
Nem sempre o cinema trata com justeza a infância, optando por filmar crianças como se estas fossem pequenos adultos. Claro que se trata de uma estratégia comercial que pretende enternecer o público, surpreendido com a maturidade e crescimento interior dos petizes. Mas, como diz o outro, "deixem as crianças ser crianças"! Ora, é isso mesmo que Spike Jonze faz na sua última película, "O Sítio das Coisas Selvagens", fita protagonizada por uma criança real, que vive um conflito emocional resultado do vazio deixado pela separação dos pais.
Max é um menino de 9 anos que se sente rejeitado pela mãe e pela irmã, por nenhuma lhe dar a atenção que necessita. Após uma intensa discussão, a mãe manda-o ficar de castigo no quarto. O filho, sentindo-se revoltado e incompreendido, acaba por mordê-la e fugir para longe. Na escuridão da noite, depois de muito correr, Max encontra um pequeno barco à vela. Lançando-se ao mar alto, a corrente leva-o para uma ilha praticamente deserta, onde sete monstros imaginários (as Coisas Selvagens do título) o elevam a rei.
O filme adapta uma obra de Maurice Sendak, dando-lhe espessura cinematográfica e comprovando que, a partir de um livro, é possível construir um argumento com vista a criar um outro objecto, que vá além do material que lhe serve de base e, ainda assim, seja capaz de motivar o espectador para a sua leitura. É este, definitivamente, o caso de "O Sítio das Coisas Selvagens", uma das melhores surpresas do novo ano a estrear em salas nacionais. A infância reencontrou, finalmente, a sétima arte num filme lindíssimo e o mérito é todo de Spike Jonze. Ah! E vale a pena prestar atenção à deliciosa banda sonora original.
Trailer de "O Sítio das Coisas Selvagens", de Spike Jonze
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