domingo, 11 de outubro de 2009

Escola a Tempo Inteiro - para quê?


As crianças passam demasiado tempo na escola - parece ser esta a opinião (que, de resto, subscrevo inteiramente) de Maria José Araújo, autora do livro "Crianças Ocupadas", obra lançada ontem numa livraria do Porto.

A desenvolver um trabalho de investigação sobre questões levantadas pelo conceito de Escola a Tempo Inteiro e as Actividades de Enriquecimento Curricular, Maria José Araújo considera que “as crianças estão muito ocupadas, têm muitos trabalhos e actividades para fazer todos os dias”, ficando sem tempo para brincar.

“Essas actividades podiam ser brincar, mas são sempre em função da escola”, sublinha, acrescentando que “os pais têm uma preocupação muito excessiva em relação ao tempo escolar”.

A investigadora ressalva que escola a tempo inteiro é uma medida óptima, mas as crianças deviam fazer as actividades que elas pudessem escolher. “A grande questão não é só a quantidade de actividades que fazem, mas o facto da metodologia prevalecente nessas actividades ser sempre orientada pelos adultos e elas nunca poderem escolher. São aulas atrás das aulas”, sustenta.

Para Maria José Araújo, é preciso “repensar o modelo da escola”. “Este modelo não pode continuar porque as crianças não aguentam”, realçou.

No livro, a autora, que trabalha há 19 anos com crianças, tenta responder às seguintes perguntas: “Fará sentido que, na sociedade contemporânea, as crianças trabalhem mais do que as 40 horas que achamos razoáveis para os adultos? Fará sentido prolongar de tal modo as suas ocupações que não lhes deixamos tempo para brincar e descansar? Será que temos o direito de ocupar e condicionar o tempo livre das crianças depois de um dia de Escola?".

“A angústia dos pais para que as crianças trabalhem muito para ser alguém, como se as crianças não fossem já hoje alguém, pode comprometer tanto o seu presente como o seu futuro”, sublinha.

Maria José Araújo explica que este livro é, sobretudo, o “resultado de muitos anos de trabalho com crianças e adultos, de muita brincadeira com ambos e de muita preocupação colectiva sobre as consequências negativas que resultam do excesso de trabalho e de actividade organizada para os mais pequenos”.

É, fundamentalmente, um alerta para a questão dos direitos das crianças. "Sobre as crianças aprendi mais com elas do que com os adultos ou com os livros", remata.

O livro "Crianças Ocupadas", de Maria José Araújo e editado pela Prime Books, foi lançado sábado, pelas 18:00, na Livraria Salta Folhinhas, no Porto.

A apresentação ficou a cargo de Agostinho Ribeiro, professor jubilado da Universidade do Porto, e Dulce Guimarães, da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Porto Oriente e da Associação de Ludotecas do Porto.

Fonte: Agência Lusa (09 de Outubro de 2009)

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