Banda sonora para o Inverno (9)

The Alan Parsons Project foi talvez o maior paradigma do rock sinfónico. Construíram a maior e melhor parte da carreira nas décadas de 70 e 80, destacando-se pela elaboração de álbuns conceptuais marcados por orquestrações sumptuosas, com um pé no rock progressivo e outro na pop "orelhuda".

Gosto muito dos discos "Eve" (o melhor trabalho de Alan Parsons editado na década de 70), "Eye In The Sky" e "Ammonia Avenue", mas foi em 1984 que descobri este projecto quando, aos 12 anos, comprei o LP "Vulture Culture" - definitivamente, um dos dez melhores discos dos anos 80. Ouvir este disco hoje continua a fazer sentido, pois não perdeu pitada da frescura e harmonia que tinha há vinte e seis anos atrás.

"Vulture Culture" é constituído por sete canções e um tema instrumental, belíssimos em toda a sua aparente simplicidade, texturas sonoras, letras bem singulares e vozes vindas do céu.

"Sooner or Later" - The Alan Parsons Project

"The Hurt Locker" - a guerra pelo olhar de uma grande cineasta

Talvez muitos espectadores que viram e gostaram (ou simplesmente ouviram falar) do filme "The Hurt Locker" (que recebeu um título em português demasiado infeliz para ser verdade - "Estado de Guerra"), desconheçam que a realizadora, Kathryn Bigelow, é já uma cineasta veterana (o seu primeiro filme é de 1982). Com uma filmografia curta, mas muito, mesmo muito digna, a cineasta não se distingue, curiosamente, por um olhar feminino sobre a realidade humana. Bem pelo contrário, os protagonistas dos seus filmes são normalmente homens em situações-limite. "Point Break" (1991) e "Strange Days" (1995) são, definitivamente, os dois melhores filmes de acção dos anos 90 e trazem a assinatura daquela movie maker.

Kathryn Bigelow é a cineasta do momento. Vencedora dos prémios BAFTA 2010 nas principais categorias (incluindo melhor filme e melhor realizadora), prepara-se para ser a grande surpresa da noite dos Óscares, sobretudo se tivermos em conta que "The Hurt Locker" é uma longa-metragem de baixo orçamento, o que a ter em conta o outro favorito - a obra-prima "Avatar", de James Cameron -, a cerimónia será uma espécie de David contra Golias. Não direi que o filme de Bigelow seja melhor que o de Cameron, mas é uma obra filmada com um elevado sentido de mise-en-scène e extremamente actual.

Reflexão em torno da guerra enquanto acto irracional mas - e talvez por isso - viciante, como uma droga, "The Hurt Locker" tem a Guerra do Iraque como pano de fundo. Ora, tema tão delicado e polémico não existe na história americana do século XXI, sendo, aliás, uma autêntica pedra no sapato para a admnistração Obama. E isto pode jogar a favor ou contra o filme, dependo dos lobbies que dominem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e da perspectiva com que se encare a película.

Trailer de "The Hurt Locker", de Kathryn Bigelow

Foi você que pediu um Vítor Constâncio? (2)

"Fica surpreendido com o BPP, fica surpreendido com o BCP, fica surpreendido com o BPN, fica surpreendido com o valor do défice, fica surpreendido com o valor do endividamento. Vítor Constâncio recebe 17 mil euros e tudo o surpreende."

Paulo Portas, TSF

"Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo" - de Chris Columbus

"Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo" é a adaptação cinematográfica da primeira das cinco obras da série literária "Percy Jackson e os Olimpianos", criada por Rick Riordan. O filme traz a assinatura do veterano Chris Columbus (autor da obra-prima "O Homem Bicentenário", mas mais conhecido pela transposição para celulóide dos dois primeiros capítulos da série "Harry Potter"), que mais uma vez se revela um artesão competente, capaz de criar um bom entretenimento para toda a família, o que resulta numa fita que não embaraça mas também não surpreende.

Percy Jackson é uma espécie de jovem herói trágico (tal como Harry Potter) que se vê envolvido nas teias de um destino que não escolheu, descobrindo que nas suas mãos se encontra a salvação da humanidade. Percy torna-se o principal suspeito do roubo do Relâmpago de Zeus, vendo-se apanhado no meio de uma batalha épica entre deuses enfurecidos. O jovem herói embarca, assim, numa aventura para encontrar o verdadeiro ladrão e desvendar um mistério tão poderoso quanto as divindades lendárias.

Um filme previsível, mas com bom ritmo e didáctico.

Trailer de "Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo", de Chris Columbus

Foi você que pediu um Vítor Constâncio? (1)

Os ministros das Finanças da Zona Euro escolheram Vítor Constâncio, actual governador do Banco de Portugal, para ocupar o lugar de vice-presidente do Banco Central Europeu a partir do próximo dia 1 de Junho. Com as qualidades de supervisão e fiscalização de irregularidades em bancos nacionais de que deu provas, é caso para dizer que há pessoas que interessam ser escolhidas por dormirem no trabalho. Ainda há quem considere que a democracia é condição da meritocracia?

Perdoem-me a tentação do trocadilho, mas, como mais uma vez se prova, vivemos numa sociedade onde impera a demeritocracia.

Três melodramas (3) - "E Tudo o Vento Levou", de Victor Fleming (1939)

Por fim, a cereja no topo do bolo, o rei dos melodramas clássicos de Hollywood - "E Tudo o Vento Levou", de Victor Fleming.

Considerado por muitos críticos de cinema como o melhor filme de sempre, este arrebatador romance passado durante os anos da Guerra Civil Americana, conquistou dez Oscares e marcou várias gerações de cinéfilos. Com uma fotografia esplêndida, a película foi restaurada e recentemente reeditada em DVD, demonstrando ter conseguido sobreviver ao tempo, ganhando até uma magia especial passados mais 70 anos de história do cinema. Poucos são os filmes capazes de tamanho feito, dispensando - e desencorajando - qualquer pretensão de produzir um remake. Que fique claro: este não é apenas mais um filme, é uma obra de arte intemporal.

"E Tudo o Vento Levou" é um épico histórico que narra o romance entre Scarlett O'Hara (fabulosa Vivien Leigh) e Rhett Butler (um inesquecível Clark Gable), por entre encontros e desencontros marcados pela destruição causada pela Guerra Civil. Bom, mais não conto... O filme merece ser visto e revisto, vezes sem conta.

Trailer de "E Tudo o Vento Levou", de Victor Fleming (1939)

2:34

Três melodramas (2) - "Personal Effects", de David Hollander (2009)

Um bom melodrama exige personagens perseguidas por um passado que urge resolver. Se possível, com a redescoberta do verdadeiro amor. É o que se passa em "Personal Effects", película realizada por David Hollander e que marca o regresso de Michelle Pfeifer aos grandes papéis que justamente merece. O cineasta sabe servir-se do carisma e beleza de uma das maiores actrizes norte-americanas de sempre.

O filme narra a história de um homem e uma mulher mais velha, com tragédias familiares em comum, acabando por se apaixonar e ajudarem-se mutuamente na superação da dor da perda.

A realização é competente, a banda sonora acentua o drama vivido pelos personagens e a fotografia realça a atmosfera melancólica do filme. Só é pena terminar de forma tão previsível e apressada.

Trailer de "Personal Effects", de David Hollander (2009)

Três melodramas (1) - "Pecados Íntimos", de Todd Field (2006)

Em 2006, Todd Field assinou um portentoso melodrama protagonizado por Kate Winslet, Patrick Wilson e Jennifer Connelly. Seguindo as linhas do cinema de Douglas Sirk e Stanley Kubrick, mas com roupagens assumidamente modernas (sobretudo, no que ao realismo dos personagens concerne), "Pecados Íntimos" centra-se num conjunto de pessoas da classe média cujas vidas se cruzam em parques infantis, piscinas municipais e ruas de uma pequena comunidade nos subúrbios de uma cidade norte-americana.

Um homem e uma mulher, insatisfeitos com os seus casamentos, conhecem-se num parque infantil e apaixonam-se. As suas vidas cruzam-se com a de um pedófilo que acabou de sair da prisão e regressou a casa, alarmando a vizinhança e afectando as vidas dos protagonistas.

A realização é segura, destacando-se a excelente direcção de actores. Fica um excelente filme, cerebral e frio, mas nunca distante do espectador.

Trailer de "Pecados Íntimos", de Todd Field (2006)

São Valentim em 2010

Foi São Valentim

Padre, herói, cavaleiro do Amor

Que secretamente casou

Jovens que se comprometiam a amar

Desejemos ser

Dois desses jovens

Amantes no eterno

Que só o Amor permite

Vamos ser dois amantes

Que fazem juras de Amor

Num jardim, na praia ou junto a um altar

E, assim, sermos abençoados por São Valentim.

Para L.

Dia Internacional Contra a Utilização de Crianças-Soldados

Por todo o planeta, milhões de crianças morrem ou ficam gravemente feridas ao participar em conflitos armados. A utilização de crianças-soldado está associada maioritariamente a organizações paramilitares governamentais, grupos de oposição e grupos de origem étnica ou religiosa. As crianças são tratadas com brutalidade e não têm acesso ao ensino ou a cuidados de saúde. Com este dia, pretende-se alertar a comunidade internacional para o recrutamento de crianças para fins bélicos e a necessidade da sua desmobilização e reintegração na sociedade. Estejamos atentos a estes crimes cometidos contra a dignidade das crianças. Elas são um valor absoluto!

Banda sonora para o Inverno (8)

Que é feito de Midge Ure? O antigo líder dos Ultravox, músico discreto, responsável por algumas das melhores canções pop das décadas de 80 e 90, parece ter-se remetido ao silêncio, pelo menos no que à edição discográfica diz respeito. Sabe-se que, recentemente, voltou à estrada com a sua antiga banda e que ajudou Bob Geldof na organização do Live 8 (à semelhança do que acontecera em 1985 com o histórico Live Aid). De boa memória permanece a colectânea "If I Was: The Very Best Of Midge Ure And Ultravox". Pop clássica, por vezes industrial, aqui e ali adocicada, com influências folk-rock, é música suficientemente quente (e nostálgica) para aquecer a alma nestes dias frios de Inverno.

"If I Was" - Midge Ure

O Haiti também somos nós (3)

O Instituto Haitiano do Bem-Estar Social, entidade responsável pelas adopções no Haiti, denunciou recentemente a existência de tráfico de crianças no país desde a data do sismo. Neste sentido, as crianças devem ser, neste momento, a principal preocupação das autoridades internacionais. Elas são o elemento mais frágil desta tragédia humana, pelo que sabendo das atrocidades de que alguns seres humanos adultos são capazes, temos a obrigação de as proteger e dar-lhes a oportunidade de ainda terem uma infância, dentro do possível, saudável. Estejamos atentos!

"Parceiros no Crime", de Mimi Leder

Eis um filme escusado, de tão balofo e estafado. Apesar de ter bons actores (com Morgan Freeman à cabeça) e uma realizadora que já deu cartas na arte do entretenimento cinematográfico (Mimi Leder assinou o competentíssimo "O Pacificador"), este heist movie repleto de lugares comuns, é um tiro ao lado sem chama, que nunca consegue justificar o preço do bilhete.

História de uma dupla improvável de assaltantes profissionais (Freeman e Banderas) que planeia roubar um par de jóias preciosas a um coleccionador russo, não mata saudades de "O Caso Thomas Crown". Mas esse era uva de outra parra! Trazia a assinatura do grande John McTiernan.

Trailer de "Parceiros no Crime", de Mimi Leder

Banda sonora para o Inverno (7)

Após abandonar os Pink Floyd (e antes do litígio com o resto da banda), Roger Waters assinou um dos melhores discos dos anos 80 - "The Pros and Cons of Hitch Hiking". Disco cinemático em formato conceptual, narra um sonho movido a gasolina, como se de um road-movie se tratasse. Nele, Roger Waters levou ao extremo a sua veia de cantautor cerebral, introspectivo, doce e amargo, compondo poemas de fundo existencialista, aparentemente niilistas, mas sempre vislumbrando uma luz ténue ao fundo do túnel do inconsciente.

O álbum é constituído por 12 temas, narrados em surdina, começando às 4:30AM e terminando o sonho às 5:11AM. Pelo meio, ecoam memórias de "Shane" (filme de George Stevens), móteis no deserto, estações de serviço degradadas, viagens à boleia, camiões desgovernados, solitários à procura de si próprios - o sonho americano num western que podia ter sido realizado por Lynch ou Kubrick, com argumento de Kerouac.

Um disco obrigatório na estante de qualquer melómano. Para ouvir, sempre!

"(5:01AM) The Pros and Cons of Hitch Hiking Part 10" - Roger Waters

Curiosidades (3) - ainda "Avatar" (3)

No Zhangjiajie National Forest Park, na província de Hunan, situada no Sul da China, foi filmado um conjunto de montanhas escarpadas para algumas cenas do filme "Avatar". Agora, e por causa do estrondoso êxito da fita, os chineses decidiram mudar o nome às montanhas escarpadas, e de Coluna do Céu do Sul passaram a chamar-se Montanha Aleluia de Avatar.