Em 2001, Ben Stiller realizou um filme que, apesar de alguma exposição mediática, passou relativamente despercebido. Doze anos depois, podemos reavaliar a película e constatar como se trata de um documento incontornável para compreendermos aquilo a que Mario Vargas Llosa designa por "Civilização do Espetáculo" - uma cultura que mitifica a estética do vazio, desprovida de bússola ética e espiritual, fascinada pela fama, confundindo preço e valor da obra de arte.
"Zoolander" é uma comédia desvairada que, a partir da história de um modelo famoso que, após uma gloriosa ascensão no mundo da moda, inicia a queda rumo ao esquecimento, retrata a forma como, a partir da segunda metade do século XX, a cultura se tornou frívola - precisamente, uma civilização do espetáculo. Há dois momentos, particularmente hilariantes, inspirados em "2001 - Odisseia no Espaço" e "A Laranja Mecânica", filmes de Kubrick; há divertidíssimos cameos de vedetas e gurus da moda (destacando-se as presenças de David Bowie e David Duchovny); e há a frenética câmara de Ben Stiller, que alguns anos antes nos tinha surpreendido com a comédia negra "O Melga".
Uma recente entrevista de um jornalista inglês a Quentin Tarantino que acabou em discussão, com este cineasta a recusar-se a analisar questões sérias e pertinentes colocadas pelo primeiro sobre o conteúdo violento dos seus filmes e as implicações dessa violência no real social, demonstram bem quão superficial é a cultura contemporânea e grande parte dos seus artistas. Tarantino insistiu que estava ali para promover a sua última fita, "Django Libertado", e não para analisar questões sociológicas implicadas nos filmes que levam a sua assinatura. É esta a atitude filosófica e cultural da civilização do espetáculo.
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