filme de Emmerich. O seu único objectivo é aproveitar-se do mau gosto de algumas paranóias colectivas para fazer dinheiro. Não é Spielberg quem quer, nem basta ter muito dinheiro para fazer um bom filme de entretenimento. É preciso talento, criatividade e vontade em arriscar. No meio disto, é lamentável ver John Cusack, um dos melhores actores norte-americanos no activo, a desperdiçar talento ao serviço de tamanha catástrofe cinematográfica.

Trailer de "2012", de Roland Emmerich

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Banda sonora para o Outono (4)


Ando a ouvir este disco nestes dias cinzentos, mas soa a álbum de Verão. Trata-se de um projecto recente, que tenta recuperar o espírito de bandas rock dos sixties que coloriram o Portugal pequenino do Estado Novo. Passam por aqui os Sheiks, o Quarteto Académico, mas também a fase inicial dos Beatles e de muitas outras bandas que, na época, procuraram imitar a música dos fab four.

"Twist do Contrabando", dos Tornados, é assumidamente retro e, por vezes, soa demasiado demodé; no entanto, funciona enquanto conceito que, poderá não vir a gerar muitos sucessores, mas sabe tão bem como uma pastilha elástica acabada de levar à boca. O sabor acaba rapidamente, mas enquanto dura é agradável.

"Catraia" - Os Tornados

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Outono na yellow brick road


Na terça-feira chegou a mais colorida interrupção da rotina. Foi um raio de luz natural num dia cinzento. Imaginem aquela morrinha que ensombra os rostos dos portuenses em dias de vai-se andando!... Ela a espreitar à porta da sala de aula. Um chiuu!, saído timidamente dos meus lábios, mas com a convicção de quem percebe que a liberdade deve ser sempre usada com responsabilidade e não submetida a uma força de autoridade. Eu sorri, ela pulou e abriu os braços, qual boneca de corda que retorna à caixinha de música que a ajudou a tornar-se ser livre e em busca do sentido que, uma vez conquistado, é permanentemente substituído por outro, porque nunca se é crescido o suficiente.

Cogito sempre em surdina (o turbilhão de pensamentos nunca é acompanhado pelo meu discurso, tal a hiperactividade de ideias): como são os dias sem a Patrícia?

Uma coisa sei: os dias com ela são de incessante procura criativa, continuamente em busca de sonhos, do pote de ouro que se encontra somewhere over the rainbow. É isso: ela é a Dorothy do "Feiticeiro de Oz". Na sua presença todos sentimos o cérebro a fervilhar de ideias, a coragem de as concretizar e o coração a palpitar de emoção.

Vai, Patrícia! Vai e vem! De Londres para o Porto, daqui para Valença, vai e volta! Sempre com a felicidade que brilha no teu sorriso. És Verão, mas o Outono fica-te bem. Dança por entre as folhas castanhas que caem da árvore mais próxima. Deixa a chuva cair sobre o teu cabelo. O arco-íris vai aparecer. Só tens que erguer o rosto e sorrir.

"Somewhere Over The Rainbow" - Judy Garland ("O Feiticeiro de Oz")

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dia Mundial Contra o Racismo


O racismo é um preconceito que afirma que as capacidades e as características do Homem são determinadas pela sua raça ou grupo étnico. É expressa na afirmação da superioridade de uma raça sobre as outras.

O Dia Mundial Contra o Racismo surgiu na sequência do massacre ocorrido em 1960, em Shaperville, quando alguns negros sul-africanos foram brutalmente assassinados quando protestavam contra a chamada Lei do Passe, que transformava os negros em estrangeiros dentro do seu próprio país.

Esta efeméride tem como base apelar a todos os seres humanos, independentemente da sua etnia ou cor de pele, que convivam entre si, e ainda transmitir aos mais novos que as diferenças culturais e biológicas entre os homens não devem ser motivo para actos de racismo intoleráveis, mas sim factores adicionais de conhecimento e união entre os povos. É na diversidade humana (biológica, cultural e individual) que reside a essência e riqueza da nossa espécie.

domingo, 8 de novembro de 2009

Um ensaio e um concerto (2)


Após 12 anos de carreira consolidada na edição de cinco álbuns (seis, se acrescentarmos o disco acústico gravado com Mafalda Veiga), João Pedro Pais fez o seu primeiro coliseu em nome próprio. Foi no dia 6 de Novembro no Coliseu do Porto. Fui ver o concerto com o meu filho que se fartou de cantar (coisa rara nele, dada a sua timidez) e encantar com a simplicidade e humildade de um cantautor que, por mérito próprio, alcançou um estatuto pouco usual na música portuguesa.

Influenciado pela música ligeira e popular de compositores como José Cid, Fausto e Jorge Palma, João Pedro Pais consegue recuperar um certo espírito sincero e até ingénuo na forma de compor e comunicar com o público. Além disso, tem crescido como músico, conseguindo, de disco para disco, aliar o lado mais orgânico e depurado com o rigor formal. O seu mais recente e melhor álbum até à data, A Palma e a Mão, é pleno de canções intimistas que, curiosamente, resultam muito bem ao vivo (destaque para Cal, inspirado no livro de José Luís Peixoto).

Os momentos mais fortes do concerto foram os duetos com Jorge Palma (a quem JPP dedica Meu Caro Jorge), a presença de Zé Pedro (Palco de Feras), as baladas cantadas com a colaboração do público (Mentira e Ninguém) e o encore final (Um Volto Já). Augura-se a continuação de uma carreira cada vez mais ascendente do músico.

"Mentira" - JPP ao vivo no Coliseu do Porto (06/11/09)

sábado, 7 de novembro de 2009

Um ensaio e um concerto (1)


Já aqui deixei um extenso post sobre Michael Jackson aquando da sua morte súbita (consultar neste blog, "King of Pop", 26 de Junho de 2009). Na altura, para além de um pequeno ensaio sobre a importância daquele artista no contexto da cultura popular do século XX, destaquei os álbuns a solo e o filme "Moonwalker", realizado por Jerry Kramer, Jim Blashfield e Colin Chilvers em 1988. A propósito deste último objecto, escrevi que se tratava "de um exercício de estilo autobiográfico e iconográfico que, melhor do que qualquer documentário ou biografia (não) autorizada, ajuda a compreender a complexidade do ícone pop" já desaparecido. Após o visionamento da película, "fiquei com uma certeza: Michael Jackson queria ser (re)conhecido e apreciado pela sua música, não pelos rumores mais ou menos escandalosos em torno da sua vida privada".

Agora que estreou "This is It", filme-ensaio que regista a preparação dos 50 concertos que estiveram para acontecer na O2 arena, em Londres, não restam dúvidas que a música era a causa maior da vida de Jackson (ou MJ, como carinhosamente Kenny Ortega, o realizador, chama ao rei da pop). Na verdade, a fita, que originalmente se destinaria a constar apenas dos arquivos pessoais do cantor, não procura lançar uma nova luz sobre a complexa persona de MJ. Bem pelo contrário, prefere não explorar o artista off-set, na sua vida privada, nos seus dramas e dilemas, mas sim tão somente mostrar a entrega, dedicação e total controlo que ele depositava na construção dos seus discos e concertos. Obcecado com os mais ínfimos pormenores dos seus espectáculos (músicas e coreografias), MJ era um perfeccionista que, apesar do sucesso e dos fait-divers em que, infelizmente, se viu envolvido, sempre soube manter um espírito criativo profundamente marcado pela humildade, o amor à música, o esforço em não decepcionar os fãs e as preocupações ecológicas.

Kenny Ortega conseguiu supervisionar uma montagem em que, em cerca de duas horas, sintetiza muitas semanas de ensaios do King of Pop. O filme está pela segunda e última semana nas salas de cinema. Imperdível!

Trailer de "This is It", de Kenny Ortega

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Banda sonora para o Outono (3)


Os Eagles são uma banda country-rock mítica, ficando para a história como o grupo que mais LP vendeu nos EUA. A popularidade na Europa nunca foi comparável à daquele país, ficando-se, sobretudo, pelo radio friendly "Hotel California". Depois de muitos anos sem editarem discos de originais, regressaram às edições em 2007 com "Long Road Out Of Eden", pretexto para uma tour mundial, que passou recentemente pelo Pavilhão Atlântico.

"Long Road Out Of Eden", estando longe de ser uma obra-prima (nenhum disco dos Eagles é merecedor desse estatuto) é um bom disco de canções, aqui e ali demasiado adocicado, outras vezes soando demasiado a um álbum a solo de Don Henley (baterista e um dos vocalistas da banda). No entanto, tem alguns momentos vintage, sobretudo na faixa de abertura, No More Walks In The Wood, Waiting In The Weeds e na canção que dá nome ao disco, Long Road Out Of Eden, tema onde a banda se aventura por territórios próximos do rock progressivo.

"No More Walks In The Wood" - Eagles

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...