terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Crimes e Escapadelas" - a ética da responsabilidade, por Woody Allen

Em 1989, Woody Allen assinou aquele que é, para os críticos mais exigentes, a sua obra maior - "Crimes e Escapadelas". Não alinho nessa posição, uma vez que são muitos os grandes filmes do cineasta norte-americano. No entanto, reconheço a seriedade e amargura com que Woody Allen aborda o tema da consciência moral e religiosa e a forma como cada ser humano se define nas escolhas que realiza. É talvez o filme mais assumidamente filosófico e pessimista do realizador, com referências que vão da matriz judaico-cristã ao existencialismo de Sartre e Camus, passando ainda pelo "Crime e Castigo" de Dostoievski. Quase duas décadas depois, Allen assinaria outra reflexão moral, mudando o cenário de Nova Iorque para Londres, em "Matchpoint", espécie de revisão da matéria dada, adaptando-a a um novo século.

domingo, 17 de outubro de 2010

País desgovernado

O governo liderado por José Sócrates continua as suas políticas de desgoverno. Vejamos:

i) permitiu que a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) gastasse 150 mil euros num jantar comemorativo (?) do seu vigésimo aniversário;
ii) Deixou a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI) despender 29 253 euros por 3500 medalhas, 7500 por um vídeo, 24 467,50 em aluguer de equipamento audiovisual, 38 500 em serviços prestados por uma empresa, 47 413 no aluguer do Pavilhão Atlântico e 73 280 em serviços de catering para comemorar (?) - mesmo em tempos de austeridade económica e em que tantos sacrifícios se pedem aos trabalhadores portugueses - os seus 160 anos.

Ainda há quem leve a sério o Orçamento para 2011? Haja paciência para quem nos (des)governa com tanto cinismo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Liu Xiaobo

Liu Xiaobo foi, este ano, o vencedor do Prémio Nobel da Paz. Ao ler a notícia, fui transportado para o ano de 1989, mais precisamente para um dia do início do mês de Junho em que combinei com alguns colegas de escola vestirmo-nos de preto em memória e homenagem aos corajosos estudantes chineses que, na Praça de Tiananmen, enfrentaram os tanques do exército vermelho. Começou aí a minha aversão pela incoerência e hipocrisia dos partidos políticos que, à semelhança do que fez na altura o PCP, ignoraram e negaram o massacre em nome de ideais cegos ou das boas relações diplomáticas com a emergente e perigosa potência asiática.

Mas o que interessa agora é contentarmo-nos com a atribuição do Nobel da Paz a Liu Xiaobo, dissidente do regime comunista chinês que cumpre a injusta pena de 11 anos e que já dedicou o prémio às vítimas da Praça de Tiananmen. Nenhum órgão de comunicação social da China mencionou a distinção do seu concidadão e as autoridades de Pequim já se encarregaram de colocar a mulher do laureado em prisão domiciliária. 

Onde estão as vozes de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã? Que posição assumem em relação à forma como o governo chinês respondeu ao anúncio da Academia Sueca?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"Os Dias da Rádio" - um Woody Allen inesquecível

Um dos maiores filmes de Woody Allen é "Radio Days", obra-prima que homenageia e deixa para a posteridade os anos de ouro da rádio, que decorreram na primeira metade do século XX - precisamente, antes do advento da televisão. 

Nos anos 80, Allen escreveu e realizou algumas das suas obras mais inspiradas, e "Os Dias da Rádio" surgiu numa época extremamente criativa do argumentista e cineasta norte-americano. Mais de vinte anos passados sobre a sua estreia, o filme mantém toda a sua frescura, humor e rogor de mise-en-scène.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Almeida Santos, o cínico

Almeida Santos surpreendeu os indígenas com mais uma pérola a figurar nos anais da democracia nacional. Desta vez, o presidente do PS afirmou que "o povo tem de sofrer as crises como o Governo as sofre". 

Que pena tenho dos governantes portugueses que, coitados, tal como nós, o povo, devem ter sérias dificuldades para esticar o magro salário e conseguir cumprir com as despesas da prestação da casa e do carro, da luz, da água e do gás, para além das despesas de saúde, do material escolar dos filhos...

Batemos, definitivamente, no fundo. A triste realidade nacional seria digna de uma tragédia grega. E todos sabemos quem seriam os protagonistas...

domingo, 10 de outubro de 2010

Dia Mundial da Saúde Mental

Foi criado em 1992 pela Federação Mundial da Saúde Mental para que as pessoas tomassem consciência da importância da saúde mental.

Este ano, um estudo da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa concluiu que Portugal é o país da Europa com mais doentes mentais. O estudo refere que, no último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psíquica. A mesma pesquisa revela ainda que, a nível nacional, as perturbações mais comuns são ansiedade, fobias e perturbações obsessivo-compulsivas.

Aproveito a efeméride para recomendar a leitura de "A Arte da Fuga", de Daniel Sampaio.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Em prol de uma melhor Educação (2)

"Aprender será, sempre, reconhecer. Reconhecer no sentido de reaprender as pequenas diferenças que nunca se tinham vislumbrado em tudo o que sabemos (tornando cada conhecimento mais simples, mais útil e mais humano).
É reconhecer como sinónimo de gratidão para com aqueles que tenham percebido que a tarefa preponderante de um educador não é fornecer conhecimentos mas não deixar que se apague o nosso desejo de aprender."
Eduardo Sá, Textos com Educação

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Peeping Tom" - um filme moderno com 50 anos

Acabei de ver o clássico "Peeping Tom", de Micahel Powell, fita de uma modernidade impressionante. Na verdade, a ousadia formal do grande cineasta britânico enfia no bolso qualquer thriller contemporâneo. Trata-se de um exercício de estilo assumidamente freudiano sobre o medo e a repressão do desejo sexual, raramente replicado na história do cinema. De facto, poucos foram os cineastas que aprenderam bem a lição de Powell (Scorsese, De Palma e Jonathan Demme contam-se entre os poucos film makers genuinamente herdeiros de "Peeping Tom"). Tristes tempos estes, em que os grandes estúdios não toleram a presença de artistas. Parece que voltámos ao tempo das cavernas. Veja-se a fita e perceba-se porquê.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Banda sonora para o Outono (12)

Tom Petty é um verdadeiro dinossauro do rock. Preterido em favor de outros grandes heróis da guitarra que dedicaram a sua carreira a cantar os sucessos e fracassos do american dream, como Bob Dylan e Bruce Springsteen, Petty, a solo ou com os seus velhos companheiros de estúdio e de estrada, The Heartbreakers, é responsável por alguns dos melhores LP country-rock das décadas de 80 e 90. Este ano regressou em grande com um álbum de blues, com o sugestivo nome "Mojo". São 15 grandes canções com a guitarra de Petty a protagonizar momentos vibrantes e a voz do cantautor a exaltar a dimensão agridoce da vida, do amor e da liberdade. Amén!

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...