sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Os Substitutos" - tratado acerca da humanidade


Jonathan Mostow foi o autor do mal-amado "Exterminador Implacável 3: Ascensão das Máquinas", apesar de ser, na minha opinião, a única parte que recupera a força instintiva do primeiro filme realizado por James Cameron. É urgente, portanto, a sua reavaliação, sobretudo agora que acaba de estrear "Os Substitutos", a nova obra de Mostow.

O tema é semelhante e as questões por ele levantadas retomam a reflexão em torno da dialéctica homem-máquina. A acção decorre em 2054 numa sociedade utópica, onde os seres humanos vivem a vida remotamente, no conforto das suas casas, através de robôs substitutos, fisicamente perfeitos, quais representações mecânicas de si próprios. É um mundo ideal, onde o crime, a dor, o medo e as consequências das acções existem apenas virtualmente. Quando várias réplicas são assassinadas, cabe a uma dupla de polícias investigar o sucedido através do seu próprio substituto mecanizado. No entanto, os eventos que se sucedem acabam por forçar um deles a abandonar o isolamento artificial em que vivia para desvendar toda a teia conspirativa por detrás dos crimes. E é precisamente aqui que a película ganha um novo fôlego: à medida que vai desvendando o mistério, o personagem principal (Bruce Willis no seu habitual registo de underacting) começa a revoltar-se contra a realidade, até que é obrigado a deslocar-se para o mundo real com o seu corpo real.

Transmutação dos corpos, ontologia platónica, real-artificial, reflexão com contornos éticos, sci-fi em estado puro, "Os Substitutos" mata as saudades que tinhamos das grandes obras do cinema futurista e, à semelhança de "Blade Runner" de Ridley Scott, "O Homem Bicentenário" de Chris Columbus, "Eu, Robot" de Axel Proyas, "Reporter Minoritário" e "Inteligência Artificial", ambos de Steven Spielberg, ocupará, com certeza, lugar de destaque na moderna cinematografia norte-americana.

Trailer do filme "Os Substitutos", de Jonathan Mostow

Sem comentários:

Enviar um comentário

Breves notas sobre o cinema de Wong Kar Wai (6) - "Disponível Para Amar" (2000)

E, no ano da graça de 2000, Wong Kar Wai alcançou o zénite da sua (sétima) arte com a obra-prima Disponível Para Amar . É (mais) uma históri...