Se este é o início do filme O Pai, modelarmente escrito e realizado por Florian Zeller, rapidamente descobrimos que estamos a assistir à construção e reconfiguração do complexo e intricado puzzle em que se tornou a mente de Anthony. O seu mundo interior, severamente estilhaçado pelos efeitos da doença de Alzheimer, determina o modo como perceciona o real, que se confunde com a sua mente turbada. A filha e a cuidadora são a mesma pessoa? Quem é o companheiro da filha? A nova cuidadora é uma projeção da filha que faleceu? Ser bailarino com talento para sapateado corresponderá a um sonho de infância recalcado?
No fim, ficamos inevitavelmente comovidos com a impressionante interpretação do outro Anthony, o Hopkins, sempre no tom certo e com a expressão ajustada. Esquecemo-nos que estamos a ver um filme com um rosto conhecido por todos. Anthony é inteiramente o ator que lhe dá corpo, alma e voz. A realização de Zeller é subtil, sempre comprometido com a história e ao serviço dos atores, sobretudo daquele que é, indubitavelmente, um dos melhores de sempre.
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