segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Estado do Mundo (31) - Prolegómenos para um mundo perfeito

Um mundo sem fome nem pobreza extrema. Sem sida, sem malária, sem tuberculose. Com educação gratuita para todos. Onde as mulheres não são discriminadas nem agredidas. Onde todos têm acesso a água potável, saneamento e energia moderna. Um mundo com mais renováveis e mais eficiência energética. Com crescimento económico e emprego universal. Em que as cidades e os transportes são verdes. Com mais indústrias e menos poluição. Com os ecossistemas conservados. Em paz e livre da corrupção.

É este o mundo idílico que a ONU aspira atingir dentro de apenas 15 anos. Está tudo numa ambiciosa agenda para o planeta até 2030, que será adotada na cimeira mundial que começou na sexta-feira, dia 25 de setembro, em Nova Iorque e que coincide com o 70º aniversário das Nações Unidas. É uma nova e ampla lista de intenções (que substituem os oito Objetivos do Desenvolvimento do Milénio, adotados em 2000 e que expiram este ano) rumo ao desenvolvimento sustentável.

sábado, 26 de setembro de 2015

"Missão Impossível - Nação Secreta" - revisão da matéria dada

Há vinte anos atrás, o mestre Brian De Palma entregava o seu olhar cinematográfico à série de culto Missão Impossível e, à semelhança do que fizera, na década de 80, a Os Intocáveis, criava um filme de ação novo. Hoje, essas duas obras são clássicos incontornáveis. Só é pena que Missão Impossível não tenha tido o mesmo destino que Os Intocáveis, isto é, que não se tenha ficado apenas por essa película, dando origem a quatro sequelas de outros tantos realizadores, mas nenhum - apesar das evidentes qualidades demonstradas em obras mais pessoais - conseguiu imprimir um olhar que transcendesse o mero entretenimento.

O quinto tomo da saga de Ethan Hunt vem assinado pelo argumentista do exercício de perceção que é Os Suspeitos de Costume, Christopher McQuarrie. A fita tem cenas de ação memoráveis (os três minutos debaixo de água, a perseguição de motas numa autoestrada de Marrocos), uma mulher fatal que - sinal dos tempos - tem a força de Stallone e a destreza de Bruce Lee e até uma aproximação à estética de Brian De Palma (a longa sequência na ópera de Viena). Mesmo assim, não há nada de novo por aqui. Nada que artisticamente distinga Missão Impossível - Nação Secreta dos filmes anteriores ou de um novo capítulo das aventuras de 007.




quarta-feira, 23 de setembro de 2015

[outoniço]


folha que cai
rejuvenescida por saber
que viveu uma época fugaz
que dá origem a outra
vida que se perpetua
entre as margens do ser
porque cair assim,
com dignidade,
é erguer com solenidade
a essência em si.

corpo que cai
alma que apruma tudo
aquilo que aprendeu.

devemos aprender com a folha
e, pelo menos, soerguer
o espírito de vez em quando
deixar a matéria interromper-se
desabando o gesto leviano
para erigir a sensibilidade
outoniça.

Rui Louro Mendes


sábado, 19 de setembro de 2015

Giordano Bruno - um presente de verão à cidade invicta

No dia 12 de setembro do Ano da Graça de 2015, a Casa da Música ofereceu à cidade do Porto uma pérola da Estética e da Filosofia: a estreia mundial da ópera Giordano Bruno.

Com música de Francesco Filidei e libreto assinado por Steffano Busellato, a ação encontra-se dividida entre a cronologia do processo de Giordano Bruno (desde a denúncia em Veneza até à fogueira em Roma) e em cenas inspiradas diretamente na sua filosofia.

Com uma depuração formal impressionante (e menos usual na ópera clássica), a encenação é minimal, embora aqui se exija aos cantores (quer aos solistas quer ao coro) que sejam verdadeiramente atores e até bailarinos. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

"Love and Mercy" - biopic reverencial de Bill Pohlad

Distanciando-se da colagem ao modelo de biopic enquanto género cinematográfico, Bill Pohlad assina em Love and Mercy um filme singular sobre Brian Wilson, a alma criativa dos Beach Boys.

Pohlad centra-se em dois períodos específicos da vida de Wilson: a gravação do clássico Pet Sounds, na década de 60, e a relação disfuncional de Wilson com o seu psicólogo e tutor, já na década de 80.

Paul Dano e John Cusack estão extraordinários nas interpretações que fazem de Brian Wilson nas duas décadas assinaladas. A realização de Pohlad é contida mas segura, apesar de nunca se desviar da reverência ao cantautor, preservando a imagem imaculada de génio criativo atormentado pela memória de uma figura paterna fria e manipuladora (relação que o realizador transfere para a incapacidade de Wilson se libertar, mais tarde, da dependência do psicólogo que viria também a controlar as suas finanças a até a sua vida privada). Contudo, para quem não for fã de Brian Wilson (e, sobretudo, dos Beach Boys), Love and Mercy não terá muito para oferecer.

domingo, 13 de setembro de 2015

Maria João Pires - a woman for all seasons


A gravação dos concertos para piano nº 3 e nº 4 de Beethoven pela pianista Maria João Pires, disco editado em 2014 e gravado com a Orquestra Sinfónica da Rádio Sueca, recebeu o Prémio Gramophone na categoria Concerto. Maria João Pires, que se encontra em digressão europeia, está também nomeada para o Prémio Gravação do Ano, que será atribuído no dia 17 de setembro, numa cerimónia em Londres.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

"A Supremacia dos Robots" - pequena Hollywood na Europa

Jon Wright parece querer imitar o tom e o estilo dos blockbusters norte-americanos (Spielberg e Michael Bay à cabeça), com um leve toque british em A Supremacia dos Robots. Mas o que poderia resultar num entretenimento interessante (talvez uma espécie de cruzamento entre George Orwell e Philip K. Dick) termina num filme desnorteado e com uma total ausência de pathos. Nem Ben Kingsley e Gillian Anderson se salvam. A evitar!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Estado do Mundo (30) - editorial do "Público" de hoje: "Porque publicamos esta fotografia"

Não é fácil olhar para esta fotografia e não foi fácil tomar a decisão de a publicar. É uma imagem que impressiona. O primeiro instinto que temos é desviar o olhar. A seguir olhamos de novo, mas a querer fechar os olhos. No esforço entre olhar e não olhar, acabamos por levar uma estalada duas vezes.
Tínhamos algumas opções: não publicar, publicar uma imagem mais ambígua, ou publicar no espaço mais nobre do jornal.
Há bons argumentos para não a mostrar. É uma imagem violenta, logo evitável; há formas mais subtis de mostrar a realidade sem cair no sensacionalismo, “sem mostrar o horror”, como diz um colega fotógrafo; temos de respeitar a dignidade daquela criança.
Mas há melhores argumentos para a mostrar. Às vezes, é nosso dever publicar imagens impressionantes. Sem pixéis, sem sombras, sem filtros. Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, numa praia europeia, com a cara na areia? Não é igualmente doloroso ler sobre estas tragédias? Na escrita, não escondemos a realidade. Queremos, pelo contrário, recolher o máximo de factos. Por que é que na imagem usamos critérios diferentes? Porquê ter pudor na imagem, mas não na palavra?
Teríamos tido uma quarta-feira mais simpática se não tivéssemos olhado para esta imagem. Como teríamos tido, há dois anos, um melhor Agosto se não tivéssemos visto os bebés sírios mortos em Damasco com armas químicas. Teria sentido só vermos essas imagens daqui a 50 anos? Esta imagem é uma notícia. É a primeira vez que vemos uma imagem assim. Desde 2013 que lemos sobre mortes diárias no mar Mediterrâneo, de famílias, pais e filhos, que tentam chegar à Europa fugidos da guerra e da pobreza. Em Lampedusa, o Papa Francisco fez um apelo ao “despertar das consciências” para combater a “globalização da indiferença”. O mundo comoveu-se e seguiu em frente. À sua volta, estavam jovens negros de cabelo crespo. Não nos impressionou. Olhámos para eles como aventureiros de países perdidos. Agora os náufragos no nosso mar são brancos de classe média. Tudo neste bebé é familiar. O corpo, a pele, a roupa, os sapatos. Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

"Homem-Formiga" - um brinquedo de Peyton Reed

Há momentos interessantes, algum humor e uma certa estética retro no novo filme de Peyton Reed, que são bem-vindos. Todavia, na sua essência, Homem-Formiga é mais um produto Marvel para entreter as massas em dias de estio. Um filme para passar o tempo e comer pipocas.

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...