domingo, 18 de agosto de 2013

"Elysium" - uma distopia atabalhoada de Neill Blomkamp

Acaba de estrear "Elysium", o novo filme de Neill Blomkamp, cineasta que há quatro anos surpreendeu o mundo com o muito interessante "Distrito 9". Todavia, a película assinada em 2013 é uma deceção a todos os níveis. 

"Elysium" tem uma premissa promissora: em 2159, milionários e políticos influentes vivem numa estação espacial - o Elysium que dá nome ao filme -, enquanto os pobres permanecem na Terra - planeta devastado pela sobrepopulação, dominado por favelas e com uma atmosfera quase irrespirável. Muitos sonham com a possibilidade de chegar àquele paraíso acima da miséria que se vive no planeta azul; alguns tentam lá entrar clandestinamente; mas Elysium é vigiado com mão de ferro pela déspota secretária de Estado Delacourt (Jodie Foster num dos muitos personagens caricaturais da fita), que tenta por todos os meios preservar a vida luxuosa dos privilegiados habitantes da estação orbital. Contudo, um operário (Matt Damon num esforço constante em dar espessura dramática ao seu personagem), vítima de exposição a radiações excessivas na fábrica onde trabalha, vai embarcar numa demanda em direção a Elysium na expectativa de encontrar uma cura para a sua doença. Pelo caminho, a empresa deste herói deixa de ser individual para defender uma causa maior: permitir o acesso do povo ao satélite celestial.

Blomkamp encarrega-se de retirar seriedade ao seu filme, despachando a narrativa em cerca de 100 minutos (e o mal não viria daí, é claro!), onde o pathos se dilui em personagens preguiçosas, estereotipadas, demasiado esquemáticas, que nunca se levam a sério num filme que claramente pede muito mais. Convém clarificar: o problema desta obra (?) não é a economia de narrativa, é antes a ausência de espessura dramática; é não definir com honestidade o seu propósito (começamos por pensar que assistimos a uma parábola de ficção científica e sai-nos um sucedâneo scy-fy de série B, com um argumento atabalhoado, com momentos de humor involuntário, que nem com os "clássicos" de Chuck Norris consegue rivalizar). Muitos dirão que se trata de um filme marxista (e podia ser!) sobre o presente (os pobres têm que se sujeitar a cuidados hospitalares limitados e deficientes; os ricos possuem em casa máquinas que garantem a cura de todas as enfermidades); outros relevarão uma visão distópica que resulta das desigualdades sociais bem acentuadas no momento presente (e esse ponto de vista está no filme); mas quantos e tão bons filmes foram fabricados com mensagens semelhantes (e aqui incluímos "Distrito 9")? E tanto dinheiro gasto para quê? O cenário é ainda mais trágico ao sabermos que Neill Blomkamp teve total liberdade criativa (coisa aparentemente rara nos estúdios de Hollywood).

"Elysium" não se salva nem enquanto filme de verão. Está até uns furos bem abaixo de "WWZ", de Marc Forster, outro filme falhado que marcará tristemente esta época estival. Por entre as ruínas desta tragédia cinematográfica, só mesmo a prestação de Matt Damon merece algum respeito (todos os outros atores passeiam-se à deriva sem bússola que dê clareza e dignidade às personagens que interpretam). Definitivamente, também Hollywood foi contagiada pela silly season.

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