Começo outubro a ouvir o viciante novo disco de Sérgio Godinho, "Mútuo Consentimento". A imprensa tem recebido com simpatia este trabalho do cantautor português, mas ainda não li qualquer texto que faça jus à energia pop/rock do álbum. Na verdade, "Mútuo Consentimento" mais parece obra de um jovem músico, pleno de garra e vontade de incendiar palcos pelo país fora. Trata-se de onze canções com a maturidade poética e rigor formal próprios de quem compõe e edita discos há quarenta anos, mas que continua com a mesma vontade de, a cada novo LP, mudar qualquer coisa na música portuguesa. É também por isso que Godinho sabe rodear-se de músicos mais jovens em idade, que reconhece serem capazes de atualizar o formato das suas canções.
O disco abre com o lindíssimo "Mão na Música", longa canção em registo spoken word, estética que encaixa com perfeição na voz de Sérgio Godinho; prossegue com as toadas mais pop de "Bomba-Relógio" e "O Acesso Bloqueado", para dar lugar às duas canções mais inventivas de "Mútuo Consentimento" - "A Invenção da Roda" e "Em Dias Consecutivos" (esta última com partitura assinada por Bernardo Sassetti). O CD vale mais pelo todo do que por uma mera soma de partes, todavia, quanto mais não fosse por aquelas duas canções, já mereceria lugar de destaque na discografia deste músico tão singular.
Sérgio Godinho - "Em Dias Consecutivos"

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