quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Contos de Silvina Ocampo (2) - "Os Dias da Noite"

A propósito dos contos de Silvina Ocampo, Jorge Luís Borges fez notar que, neles, há uma particularidade difícil de compreender, a saber: “o seu estranho amor por uma certa crueldade inocente ou oblíqua”. O incontornável autor argentino atribuía essa singularidade “ao interesse, o interesse atónito que o mal inspira numa alma nobre”.

Na verdade, tal como nos contos de Borges, tudo coabita no universo elegíaco de Silvina Ocampo: vidas enredadas na ficção, traições ardentes e vinganças geladas, espelhos ou sonhos que refletem fantasmas de carne e osso; o quotidiano banal que se faz mágico, fruto de agoiros e presságios, ora bons ora maus. A unir a maioria dos contos de Os Dias da Noite (editado em Portugal pela Livraria Snob) está sempre a infância, essa etapa dada ao fantástico, mas que Ocampo também vê como propensa para a crueldade. A infância como a fina fissura entre inocência e perversão.

A Fúria e outros contos e Os Dias da Noite constituem-se como leituras urgentes de uma escritora a (re)descobrir.

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