
O segundo tomo da trilogia Millennium - "A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo" - é uma obra única que, juntamente com "Os homens que odeiam as mulheres" (primeira parte da saga), com certeza se tornará incontornável para perceber o modo como a tecnologia alterou a nossa percepção do real humano e social na primeira década do século XXI.
O mérito é todo do malogrado Stieg Larsson (1954-2004) que foi capaz de criar um projecto literário singular, a começar nos títulos insólitos dos três livros (o último chama-se "A rainha no palácio das correntes de ar"), analisando com minúcia novas formas de violência (a começar pela pressão e manipulação dos mass media), o tráfico de mulheres, os movimentos de extrema-direita, o vazio retórico que se instalou nas democracias ocidentais, as falhas das comissões de protecção de menores em risco, o discurso das ciências comportamentais, os piratas informáticos, o poder do jornalismo de investigação... E muito mais se poderá encontrar na obra de Larsson, definitivamente um escritor maior que, infelizmente, não chegou a assistir ao sucesso crítico e de público alcançado pela sua trilogia.
Será Lisbeth Salander (a estranha protagonista da saga) a grande heroína da presente década?
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