Andrew Niccol é um cineasta de uma coerência formal impressionante. Na verdade, todos os seus filmes são obras de ficção científica que refletem sobre os grandes problemas do presente, a saber: a nova ordem mundial (Gattaca, de 1997), a substituição do real pelo virtual (Simone, de 2002), a política belicista das democracias ocidentais (O Senhor da Guerra, 2005) e o fim do capitalismo (Sem Tempo, 2011).
Num mundo alternativo ou num futuro possível, todos os indivíduos nascem com um contador digital que a partir dos 25 anos começa a marcar o tempo que resta, cabendo a cada um trabalhar para ganhar créditos para prolongar a sua esperança de vida. Esta hierarquização da sociedade faz com que os mais ricos vivam eternamente, enquanto a maioria da população - os mais pobres - vive no medo e ansiedade do tempo que se esvai rapidamente.
Por um lado, trata-se de um filme cuja narrativa parte de um dispositivo clássico que muitas e inesquecíveis obras deu ao cinema americano: a luta do indivíduo contra o sistema e os poderes instituídos. Por outro lado, "Sem Tempo" pode ser entendido como metáfora dos nossos tempos, onde uma esmagadora maioria suporta uma abusiva e minúscula minoria. No fundo, estamos perante uma película de ação engajada que recupera a melhor tradição do cinema liberal norte-americano, que tem ou teve em Coppola, Martin Ritt, Frank Capra, Sidney Lumet, Paul Haggis e Norman Jewison os seus maiores cultores.
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