sábado, 27 de dezembro de 2014

Natal

Gosto do Natal porque o vejo exatamente da mesma forma como quando tinha cinco ou seis anos: a festa do nascimento de um homem bom, que enxotava os vendilhões, desprezava cobardes e não tinha medo de nada. Redescubro em cada Natal esse exemplo de força e alegria. Nunca me interessou perceber se Jesus era ou não filho de Deus - aliás, uma das coisas que aprendi com ele foi a não selecionar as pessoas pelos nomes de família. Basta-me que tenha existido.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal

Aos leitores deste blogue, desejo um Natal pleno de luz, saúde, amizade, paz e sabedoria na esperança de que cada um de nós seja, pelo menos uma vez no ano, em si mesmo Amor.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Prémio Nobel da Paz 2014

A paquistanesa Malala Yousafzai e o indiano Kailash Satyarthi receberam na semana passada, em Oslo, o prémio Nobel da Paz, pelo trabalho na defesa dos direitos das crianças. Malala lutava pelo direito das meninas à educação quando, em outubro de 2012, foi baleada na cabeça pelos talibãs; com 17 anos, é a mais jovem premiada de sempre. Satyarthi, 60 anos, coloca a vida em risco para salvar milhares da escravatura infantil. Por crianças esquecidas e silenciadas, Paquistão e Índia reconciliaram-se. Por umas horas.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Duas peças de Simon Stephens: "Um Precipício no Mar" e "Punk Rock"

Ler Teatro (refiro-me a textos pensados para o palco) é uma experiência criativa: exalta a imaginação, levando o leitor a idealizar a sua própria encenação; o leitor tem, assim, a oportunidade de transcender o seu lugar natural - o de ser público/espectador -, assumindo, hipoteticamente, o papel de encenador.

Neste contexto, recomendo a experiência de leitura de duas peças de Simon Stephens, dramaturgo nascido em 1971, em Stockport, Cheshire: Um Precipício no Mar e Punk Rock estão editadas num único volume da apaixonante coleção Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos.

O primeiro texto é um monólogo desencantado sobre a perda, a irremediável e autoflagelante dor de um pai perante a absurda morte da filha. Por seu turno, Punk Rock é uma peça áspera sobre adolescência e bullying.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Banda sonora para o outono - Genesis: "R-Kive"

Com Pink Floyd e Yes, os Genesis formam o sacrossanto triunvirato do rock progressivo. Acabam de lançar o seu mais detalhado acervo com o triplo R-Kive. Trata-se de uma coletânea que reúne excertos das três fases da banda britânica, além de músicas representativas dos projetos de Peter Gabriel, Steve Hackett, Tony Banks, Mike Rutherford e Phil Collins fora dos Genesis. Num século que parece apostado em eliminar a memória dos clássicos da cultura popular, é bom lembrar que os Genesis trouxeram ao mundo obras como Selling England by the Pound, Foxtrot, The Lamb Lies Down on Broadway, Wind & Wuthering e A Trick of the Tail. Ouvir Genesis, hoje, é saber que houve um tempo em que os músicos populares não temiam o risco e procuravam persistentemente fazer Arte. E, mais estranho, vendiam a sua obra às massas. Era o tempo em que as estações de televisão e as emissoras de rádio cumpriam o seu papel de educar o público.

Ouçam-se canções como The Carpet Crawlers e Mama e compare-se com o que hodiernamente se ouve nas rádios. A música dos Genesis não tem paralelo com a maioria do rock contemporâneo, sendo, ainda hoje, mais moderna e ousada do que aquilo que se ouve por aí. Genesis R-Kive é, indubitavelmente, um dos acontecimentos discográficos de 2014.


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Estado do Mundo (24) - o degelo da Antártida e da Gronelândia

As duas maiores camadas de gelo do planeta estão a derreter a um ritmo nunca antes registado. De acordo com um estudo recente baseado em imagens registadas por satélite, a Gronelândia e a Antártida têm vindo a perder, no seu conjunto, cerca de 500 quilómetros cúbicos todos os anos, o equivalente a um cubo cujos lados têm o comprimento aproximado de Portugal.

O grupo de cientistas austríacos e canadianos envolvidos na investigação culpa o aquecimento global, nomeadamente a queima de carvão, petróleo e gás, assim como as mudanças no uso da terra junto aos glaciares, pela diminuição do nível de gelo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Banda sonora para o outono - Pink Floyd: "The Endless River"

Não podíamos deixar passar ao lado aquele que é, talvez, o acontecimento musical de 2014: o lançamento do novo álbum dos Pink Floyd, The Endless River. Primeiro, porque se trata quase de certeza da última obra da mítica banda de rock progressivo; depois, porque é um disco de uma humildade desconcertante, revelando a maturidade de dois músicos (David Gilmour e Nick Mason) que já nada têm a provar ao mundo, certos de que já imprimiram a sua marca incontornável na história da arte há muitos anos atrás; mas sobretudo porque The Endless River é uma comovente homenagem a Rick Wright. É como se os Pink Floyd celebrassem uma última vez o prazer de estar em estúdio antes de saírem pela porta principal, talvez com um olhar sereno por cima do ombro e fechando a porta suavemente.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estado do Mundo (23) - a violência sobre as mulheres na África do Sul

Todas as semanas mais de dez mulheres sul-africanas são violadas na Cidade do Cabo para "curar a sua homossexualidade". Sofrem as chamadas "violações corretivas", muitas delas em grupo. Não são raros os casos em que, na sequência dessas violações e agressões, algumas vezes fatais, as mulheres sejam contagiadas como doenças venéreas, como a sida.

A maior parte destas mulheres, muitas delas residentes em zonas pobres da África do Sul, nem sequer apresentam queixa à polícia, conscientes de que as autoridades não fazem nada a este respeito.

A ONG Action Aid calcula que são violadas 500 mil mulheres por ano no país, e que na esmagadora maioria os agressores ficam impunes. Segundo a organização, de cada 25 homens que assassinam lésbicas, 24 saem em liberdade.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Invenções sociais(2)

Como é que uma garrafa de água mudou o mundo? Em 2002, um mecânico brasileiro teve a ideia de usar uma garrafa de plástico para iluminar espaços interiores, partindo de orifícios nas casas para trazer a luz solar para o interior. Em 2011, a fundação filipina MySheltter, com a ajuda do MIT, criou um novo protótipo e começou a instalá-lo num dos bairros mais pobres do país, Sitio Maligaya. Desde então foram instaladas 15 mil garrafas solares em 20 cidades filipinas e perto de 200 mil em projeto idênticos em 15 países como Bangladesh, Colômbia ou México.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"Lucy" - o sentido da existência, segundo Luc Besson (2)

Lucy marca o regresso ao genuíno cinema de Besson: o thriller como premissa maior, a mulher como símbolo da criação, um argumento que parece juntar demasiadas ideias em simultâneo, como se de um puzzle narrativo se tratasse, mas com peças a menos e outras fora do sítio, personagens vulgares em situações-limite, e um ritmo feérico, embora mais implosivo que explosivo. Mas desenganem-se aqueles que pensem que estamos perante um filme despretensioso. Bem pelo contrário, Lucy é percorrido por inserts filosóficos (imagens e palavras) acerca da criação do mundo, dos primórdios da existência humana (a Lucy do título não serve apenas para identificar a personagem brilhantemente interpretada por Scarlet Johanson), das potencialidades do cérebro humano e do destino da humanidade.

 De algum modo, é legítimo compararmos a película de Besson com o mais recente filme de Terry Gilliam, O Teorema Zero. São duas obras filosóficas mascaradas de filmes de ficção científica, sendo também duas obras formalmente arriscadas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"Lucy" - o sentido da existência, segundo Luc Besson (1)

O nome de Luc Besson é já uma marca internacional associada a um cinema global ou além-fronteiras. Mais que um cineasta, produtor, argumentista e escritor francês, Besson é um artista do mundo. Curiosamente, e ao contrário do que muitos pensam, não tem traçado o seu caminho imitando o cinema americano mas sim criando o seu próprio percurso, a sua singular estética e a sua marca autoral. Além disso, é um empresário de sucesso capaz de investir em filmes altamente lucrativos. Relembre-se, a título de exemplo, fitas tão icónicas como: Vertigem Azul (1988), Nikita (1990), Leon, o profissional (1994), O 5º elemento (1997), Joana d'Arc (1999) ou Artur e os minimeus (2006), clássicos inquestionáveis da cultura popular dos séculos XX e XXI. Aqui para o escriba, no cinema como na vida, não há amor como o primeiro, por isso continuo a eleger Subterrâneo (1985) como a melhor obra de Luc Besson.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Estado da Nação (9) - famílias ajustam, Estado e grandes empresas desequilibram

No dia 21 de agosto, o Banco de Potugal atualizou os valores do endividamento da economia portuguesa em junho de 2014, conclíndo-se que as administrações públicas e as grandes empresas não estão a quebrar o ciclo de contrair dívidas atrás de dívidas, anulando o esforço com que famílias e empresas de menor dimensão têm avançado desde a chegada da troika.

Novamente, um país a duas velocidades, em que os que têm menos recursos fazem o esforço do tão desejado ajustamento orçamental, e os mais ricos - e, já agora, mais exploradores - esbanjam e pedem ainda mais.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Estado do Mundo (22) – a tragédia da violência sobre as crianças



O relatório "Hidden in Plain Sight" divulgado no passado dia 5 de setembro pela Unicef revela que já foram violadas 120 milhões de raparigas até aos 20 anos de idade. De acordo com os dados da organização internacional, uma em cada dez crianças e jovens já foi vítima de violação. O estudo inclui dados de 190 países e conclui também que um quinto das vítimas de homicídio são provenientes de países da América Latina, em particular da Venezuela, Colômbia, Panamá e Brasil. Outro dos perigos recentes com que as crianças têm de lidar é o bullying, uma vez que tem incidido sobre um maior número de crianças: um em cada três estudantes com idades entre os 13 e os 15 anos é vítima deste crime na escola. Por seu lado, as punições físicas severas e de forma repetida afetam 17% dos jovens em 58 países espalhados pelo globo. 

No relatório, que já está disponível para consulta pública, a organização que protege os direitos das crianças chega a várias conclusões relativamente aos crimes mais comuns. A violência sexual é aquela que preocupa mais os responsáveis porque atinge crianças e jovens em todo o mundo. No entanto, é na República Democrática do Congo e na Guiné-Equatorial que existe a maior percentagem de crimes praticados pelos parceiros. Um quinto das vítimas de homicídio a nível global são crianças e adolescentes com idade inferior a 20 anos. Em 2012 morreram 95 mil menores, sendo o Panamá, El Salvador, Trindade e Tobago e Guatemala os países onde o homicídio é a principal causa de morte, principalmente nos indivíduos do sexo masculino. Contudo, é na Nigéria que se regista a maior taxa deste tipo de violência infantil, com 13 mil casos. 

A instituição faz uma análise aos crimes cometidos contra menores de idade, sobretudo as raparigas, mas também faz importantes recomendações para evitar o aumento do número de casos. A entidade solicita que se fomente o apoio junto dos pais e das crianças para adotarem comportamentos e atitudes diferentes, bem como que se alerte o sistema judicial para este tipo de crimes.

sábado, 27 de setembro de 2014

Banda sonora para o outono - Alt-J: "This Is All Yours"

Adivinha-se um outono com muitos bons discos, sendo, definitivamente, esta a estação do ano pródiga em Arte, assim na música como nas exposições, nos livros e no cinema. 

Vejamos: os U2 regressaram em força com Songs of Innocence, Leonard Cohen comemorou oito décadas de vida com o belíssimo Popular Problems, Thom Yorke aprofunda texturas eletrónicas em Tomorrow's Modern Boxes e os Alt-Jay crescem a olhos vistos no seu segundo LP, This is All Yours. São 13 delicadas canções pop, que anunciam a estação da melancolia redentora. Quando revisitarmos 2014 para escolher as melhores canções, talvez não selecionemos qualquer tema do novo disco dos Alt-J porque se trata de uma obra onde o todo é mais importante que a soma das partes. Mesmo assim, arrisco "Nara" e "Hunger of the Pine" como duas das canções do ano. 

Um álbum obrigatório!



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Estado do Mundo (21) - as abelhas estão a morrer

"Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o Homem tem apenas quatro anos de vida." 

Albert Einstein lançou este alerta há quase cinco décadas. Os investigadores não conseguem precisar o prazo, mas garantem que as abelhas estão a desaparecer a um ritmo alarmante. Basta recordar que as abelhas são responsáveis por 70% da polinização das 100 espécies de culturas que alimentam 90% da população mundial.

domingo, 21 de setembro de 2014

A Índia também somos nós



Mais de 200 mil pessoas continuam isoladas na província de Kashmir, Índia, apesar do recuo das cheias que têm devastado a região dos Himalaias. O governo federal estima que pelo menos 200 pessoas morreram e cerca de 130 mil tiveram que ser salvas por equipas de socorro. Calcula-se que outras 200 mil pessoas permaneçam ainda isoladas e à espera de auxílio. Há receio de que doenças possam eclodir na região, havendo carcaças de animais espalhadas pelas ruas. Um dos responsáveis locais alertou ainda que as casas danificadas pelas piores cheias deste século terão que ser reconstruídas rapidamente antes que o "frio intenso" do inverno chegue à região.
De momento, foram instalados 137 campos de acolhimento no vale de Kashmir, que prestam auxílio a 100 mil pessoas.
E por cá, nos noticiários televisivos, esta é mais uma tragédia humanitária invisível. É ignorando o próximo que damos a volta à crise?

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Estado da Nação (8) - é urgente repensar a democracia (2)

Foi a sucessão de governos PSD/CDS e PS que permitiu a completa desregulamentação do mercado financeiro, a multiplicação das imparidades e que distribuiu pelos grupos económicos e financeiros elevadas rendas suportadas pelos contribuintes. O modelo de negócio que estes políticos - em comissão de serviço no Governo enquanto esperam lugar à mesa dos negócios - preferem são contratos e negociatas em que o Estado paga uma taxa de lucro elevada aos privados e o contribuinte é que corre todos os riscos. Esta situação cria um autêntico regime de casta e compadrio que urge ser radicalmente alterado sob pena de mantermos um sistema político que é uma espécie de guichet dos interesses corruptos do capital financeiro.

O futuro depende de nós. Sem uma rutura popular e democrática continuaremos a seguir o caminho que nos levará a um país cada vez mais dependente em que à população são dadas como únicas saídas servir os turistas, emigrar ou... morrer.

domingo, 14 de setembro de 2014

Estado da Nação (7) - é urgente repensar a democracia (1)

Vivemos há 40 anos em democracia, mas quem mandou neste período, salvo durante uma breve interrupção revolucionária, foi a mesma elite económica de antes do 25 de abril. Há obviamente algumas, muito poucas, modificações no grupo dos homens mais ricos do país, mas Portugal continua a ser um dos países mais desiguais da Europa, em que o poder está na mão de uma minoria.

Mas que democracia e liberdade é esta? O que tivemos até hoje é um jogo, em que tudo parece mudar para que tudo continue na mesma. A alternância entre PSD/CDS e PS é a base que garante a manutenção do poder dos do costume. É claro que eleitoralmente e historicamente essas forças políticas não são iguais. Mas a sua sucessão é a perpetuação de uma ilusão de democracia, enquanto se construiu continuamente um regime em que as pessoas têm cada vez menos poder em relação à sua vida. Mais de 90% da população afadiga-se a trabalhar e a sobreviver, enquanto os mais ricos e os seus políticos de campanha decidem e engordam.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Banda sonora para o fim do verão: Rustie - "Green Language"

Para quem já sente saudades do outono, eis a música ideal: o álbum Green Language, de Rustie. Para que não restem dúvidas, as 13 delicadas ambiências sonoras que constituem o disco são geniais e, indubitavelmente, pensadas, testadas e, melhor ainda será afirmarmos, experimentadas como um todo. Trata-se de um produto claro de um laboratório sonoro com um pé no calor de fim de tarde numa qualquer esplanada à beira-mar e outro a pisar chão de folhas caídas. Ouça-se "Raptor" ou "Dream On" e a metáfora anterior será claramente percebida.


sábado, 6 de setembro de 2014

O regresso da Feira do Livro do Porto

A Feira do Livro do Porto começou ontem nos Jardins do Palácio de Cristal com mais de 100 stands distribuídos entre editoras, alfarrabistas e livrarias. Pela primeira vez em mais de 80 anos, a organização da Feira do Livro deste ano é da inteira responsabilidade da câmara municipal, pondo um ponto final num dossiê que parecia não ter solução e pôs em risco a organização do certame, acabando por adiar a sua realização para setembro. 

Além de um programa que inclui debates, exposições, concertos e ciclos de cinema (com Pier Paolo Pasolini em destaque), as obras a preço de saldo estarão concentradas na Avenida das Tílias, o eixo mais marcante do parque ladeado pela Biblioteca Municipal Almeida Garrett, onde estão marcados alguns dos eventos. A não perder. Até ao dia 21 de setembro.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Invenções sociais (1)

Bidões reciclados em computadores, pedais para lavar a roupa, garrafas de plástico que iluminam bairros de lata ou incubadoras de tecido para proteger recém-nascidos. Estas são algumas das invenções sociais que revolucionaram o quotidiano de milhões de pessoas que vivem sem água potável ou cuidados de saúde e com menos de 2 dólares por dia.

domingo, 31 de agosto de 2014

Estado do Mundo (20) - Ferguson: regresso ao passado

Michael Brown, o jovem negro abatido pela polícia em Ferguson, no Estado do Missouri, foi atingido por seis balas, duas delas na cabeça, segundo uma das três autópsias realizadas.

O jovem de 18 anos, que não estava armado, foi morto por um polícia branco de 28 anos a 9 de agosto. A sua morte provocou inúmeros distúrbios de rua naquela pequena cidade sob recolher obrigatório desde o passado dia 16.

Os protestos em Ferguson, além de chamarem novamente a atenção para a divisão racial dos Estados Unidos da América, mostram que não existem cidades imunes ao fenómeno alimentado por frustrações e desconfiança da polícia em relação às comunidades que se sentem marginalizadas.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O capitalismo visto pela Igreja do século XXI

A aliança tácita da Igreja com o capitalismo é uma velha história que a ascensão do comunismo ateu no século XX só serviu para reforçar. Era preciso escolher um dos lados e, com a exceção dos padres adeptos da Teologia da Libertação, a Igreja escolheu o seu. A crise financeira de 2008 apanhou a Igreja desprevenida e até desorientada, repetindo naturalmente o essencial da doutrina mas incapaz de qualquer rutura com o sistema.

Entretanto, alguma coisa mudou radicalmente para o Bispo de Leiria-Fátima ter vindo criticar "a ditadura do capitalismo financeiro e especulativo", citando Bento XVI, e a "tirania económico-financeira, especulativa, virtual, desligada da economia real", replicando o Papa Francisco.

Em boa verdade, foi na apresentação anual do migrante e refugiado ao Santuário de Fátima, no passado dia 13, que D. António Marto afirmou que "a falta de ética na finança" pode "levar à catástrofe e à ruína de um país" e "as primeiras vítimas são sempre os mais pequenos e os mais pobres".

Ver este discurso crítico - e tão acutilante - chegar à Igreja portuguesa é um fenómeno que devemos louvar e registar. Esperemos que não seja mero fogo de artifício e que se converta numa verdadeira doutrina da Igreja para o século XXI.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Farewell, Sir Richard Attenborough (1923-2014)

Nascido em Leicester, foi numa viagem a Londres com o pai (que foi Reitor do University College de Leicester), em 1939, que viu pela primeira vez Charlie Chaplin, em A Quimera do Ouro, e ali tomou uma decisão clara: seguir a carreira de ator. "Vi as pessoas a rirem e a chorarem com os seus lenços. Quando voltava no comboio para Leicester disse para mim mesmo: 'Eu também quero fazer aquilo'." Aos 16 anos ganhava já uma bolsa de estudos para a Royal Academy of Dramatic Arts e dois anos depois estreava-se na peça A Ratoeira, de Agatha Christie. Mais tarde, em 1942, Richard Attenborough chegava ao grande ecrã com um pequeno papel em Sangue, Suor e Lágrimas, de David Lean e Noel Coward. Em 1947, a participação em Morte em Brighton, obra maior de John Boulting, popularizou-o, mas foi ao contracenar com Steve McQueen, em A Grande Evasão, épico de ação realizado em 1963 por John Sturges, que se tornou conhecido em Hollywood.
 
No entanto, é o seu trabalho como realizador que figura como entrada em qualquer Enciclopédia ou História do Cinema digna desse título. Attenborough, recordemos, foi o premiadíssimo realizador de Ghandi (1982), A Chorus Line (1985), Grita Liberdade (1987) e Chaplin (1992).

Aqui em baixo, olhando para cima, tiro-lhe o chapéu, Sir Richard Attenborough.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Banda sonora para o verão (32): Modernos - "#1"

Projeto paralelo dos Capitão Fausto, os Modernos acabam de lançar o EP de estreia, convenientemente intitulado #1. Com claras semelhanças à banda de origem, os Modernos apresentam, todavia, um som mais cru e direto ao osso. São quatro canções despidas de grandes ornamentos, que devem mais ao punk do que ao rock progressivo. A ouvir.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Emigração Portuguesa - meio milhão de jovens numa década

O número de jovens em Portugal diminuiu cerca de meio milhão na última década, havendo municípios que perderam quase metade da sua população entre os 15 e os 29 anos. Em algumas regiões, principalmente no Interior e no Sul do país, o número de jovens desceu quase para metade (menos 46%).

Como sabemos, este êxodo tem efeitos económicos devastadores - não há jovens para pagar impostos e segurança social.

domingo, 24 de agosto de 2014

Novo Banco já é Lixo

A agência de notação Moody's atribuiu nota B3 à dívida sénior e B2 aos depósitos do Novo Banco, ambos em níveis de lixo, e com perspetivas de novos cortes de rating.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Banda sonora para o verão (31): Ceuzany - "Nha Vida"

Ceuzany é um dos talentos emergentes de Cabo Verde. O seu álbum de estreia, Nha Vida, é uma excelente banda sonora para aquecer um verão ameno. São 11 revigorantes faixas cantadas em crioulo que redirecionaram alguns ouvidos para a música que se faz em Cabo Verde. "Ultimo Chance", "Na Ondas Di Bô Corpo" ou "Se Amor" são canções quentes que merecem ser ouvidas repetidamente.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"O Feiticeiro de Oz" - a estreia do clássico de Victor Fleming foi há 75 anos

Depois do sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) da Disney, a Metro-Goldwyn-Mayer precisava de uma novidade, de um espetáculo para o grande ecrã que virasse as atenções para a sua produtora. Foi neste impulso que Louis B. Mayer depositou todas as esperanças numa fita arriscada: tratava-se da adaptação do conto de L. Frank Baum, O Feiticeiro de Oz. Uma enorme equipa de atores, argumentistas, diretores artísticos e especialistas em maquilhagem ergueu o filme a dois tons que viria a tornar-se um clássico. Todavia, foi Victor Fleming (autor de outra obra-prima: E Tudo o Vento Levou) o principal responsável por trazer a aventura da pequena Dorothy ao universo paralelo com espantalhos, leões medrosos, homens de lata e bruxas poderosas. Memorável!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

"Belém" - o conflito na Faixa de Gaza, por Yval Adler

Belém é uma tragédia israelo-palestiniana filmada de forma discreta por Yval Adler, que investe, sobretudo, nas personagens, nos seus motivos e nos seus dramas pessoais. Não sendo um filme brilhante é, essencialmente, um objeto didático que explica de forma simples a complexidade de um conflito com raízes étnicas e religiosas, mas com razões de carácter fundamentalmente político. Nele assistimos ao confronto da polícia e do exército israelitas com as brigadas Al-Aqsa da palestina e o Hamas, e as consequências desta guerra perpétua nos mais frágeis - as populações civis, verdadeiras vítimas desta tragédia.

Belém é uma daquelas películas que parece ter sido realizada para esclarecer o público mais jovem acerca dos absurdos fundamentos de um conflito que urge cessar definitivamente, pelo que o seu lugar futuro deverá ser nas escolas, em salas de aula. Esperemos que assim seja. O mundo precisa de mais filmes assim, engajados na luta por um mundo melhor. Porque Belém também somos nós.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Um livro para o verão - "Luagres Escuros", de Gillian Flynn

A silly season reclama leituras viciantes. Mas entenda-se: bons livros. Obras que pedem leituras rápidas não significam necessariamente literatura light. A escritora norte-americana Gillian Flynn tem revelado mestria na arte de construir thrillers psicanalíticos sem cair em soluções fáceis. "Lugares Escuros" (Bertrand Editora) é mais uma prova disso mesmo. Não estando à altura de "Em Parte Incerta" (considerado um dos melhores livros de 2012), é, ainda assim, um livro com uma intriga densa e personagens complexos, seguindo a premissa de que nem tudo o que parece é. Haja um cineasta à altura de Hitchcock para adaptar este intrigante drama familiar, por vezes, arrepiante.

domingo, 17 de agosto de 2014

Estado da Nação (6) - Razões para não acreditar no Espírito Santo

Nos últimos quinze dias em que a equipa de Ricardo Salgado esteve à frente do BES foram realizadas diversas operações que lesaram o banco em 1,5 mil milhões de euros (o que dá uma média de 100 milhões de euros por dia).

O que torna o caso mais grave é sabermos que tais ações (fraude, favorecimento de credores, falsificação de contas, entre outros esquemas que configuram um quadro de gestão deliberadamente danosa) foram realizadas depois do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ter dado instruções rigorosas a Ricardo Salgado para que não houvesse mais operações que pudessem lesar o BES.

Bem pode Ricardo Salgado afirmar que "hoje ser banqueiro é complicado"!

sábado, 16 de agosto de 2014

Estado do Mundo (19) - Faixa de Gaza: a guerra perpétua

O atual conflito entre o Hamas e Israel é o mais grave e mortífero desde novembro de 2012. Os números são arrepiantes:

- 180 mil palestinianos perderam as suas casas e estão agora em escolas e instalações geridas pela ONU;
- 75% das vítimas do conflito são civis;
- 1/3 dos mortos e feridos são crianças;
- Desde 8 de julho, a ofensiva em Gaza já reclamou a vida a cerca de duas mil pessoas.

Até quando?

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Partido Separatista - António versus António

António Costa [sobre António José Seguro] - Enquanto estivermos a pensar como a direita, não nos livramos de governar como a direita.

António José Seguro [sobre António Costa] - Não repita mais aquilo que eu tenho andado a dizer, nem aquilo que são as posições do PS e diga qualquer coisa de diferente e de novo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Lauren Bacall (1924-2014)

Não podiamos aqui deixar passar ao lado a morte da diva que, em 1944, e com apenas 19 anos, no filme Ter e Não Ter, de Howard Hawks, ensinou Humphrey Bogart a assobiar. 

"Sabes assobiar, não sabes, Steve? É só juntar os lábios e soprar."

Para a história do cinema ficam, sobretudo, as quatro obras-primas que rodou ao lado de Boogie: o já citado Ter e Não Ter, À Beira do Abismo (de 1946 e também realizado pelo mestre Hawks), O Prisioneiro do Passado (de 1947 e assinado por Delmer Daves) e Paixões em Fúria (de 1948 e realizado pelo enorme John Huston).



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Robin Williams (1951-2014) no panteão do Clube dos Poetas Mortos

"Só nos é dada uma faísca de loucura e se perdermos isso... não somos nada." As palavras são de Robin Williams. A asserção surge no contexto de um espetáculo de stand-up comedy em Hollywood, corria o ano de 1978.

Nascido no Illinois, Chicago, cresceu com uma mãe ex-manequim e um pai com um cargo importante na Ford. É difícil imaginá-lo tímido mas assim era em criança, pelo menos até entrar para o grupo de teatro da escola.

Ao longo da carreira, recebeu dois prémios Emmy, quatro Globos de Ouro, dois prémios da Screen Actors Guild Awards, cinco Grammys e, em 1997, ganhou o Óscar para Melhor Ator Secundário ao interpretar um psicólogo que se relaciona com um génio problemático no filme O Bom Rebelde, de Gus Van Sant.

Mais que a técnica ou as ferramentas certas para a representação, possuía um certo tipo de loucura e autenticidade que lhe permitiam dar vida a outra gente como só ele sabia.

Eu estava prestes a despedir-me da adolescência quando vi, na sala de cinema da minha infância, "O Clube dos Poetas Mortos", filme que revelou um Ator maior que a Vida. O Mr. Keating interpretado por Robin Williams marcou-me do mesmo modo que marcou aqueles alunos com quem todos nós, nos verdes anos, nos identificávamos. Mr. Keating ajudou-me a crescer interiormente e influenciou muitas escolhas que tenho feito ao longo da vida. Estou em dívida contigo, old pal!

Para a eternidade ficam, pelo menos, as seguintes lições na arte de representar:

Popeye, de Robert Altman (1980)
Um Russo em Nova Iorque, de Paul Mazursky (1984)
Bom dia, Vietname, de Barry Levinson (1987)
O Clube dos Poetas Mortos, de Peter Weir (1989)
Um Sedutor em Apuros, de Roger Donaldson (1990)
Despertares, de Penny Marshall (1990)
Hook, de Steven Spielberg (1991)
O Rei Pescador, de Terry Gilliam (1991)
Jack, de Francis Ford Coppola (1996)
Casa de Doidas, de Mike Nichols (1996)
As Faces de Harry, de Woody Allen (1997)
O Bom Rebelde, de Gus Van Sant (1997)
Para Além do Horizonte, de Vincent Ward (1998)
O Homem Bicentenário, de Chris Columbus (1999)
Insomnia, de Christopher Nolan (2002)
One Our Photo, de Mark Romanek (2002)






terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estado do Mundo (18) - Líbia, o Estado falhado

 O vazio do poder após a deposição de Muammar Kadhafi, em 2011, deixou a Líbia entregue a centenas de grupos e milícias separatistas, capazes de tudo pela posse dos lucrativos recursos energéticos. O país é hoje um Estado falhado onde ninguém se entende, nada funciona e a vida humana vale muito pouco.

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...