segunda-feira, 3 de agosto de 2009

"Crepúsculo" - a irreversibilidade do amor


Catherine Hardwicke já nos tinha dado provas dos seus méritos como realizadora na delicada releitura da natividade em "O Nascimento de Cristo", mas com "Crepúsculo" afirma-se definitivamente como uma cineasta a ter em conta. O brilhantismo formal deste último filme é verdadeiramente notável e supera a grande maioria das películas produzidas pelas majors de Hollywood.

Adaptação da primeira parte de uma notável tetralogia literária ("Luz e Escuridão") da escritora norte-americana Stephenie Meyer, o filme, tal como o livro, só aparentemente se dirige exclusivamente ao público teenager. Desenganem-se os mais cépticos: "Crepúsculo" é uma obra maior que, revestida pelo género fantástico, reinventa o melodrama clássico - género cinematográfico responsável por algumas das maiores obras-primas do cinema de Hollywood entre as décadas de 30 e 60. É até possível encontrar muitos paralelismos formais entre "Crepúsculo" e "Esplendor na Relva", de Elia Kazan (atente-se ao modo como os dois cineastas filmam a relação dos pares românticos em ambos os filmes).

Bella Swan é uma jovem de 17 anos que decide ir viver com o pai na pequena cidade de Forks, no Estado de Washington. Esperando levar uma vida pacata e monótona, apaixona-se por Edward Cullen, um misterioso colega da escola. Mas esta seria uma relação banal se Edward não tivesse uma distinta característica: ele é um vampiro.

Trata-se, fundamentalmente, de uma história de amor intenso e avassalador que possibilita diversas leituras, e em que as escolhas que os personagens fazem terão consequências irreversíveis. Interessa a Catherine Hardwicke contar essa história, pelo que coloca sempre a câmara ao serviço dos personagens, nunca se sobrepondo a eles.

Destaque também para a belíssima direcção de fotografia, a cargo de Elliot Davis, e para a excelência dos actores principais, Kristen Stewart e Robert Pattinson, ambos num registo sóbrio e contido como há muito não se via no cinema americano protagonizado por adolescentes.

Aproveito, já agora, para recomendar a leitura do livro que serve de base ao filme e no qual Stephenie Meyer reinventou as histórias de vampiros. Que não restem dúvidas: é literatura em estado puro, ou não tivesse como matriz inspiradora o "Drácula" de Bram Stoker.

Trailer de "Crepúsculo", de Catherine Hardwicke


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