terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um livro para o verão: "Em Parte Incerta" - de Gillian Flynn

A literatura contemporânea assume contornos comerciais que, em nome da competitividade entre editoras e do combate à crise económica, levam a valorizar o embrulho - leia-se: o marketing - em detrimento do conteúdo. Este vai empobrecendo à medida que autores como Dan Brown e Nora Roberts dominam o mercado livreiro. No meio destes engodos surgem alguns livros e autores que facilmente são confundidos com produtos industriais e superficiais. Este pode ser o caso do romance "Em Parte Incerta", de Gillian Flynn, escritora norte-americana que, em boa verdade, é uma das maiores revelações da literatura do início do século XXI. 

Trata-se a referida obra de um thriller negro, densamente psicanalítico sobre os segredos e mentiras de um casal, que se torna profundamente perturbador por descobrirmos naquele marido e naquela mulher talvez o retrato cru e sem piedade do modelo familiar da classe média na civilização ocidental deste século. Começamos a leitura do romance por acreditar em Amy (a mulher) e terminamos a torcer por Nick por nos identificarmos com a sua frágil humanidade. 

Há, de algum modo, na novela de Lynn uma fria análise da emancipação feminina e das suas consequências na estabilidade da grupo familiar tradicional. Mas, sendo o autor uma mulher, não encontramos por aqui qualquer visão sociológica que se possa designar como machista. E isso torna o romance ainda mais interessante e intrigante.

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