sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Três Livros (3): "Firmin", de Sam Savage - fábula existencialista


Pequena digressão biográfica acerca de Sam Savage: Natural da Carolina do Sul, formou-se em Filosofia na Universidade de Yale, onde chegou a leccionar por um breve período de tempo. Decidiu abandonar a docência para se dedicar a outras actividades, a saber: mecânico de bicicletas, carpinteiro, pescador e impressor tipográfico. Foi já com 65 anos de idade que Savage se estreou como escritor, precisamente com "Firmin", obra que aqui se analisa.

Firmin é um rato nascido nos anos 60 do século XX na cave de uma velha livraria de Boston, aprendendo desde cedo a - literalmente - devorar livros e a distinguir-lhes o sabor. Torna-se, assim, um rato culto e humanizado, características que o distinguem da sua família e que o conduzirão à solidão. Vendo a sua imagem reflectida num espelho, Firmin percepciona a sua própria tragédia: ser uma alma sensível, inteligente, poética e delicada presa num corpo de ratazana.

Disfarçado de conto infanto-juvenil, "Firmin" é um romance adulto acerca da condição humana, assumindo-se também como reflexão em torno do modo como a literatura ocidental tratou o tema. De uma imensa riqueza alegórica, a obra de Sam Savage equilibra humor e uma certa angústia existencialista, humanismo redentor e pessimismo, fábula e literatura sci-fi. Um livro leve mas profundo, que, em tom elegíaco, exalta a grande literatura clássica ocidental e despede-se de um tempo (os anos 60 do século passado) e de um bairro (Scollay Square) que não mais voltarão a existir.

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