A
propósito dos contos de Silvina Ocampo, Jorge Luís Borges fez notar que, neles,
há uma particularidade difícil de compreender, a saber: “o seu estranho amor
por uma certa crueldade inocente ou oblíqua”. O incontornável autor argentino
atribuía essa singularidade “ao interesse, o interesse atónito que o mal
inspira numa alma nobre”.
Na
verdade, tal como nos contos de Borges, tudo coabita no universo elegíaco de
Silvina Ocampo: vidas enredadas na ficção, traições ardentes e vinganças
geladas, espelhos ou sonhos que refletem fantasmas de carne e osso; o quotidiano
banal que se faz mágico, fruto de agoiros e presságios, ora bons ora maus. A unir
a maioria dos contos de Os Dias da Noite (editado em Portugal pela
Livraria Snob) está sempre a infância, essa etapa dada ao fantástico, mas que
Ocampo também vê como propensa para a crueldade. A infância como a fina fissura
entre inocência e perversão.
A
Fúria e outros contos e Os Dias da
Noite constituem-se como leituras urgentes de uma escritora a
(re)descobrir.
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