sábado, 9 de janeiro de 2016

"Homem Irracional" - a impossibilidade da ética

Um professor de Filosofia a deambular por entre as malhas do existencialismo, encontrando apenas o vazio no absurdo da existência, descobre novo alento na perspetiva de um crime que o posiciona para além do bem e do mal, qual Nietzsche renascido para a tentativa de se tornar super-homem.

Podemos sintetizar assim o argumento do novo filme de câmara de Woody Allen. Muito se tem questionado acerca da (in)utilidade de alguma da filmografia mais recente do autor nova-iorquino, parecendo até que algum prazer há em desvalorizar e zurzir películas como Homem Iracional. No entanto, compare-se esta obra com a maioria das fitas-pipoca que têm invadido as salas de cinema nos últimos vinte anos; compare-se também com outros filmes de Allen (A Maldição do Escorpião de Jade, Vigaristas de Bairro, Vicky Cristina Barcelona ou Magia ao Luar); de seguida, analise-se Homem Irracional como pièce de résistance singular na obra de um artista cuja curadoria e conservação dificilmente encontrará, um dia, alguém à altura.

Está lá o jazz (insistência em The in-crowd), o protagonista deprimido (Joaquin Phoenix num registo inusual no universo de Allen), a jovem idealista (reencontro de Allen com Emma Stone), a caução literária (Dostoievski, pois claro!) e a reflexão ética (com direito a aulas de Filosofia e tudo!). Com olhar sábio e mão de mestre. Um dos grandes filmes do outono passado.


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