"Parto", filme de António Borges Correia, bem que se podia chamar "Requiem pelo cinema português". Na verdade, se a película - belíssima, afirme-se desde já - reflete acerca do fim do culto da morte num mundo globalizado, pode ser lido também como metáfora para o lento definhar do cinema português. Digo lento, na medida em que a crise na sétima arte produzida em solo nacional já se arrasta há mais de duas décadas, tendo os três últimos governos desferido os golpes mortais a um cinema em agonia e, não fosse um ou outro foco de resistência individual (de que "Parto" é um ilustre exemplo), já se consideraria moribundo.
A estrutura narrativa de "Parto" é simples: um agente funerário precisa de ir buscar o corpo de um homem a um lugarejo escondido num vale da Serra da Peneda. Com a colaboração de dois amigos, monta a urna numa pick-up (uma vez que não há outra forma de chegar ao destino) e seguem serra acima. Pelo caminho, cruzam-se com personagens pitorescas, gente com histórias de emigração forçada mas que acabaram por regressar à terra onde nasceram. Trata-se, portanto, de um filme telúrico, mais próximo do cinema de John Ford que do de Manoel de Oliveira, expondo breves apontamentos sobre o ritual da morte em tempos passados e acentuando o pendor metafísico da obra ao nos revelar a rotina, a mundividência e os últimos dias do homem que partiu.
"Parto" foi editado em DVD com o selo da zulfilmes.
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