domingo, 19 de abril de 2020

"O guarda-costas e o assassino" - reciclagem exemplar de códigos de género


Patrick Hughes recupera da melhor forma os códigos do buddy movie, que teve nos anos 80 do século passado, o seu melhor e mais produtivo filão. Assim, de repente, recordo películas exemplares do paradigma: 48 horas (Walter Hill, 1982), Fuga à meia-noite (Martin Brest, 1988) e Arma mortífera (Richard Donner, 1986).

A química entre Ryan Reynolds (o guarda-costas) e Samuel L. Jackson (o assassino) funciona em pleno e os flashbacks são gloriosos.

Um excelente entretenimento, portanto.

domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa 2020


A Páscoa é a celebração do amor e da renovação da esperança revelada por Jesus Cristo e que o Papa Francisco tão bem sintetizou recentemente: «Não pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer. Porque a vida é um dom que se recebe doando-se. E porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem mas».

No momento tão difícil que atravessamos, a Páscoa será celebrada de forma diferente. A Páscoa de 2020 transmutar-se-à nas «pessoas comuns», como lhes chamou o Papa. «Aquelas que estão hoje a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal de limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos - mas muitos - outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho». 

Neste dia 12 de abril de 2020, não haverá procissões com imagens da Paixão de Cristo nem celebrações com igrejas cheias. Cristo estará nos hospitais com os doentes e com os profissionais de saúde, nos supermercados com os trabalhadores, nos campos com os agricultores, no mar com os pescadores, nos transportes com os motoristas e nas ruas com trabalhadores da limpeza e com as forças de segurança. Será uma Páscoa, mais que nunca, verdadeira.

sábado, 11 de abril de 2020

Banda sonora para tempos de pandemia (1) - Epic Tantrum: "Abandoned in the stranger's room"


Em tempos de confinamento e isolamento social, recolhemos às nossas casas, tornando-as, literalmente, o mundo. O nosso mundo.

Sob a égide deste novo paradigma existencial, continuamos a precisar de arte (quase) como de pão para a boca. É talvez na arte (e na religião) que encontramos e (re)criamos o paraíso perdido, ainda que (sempre) com a perspetiva do inferno. 

Tais cenários (pre)ocupam e (pre)enchem o primeiro disco (premonitório) dos nova-iorquinos Epic Tantrum. 

Da fabulosa capa às letras e à mescla de rock progressivo, com funk, soul e heavy-metal, "Abandoned in the stranger's room" é música para ensandecer em delírios catárticos que podem bem ser o antídoto para quem ainda acredita que o mundo vai voltar a ser como na era pré-COVID-19.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

"Guerra Americana", de Omar El Akkad - o futuro, hoje


Omar El Akkad é um jornalista e autor premiado que viajou por todo o mundo para cobrir as mais importantes histórias reais (notícias) das últimas duas décadas: guerra no Afeganistão, julgamentos militares em Guantánamo, revolução da Primavera Árabe no Egito, para nomear apenas alguns acontecimentos que foram registados à luz das suas lentes translúcidas de jornalista maior.

El Akkad estreia-se na ficção com um grande romance americano, aspiração de quase todos os candidatos a escritor em terras do Tio Sam.

A história de "Guerra Americana" tem início em 2075, tendo por protagonista Sarat Chestnut, uma orfã de guerra. Os EUA estão, nessa altura, a travar a sua Segunda Guerra Civil, com os estados do norte e (alguns) do sul divididos quanto à proibição do consumo de combustíveis fósseis. Forçada a viver num campo de refugiados, Sarat rapidamente começa a ser moldada por esse tempo e lugar até que, finalmente, pela influência de um misterioso conspirador sulista, se transforma numa letal, doutrinada e convicta terrorista.

Que não restem dúvidas acerca da acutilância e atualidade desta obra visionária onde o autor transfigura, de modo pertinente e ambicioso, inúmeras marcas do tempo presente num romance pensado e construído ao milímetro, suportando-se numa narrativa de cariz realista, aqui e ali intercalada com relatos jornalísticos e depoimentos históricos (ficcionados, é claro).

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...