O universo da ficção científica tem, por norma, um subtexto que metaforiza a realidade. No cinema, à semelhança da literatura, são muitos os exemplos de obras maiores que, para além de reflectirem acerca do tempo presente, apresentam a visão de um futuro provável. "2001 - Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick, "Blade Runner - Perigo Iminente", de Ridley Scott, "AI - Inteligência Artificial" e "Relatório Minoritário", ambos de Steven Spielberg, são apenas algumas das obras-primas inscritas em celulóide que, de resto, beberam a sua inspiração em grandes obras da literatura sci-fi.
Vem esta introdução a propósito de "District 9", filme produzido por Peter Jackson e realizado pelo jovem cineasta sul-africano, Neill Blomkamp. A acção situa-se precisamente na África do Sul, em 2009, tendo já passado vinte anos desde que vida extraterrestre caiu em Joanesburgo e a presença destes estranhos visitantes tornou-se parte do dia-a-dia da grande cidade. No entanto, humanos e alienígenas não convivem em harmonia. Estes últimos foram empurrados para guetos, estando agora confinados ao Distrito 9, controlado pela sinistra organização Multi-National United (MNU), uma empresa privada que está interessada em usar os aliens para a sua pesquisa em armamento. Os ET's passam a estar totalmente impedidos de se juntar em grupos, viajar, receber assistência médica ou aproximarem-se dos humanos.
A realização é dinâmica, sentindo-se a garra de um cineasta genuinamente empenhado em criar um filme distinto. Este é, aliás, o aspecto mais marcante do estilo narrativo da película: na opção pela recriação de um (falso) documentário, Blomkamp não procura imitar os blockbusters de Hollywood, antes pretendendo percorrer um caminho divergente e colar o filme ao cinema indie. Os primeiros minutos de "District 9" são, a este nível, exemplares ao tentarem credibilizar a história através do hiper-realismo proporcionado pela estética da reportagem televisiva, que aqui funciona como dispositivo que introduz com eficácia o problema que dá sentido à fita. Por outro lado, a escolha de Joanesburgo não parece ser fortuita, uma vez que Neil Blomkamp claramente transfigura no filme o regime de apartheid que vigorou até aos anos 90 do século passado no país do extremo sul do continente negro.
Não chega a ser uma obra-prima, mas é um filme inteligente e garante momentos de pura adrenalina.
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