
Erick Zonca, realizador premiado logo com a sua primeira obra - "A Vida Sonhada dos Anjos", filme de 1998, ganhou três César e dois prémios de interpretação no Festival de Cannes -, regressou ao grande ecrã, após uma longa ausência, com "Julia - Uma Vida de Sombras".
Este último filme narra a história de Julia (uma interpretação intensa, emotiva e visceral de Tilda Swinton), uma alcoólica desleixada e emocionalmente desorganizada, que acorda constantemente em casas de estranhos sem se lembrar da noite anterior. O seu comportamento irresponsável leva-a a perder o emprego e as suas poupanças. Obrigada a frequentar uma reunião de alcoólicos anónimos, conhece Elena (Kate del Castillo, que aqui se revela actriz plena de recursos dramáticos e expressivos), a qual pede a sua colaboração num plano macabro que poderá resolver os problemas de ambas: raptar o filho de Elena, que vive com um avô abastado, e pedir um resgate de dois milhões de dólares.
O filme segue ao ritmo do desequilíbrio e instabilidade emocional de Julia, tornando-se previsível a aproximação afectiva da protagonista ao rapaz de oito anos. Mas há uma espécie de odor a falhanço que transparece na película e nos faz sentir que aquele não era bem o rumo que a história deveria seguir. De facto, Tilda Swinton bem se esforça por carregar o filme aos ombros (e, na verdade, carrega...), mas existem demasiadas situações que tornam a obra pouco convincente. Por exemplo, o rapaz é tão mal-tratado e, estranhamente, nunca está muito assustado; por outro lado, Julia é excessivamente instável e trapalhona para nos fazer acreditar que se deixaria transformar pelo afecto à criança, daí a sua redenção final ser pouco credível.
Resta salientar que o presente filme parece uma variação (não assumida) de "Gloria", obra-prima de John Cassavetes, que em 1980 deu a Gena Rowlands uma nomeação ao Oscar de melhor actriz.
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