A aliança tácita da Igreja com o capitalismo é uma velha história que a ascensão do comunismo ateu no século XX só serviu para reforçar. Era preciso escolher um dos lados e, com a exceção dos padres adeptos da Teologia da Libertação, a Igreja escolheu o seu. A crise financeira de 2008 apanhou a Igreja desprevenida e até desorientada, repetindo naturalmente o essencial da doutrina mas incapaz de qualquer rutura com o sistema.
Entretanto, alguma coisa mudou radicalmente para o Bispo de Leiria-Fátima ter vindo criticar "a ditadura do capitalismo financeiro e especulativo", citando Bento XVI, e a "tirania económico-financeira, especulativa, virtual, desligada da economia real", replicando o Papa Francisco.
Em boa verdade, foi na apresentação anual do migrante e refugiado ao Santuário de Fátima, no passado dia 13, que D. António Marto afirmou que "a falta de ética na finança" pode "levar à catástrofe e à ruína de um país" e "as primeiras vítimas são sempre os mais pequenos e os mais pobres".
Ver este discurso crítico - e tão acutilante - chegar à Igreja portuguesa é um fenómeno que devemos louvar e registar. Esperemos que não seja mero fogo de artifício e que se converta numa verdadeira doutrina da Igreja para o século XXI.
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