Uma idosa temperamental, a sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada em África, nos tempos do colonialismo.
Exposta deste modo, a sinopse de "Tabu" não ilustra a qualidade da obra de amor à sétima arte assinada por Miguel Gomes. À semelhança do disco sob escrutínio no post anterior, "Tabu" exige ser experienciado. Não se pede o mesmo que muitos críticos em relação a boa parte da cinematografia cá do burgo, isto é, a película de Miguel Gomes não implica uma predisposição especial (leia-se: paciência) por parte do público. Antes pelo contrário, "Tabu" é uma fita que se dá espontaneamente ao espetador, independentemente da sua cinefilia ou resistência a uma certa estética visual.
Dividido em duas partes - manifestando, talvez, um desejo de classicismo -, "Paraíso Perdido" e "Paraíso", respetivamente, "Tabu" é uma fita que parece saída de outro tempo, talvez de um tempo que transcende cânones cinematográficos, apesar da vontade do autor em aproximar-se de forma quase explícita do melodrama. Com a sua terceira longa-metragem, Miguel Gomes desenhou um filme poético, uma obra inclassificável (e isto é um elogio), arriscada, contra a corrente e à altura de objetos incontornáveis como "Tempos Difíceis" de João Botelho, e "O Sangue" de Pedro Costa.
Trailer de "Tabu"
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