sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Assalto ao Metro 123", de Tony Scott


Em Agosto postei aqui um texto crítico sobre o último filme de Michael Mann - "Inimigos Públicos" -, comparando o seu trabalho de câmara a grandes estilistas do cinema contemporâneo, entre eles Tony Scott, cineasta cujo mais recente opus estreou há algumas semanas nas salas de cinema - precisamente, "Assalto ao Metro 123".

Trata-se da quarta colaboração entre Denzel Washington e Tony Scott, depois de "Maré Vermelha" (1995), "Homem em Fúria" (2004) e "Dejá Vù" (2006), e reafirma o realizador inglês como um dos mais importantes cineastas no activo, capaz de transformar um filme de acção num intenso drama humano de cortar a respiração. No filme em análise, para além da excelente interpretação de Washington, é de destacar a performance electrizante de John Travolta (já há muito que não o víamos assim), que enche o ecrã em todas as cenas em que entra.

Walter Graber (Denzel Washington) é um operador das estações de metro nova-iorquinas que se vê a braços com um pequeno exército de assassinos, liderados por um misterioso homem que diz chamar-se Ryder (John Travolta), que assalta o metro 123 e exige um enorme resgate em troca da vida dos passageiros, garantindo que estes serão exterminados à medida que o tempo passe até que o grupo de raptores receba o dinheiro. Garber revela a Ryder que é só um funcionário sem capacidades de negociação, mas a relação entre ambos torna-se vital para o desenvolvimento da história, tanto para Garber, que tenta desmontar o plano terrorista, como para Ryder, que joga com o passado obscuro daquele enquanto mantém o cerco subterrâneo.

É uma história convencional (na verdade, o filme é um remake de uma película de 1974), mas a garra feérica e a realização nervosa de Scott elevam-na a uma experiência de suspense e inquietação exemplares. Não repetindo a montagem servida a ácidos de "A Fúria da Último Escuteiro" e "Homem em Fúria", mas com uma narrativa igualmente sólida, e sem o labirinto de imagens de "Fome de Viver" e "Déja Vù", este é um filme assente em bases clássicas, quer pela sua estrutura e desenvolvimento como na própria mise-en-scène, aqui mais depurada e compacta se comparada com as obras anteriores do veterano cineasta (o primeiro filme, "Fome de Viver", remonta a 1983). No entanto, o ritmo é vertiginoso e Scott capta como ninguém o realismo caótico de uma situação de extremos na sobrepovoada Nova Iorque, sem esquecer o muito competente e seguro laço estabelecido entre os protagonistas, que agarra o espectador com determinação do primeiro ao último plano, permitindo sustentar outras personagens tão bem conseguidas como Camonetti (John Turturro) e o mayor (James Gandolfini num interessante retrato sobre as relações entre a política e os media).

De uma modernidade espantosa, o filme é imperdível e afirma, definitivamente, Tony Scott como um dos poucos autores de cinema de acção verdadeiramente interessantes.

Trailer de "Assalto ao Metro 123", de Tony Scott

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