Para
muitos, Annie Ernaux talvez seja maior descoberta literária de 2022. No entanto,
apesar da postura discreta, a escritora já há muito que é, sobretudo em França,
um nome prestigiado das letras. A sua obra é pioneira num registo que vem sendo
designado como autoficção, embora na entrevista que deu ao Expresso
(publicada na edição do último fim de semana) a autora considere mais ajustado
o termo cru e direto ao osso – biografia.
Um
dos seus livros mais conhecidos é, precisamente, Uma Paixão Simples (editada em Portugal pela Livros do Brasil),
que, em 2020, foi adaptado ao grande ecrã por Danielle Arbid, tendo obtido a
honra de integrar a seleção oficial de Festival de Cannes desse ano.
Se
quisermos identificar um bom exemplo de narrativas que, em mãos capazes,
funcionam da melhor forma em livro mas não em cinema, Uma Paixão Simples
será uma escolha adequada.
Conta
a história de uma professora universitária que se envolve romanticamente com um
enigmático diplomata russo (e, já agora, fervoroso admirador de Putin).
Imagino
que um mestre como Wong Kar Wai faria de tal material narrativo (que, como o
título indica, é bem simples) um grande melodrama, mas não é o cineasta de
Hong Kong quem quer. Por isso, enquanto cinéfilos, ficaremos infinitamente
melhor servidos revendo a obra seminal de Kar Wai, Disponível Para Amar.
Uma
nota positiva para o bom trabalho dos atores e para a excelente banda sonora. Contudo,
estes são pormenores que não bastam para salvar o filme do imenso vazio a que
se entrega.
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