sábado, 15 de setembro de 2012

Ecologia e crise

A falta de visão de conjunto, a incapacidade de articular as diferentes escalas dos problemas, as diferentes agendas das dificuldades, que são as queixas mais frequentes aos processos de decisão política em curso, estão também a ocorrer no domínio da crise ambiental que estamos a atravessar e a propagar de forma irremediável.

Em boa verdade, estamos contínuamente a quebrar os elos, a eliminar conexões e as relações com o resto da Natureza, tornando-os cada vez mais precários. Vamos, como espécie, devorando o planeta Terra, como se ele fosse um mero armazém, e não o nicho, o corpo, o berço, onde a identidade humana ganha contorno, realidade e possibilidade de duração. A religião do crescimento prega a intensificação da perda desses laços e a vitória do olhar de armazenista sobre qualquer outro. Um armazenista que delapida, não que entesoura e preserva. Crescer significa consumir, significa intensificar o ritmo da devastação, do cortar de laços com todos os outros (espécies diferentes, povos ou populações mais frágeis), de aumentar mais e mais a pegada humana, de acentuar desmesuradamente a apropriação do mundo pela pilhagem devoradora, como ontem o fizemos pelo sangue, suor e lágrimas.

E esta devastação, deve causar-nos pena ou revolta? Talvez ambas as coisas, pois a sua natureza moral é aparentemente evidente. Mas, sobretudo, deve causar pena, pois o que está em causa mais do que um crime é um erro. E o erro remete sempre para uma mente embutida, ignorante, enviesada. As organizações, os Estados, os partidos e as empresas conseguem ser ainda mais egoístas, mais errados, mais idiotas do que os indivíduos. À sucessão das suas decisões, surpreendentemente destituídas de sensatez, chamamos História, ou, como disse um dia Konrad Adenauer, "a soma das coisas que poderiam ter sido evitadas...".

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