sábado, 26 de dezembro de 2015

"A Visita" - o regresso de um autor

Saúda-se o regresso de M. Night Shyamalan ao Cinema (assim mesmo, com C maiúsculo). A Visita é um clássico instantâneo: comédia de terror, o (in)esperado twist final impede A Visita de poder ser um filme para toda a família. Ainda bem, uma vez que a aparente simplicidade da narrativa e a ausência de efeitos especiais constituem marcas maiores de um autor que nos trouxe obras tão memoráveis quanto O Sexto Sentido, O Protegido, Sinais, A Vila e O Acontecimento.

Filmado com a estética found footage, A Visita supera todas as obras com esse formato. É que Shyamalan confere a alma que falta aos produtos de outros aspirantes a cineasta. A fita em análise tem personagens e verdadeiros atores (ainda que sem vedetas).

Dois irmãos adolescentes vão passar alguns dias com os avós que nunca conheceram. Apesar do carinho com que são recebidos, os netos ficam perplexos quando lhes é dito que não podem sair do quarto depois das 21h30. Decididos a desvendar a razão de tal interdição, descobrem que os avós não são os velhinhos encantadores que pareciam à primeira vista.

A história, além de apontamentos autobiográficos (a personagem de Rebecca, a irmã mais velha, é quase um alter ego de Shyamalan), mantém as referências spielbergianas (a ausência incompreendida da figura paterna) que já havíamos visto em O Sexto Sentido, e consolida a reputação de M. Night Shyamalan como esteta e autor maior.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

[Natividade]

nasce, Menino
agasalhado nos braços de tua Mãe
embalado em afetos
no calor luminoso da Estrela Polar.

nasce, Menino
faz-te ser de Amor
que tudo inclui
envoltório de Paz no Mundo.

nasce, Menino
que o estábulo se transforme em Lar
superfície plana do Pão
que alimenta a Humanidade.
Rui Louro Mendes

domingo, 20 de dezembro de 2015

Banda sonora para fim de outono - Jose James: "Yesterday I Had The Blues - The Music Of Billie Holiday"

Se os ouvidos do século XXI estivessem para aí virados, Jose James não seria apenas catalogado como músico de jazz (o que, em boa boa verdade, já não é pouco) - com muitos fãs conquistados numa carreira que ainda vai em meia dúzia de anos, convém salientar - e passaria a ter o estatuto de artista global, que bem merece, tanto pela substância das canções contidas nos seus três álbuns como pela diversidade estética de que se mostra capaz a cada novo disco.

No mais recente Yesterday I Had The Blues - The Music Of Billie Holiday, Jose James homenageia a diva da música negra norte-americana de forma simultaneamente reverente (o respeito pela melancolia das canções originais) e irreverente (as interpretações de James conferem novas formas ao espólio selecionado, levando o ouvinte a facilmente esquecer que estas canções foram celebrizadas pela voz de Billie Holiday).

Obrigatório! 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Estado do Mundo (32) - 35 milhões de escravos

Apesar dos 150 anos da ratificação da abolição da escravatura nos Estados Unidos da América (foi em 1865) se terem assinalado no dia 6 de dezembro, a organização não-governamental Walk Free Foundation garante que em 2014 ainda existiam perto de 35,8 milhões de escravos no mundo (recorde-se que em 2013 eram 29 milhões).

Índia, China, Paquistão, Uzbequistão e Rússia são os países que concentram mais escravos (61% do total), mas o pior país em termos de prevalência da escravatura foi, tanto em 2013 como em 2014, a Mauritânia, com 4% da população em situação de escravidão, num total de 155.600 pessoas.

Aquecimento global, terrorismo, fanatismo religioso, crise económica global, escravatura... Serão estas as marcas do século XXI na História? No dia em que se comemora a Declaração Universal dos Direitos do Homem, urge refletir sobre o mundo e a humanidade que queremos legar às futuras gerações. Para nós, a solução reside na Educação, ou, como diria Clint Eastwood, em deixarmos filhos melhores para o nosso planeta.

http://www.walkfreefoundation.org/

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Bosquejos de ternura (4) - nova infância


O telefonema do avô a convidar filhos e netos para um almoço em família. Convite matinal. Compromisso inevitável.

13 horas. Leça da Palmeira. Porto de abrigo de afetos, sonhos, amizades, vivências, crescimento físico e interior. A mesa já posta. O reconfortante aroma da comida, quente essência odorífera que abre o apetite e faz esquecer o apressado pequeno-almoço tardio.  O cão minúsculo, mas sonoro, aos saltos, a tentar competir com os mais novos membros da família. Em vão.

Os dois sobrinhos são a nova infância da família. Irmãos. Irmã e irmão. Ela observadora, personalidade resguardada. Ele frenético, extrovertido - chegaste, se quiseres podes brincar; se não quiseres, também não importa! -, de carrinho na mão (objeto que passou de geração em geração: foi meu, do meu irmão, passou para o Tomás e agora para o Mateus), pontapé ocasional ao cachorro, logo aconchegado pela avó.

Com tardes assim, não há tristeza ou carência que não esmoreça. Só faltavas tu, amor!

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...