terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Banda sonora para o outono (23)

José Cid acaba de lançar o álbum "Quem tem medo de baladas". Esperemos que seja o mote para a definitiva reconciliação da crítica com um dos mais brilhantes compositores nacionais.

Em boa verdade, foi um longo e acidentado caminho desde os tempos do Quarteto 1111 (para quem não sabe, foi talvez a melhor banda rock cá do burgo entre as décadas de 60 e 70 do século passado) até ao disco de que agora se fala. Pelo meio, aconteceu o surpreendente disco "10.000 anos depois entre Vénus e Marte" (1978), um marco na história do rock progressivo, que viria mais tarde a obter reconhecimento internacional, sendo incluído numa lista da Billboard dos 100 melhores álbuns desse tão inovador género musical. Como este multifacetado músico conciliou este disco com a participação em inúmeros festivais da canção será tema para uma merecida e exaustiva biografia, a ser lançada, quiçá, um dia.

"Quem tem medo de baladas" é um grande disco para este fim de outono, capaz de desfazer qualquer dúvida dos melómanos mais céticos em relação ao cantautor. Senão vejamos: tem a participação de Os Corvos (na canção de abertura, "Tocas Piano"), composições de Gary Brooker (o poético "Cavalos de Fão"), António Carlos Jobim (o clássico "Discussão"), Vitorino (a popular "Bárbara dos Trovões"), Donovan (o saudavelmente destrambelhado "Mellow Yellow") e do próprio José Cid (de resto, a maioria dos temas são assinados pelo próprio artista); as letras são do autor do clássico "20 anos", mas também resultam de poemas de Sophia de Mello Breyner (o inspiradíssimo "Um dia") e de Ana Sofia Cid (que aqui se estreia num dueto com o pai em "Tempestades"). Cereja no topo do bolo: "Quem tem medo de baladas" termina com um medley, simbolicamente intitulado "Canções de sempre" - designação que só um artista (com "A" maiúsculo) como Cid se pode dar ao luxo (e arrogância!) de advogar. Aos 69 anos, não precisa de provar nada ao país - as suas canções falam por si e ficarão para sempre.

José Cid - "Um louco amor"

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